Estados Unidos Ainda Não Veem o
Brasil como um Ator Global.
Laryssa Almeida*
Brasil e Estados Unidos
mantêm uma antiga e extensa relação econômica, política e social; e essas
relações conheceram períodos de aproximação e distanciamento. Atualmente, o
Brasil busca a construção de uma agenda cooperativa com os Estados Unidos,
mesmo que a interação entre os dois países oscile entre um diálogo amistoso e
uma indiferença sutil.
De um lado, pensadores brasileiros que veem o país do
presidente Barack Obama como um modelo de ação e pensamento a ser seguido. De
outro, os que veem os Estados Unidos como uma potência que cerceia as
aspirações desenvolvimentistas de povos emergentes como o Brasil. Seguindo essa
linha de raciocínio, Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American
Dialogue, disse, em entrevista ao The New York Times, que, sim, os Estados
Unidos veem o Brasil como o país mais importante da América Latina, no entanto,
não como um poder global.
Em sua primeira visita oficial aos
Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff teve como prioridade na sua agenda
de compromissos temas relacionados a comércio, energia, investimentos,
cooperação educacional e ciência e tecnologia. A visita consistiu em mais um
passo no processo de reaproximação entre os dois países. No entanto, temas que,
a princípio, eram apontados como possíveis entre Dilma e Obama – como uma vaga
permanente do Brasil no conselho de segurança da ONU e o programa
nuclear do Irã – acabaram não sendo discutidos, o que reforça o sentimento de
que os Estados Unidos não dá a devida importância para o Brasil no âmbito das
questões globais.
De fato,
sabe-se que parte do descontentamento americano com o Brasil vem do excessivo
viés kantiano da tomada de decisão em política externa brasileira. Por exemplo,
certas políticas decisórias do governo Lula fizeram com que as relações
diplomáticas do Brasil com os Estados Unidos ficassem à deriva, entre elas, o
esboço de um acordo nuclear do ex-presidente brasileiro com o Irã. Por isso, o
encontro entre Dilma Rousseff e Barack Obama foi importante para que houvesse a
retomada de uma confiança mútua que acalorasse a antiga parceria estratégica –
que é ampla, porém superficial – entre os dois países.
Num primeiro
momento, alterações substanciais na relação bilateral do Brasil com os Estados
Unidos não eram previstas depois da viagem da presidente Dilma Rousseff. Os
dois países deviam encontrar uma conexão comum entre os seus interesses. O
ministro das relações exteriores, Antonio Patriota, disse que “O Brasil
acredita em diplomacia, igualdade e tolerância”. Acontece que os
norte-americanos esperam do Brasil, especialmente com a presidente Dilma
Rousseff, mais pragmatismo. A ausência dessa conexão entre os dois países entra
no debate ao reconhecimento do papel global do Brasil.
Por outro
lado, parte do silêncio mantido entre os dois presidentes diante das questões
globais foi preenchido com a visita da secretária de Estado americana ao
Brasil, poucos dias depois da visita da presidente Dilma aos EUA. Durante a
visita de dois dias, Hillary Clinton se reuniu com o ministro das relações
exteriores do Brasil para discutir questões de política externa, sobre temas
globais e desafios da atualidade; além disso, participou da 3ª Reunião do
Diálogo de Parceria Global Brasil-EUA, encontro anual, criado em 2010, que
promove a coordenação bilateral em diversas áreas. Durante seu discurso,
Hillary disse que “É difícil imaginar, no futuro, o Conselho de Segurança da
ONU sem incluir um país como o Brasil, com todo o seu progresso e modelo de
democracia”, renovando as esperanças brasileiras.
Por fim e,
ainda assim, permanecem dúvidas quanto ao não reconhecimento do Brasil como um
ator global pelos Estados Unidos. Um artigo da revista inglesa The Economist intitulado
“One Step at a Time: Two American Giants
are Slowly Getting to Know Each Other” (Um Passo de Cada Vez: Dois Gigantes
Americanos Estão, aos Poucos, se Conhecendo; em tradução livre) diz que a
cooperação entre os dois países tende a crescer ainda mais agora que a
presidente Dilma e o presidente Obama encontraram campos comuns para tratar de
assuntos importantes. Reforçando a ideia de que os Estados Unidos permanecerão
com a guarda alta até que o Brasil tenha “uma política externa clara”.
* É aluna do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília.
Essa moça tem potencial. Com o tempo e conhecimento pode se tornar uma grande analista.
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