Por Thiago Gehre[1]
Os problemas venezuelanos são
típicos de um país latino-americano que tem sido mal administrado há muitos
anos. Nos governos anteriores ao de Hugo Chávez se vivia em piores condições
sociais. A diferença é que Chávez decidiu utilizar parcela da renda do petróleo
para políticas sociais e também para beneficiar outros países da região,
especialmente do Caribe e América Central.
Vale lembrar que Carlos André Perez (CAP) foi impedido
de governar por acusações de corrupção, outra mazela da cultura política
global. Corrupção é pandêmica e espalhou-se por todo o mundo, só que é mais
acentuada em países cujas instituições são mais frágeis. Como típico governante
latino é precisa fazer escolhas que agradem tanto o seu grupo de apoio político
quanto a população, e que te garantam no poder o máximo de tempo possível.
Esse foi o ponto crucial da gestão de
Hugo Chávez: juntar dois projetos, um pessoal que o deixou por 13 anos no poder
e o deixaria por mais seis, caso não viesse a falecer; e um projeto de país, de
transformação da realidade social e fortalecimento do estado.
É preciso recordar que durante a
década de vigência do neoliberalismo irrestrito e nocivo de Margaret Tachter e
Ronald Reagan, e que contaminou a administração pública na América Latina,
houve um claro enfraquecimento do estado.
Logo, a junção dos projetos pessoal
e de pais sustentou Chávez por mais de uma década, sendo algo que não se via há
muito tempo na região e com pouquíssimos exemplos dentre as lideranças
mundiais. Assim, os problemas deixados como herança para Nicolás Maduro serão
conjunturais e relativamente de fácil trato, no curto e médio prazos. Basta que
se tenham condições de governabilidade baseadas nas leis e nas instituições.
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[1] Thiago Gehre é Doutor em Relações
Internacionais e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o IREL-UnB.
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