MEARSHEIMER,
John J. Por que os líderes mentem:
toda a verdade sobre as mentiras na política internacional. Rio de Janeiro:
Zahar, 2012.
John
J. Mearsheimer é professor de ciência política e codiretor do Programa em
Política de Segurança Internacional na Universidade de Chicago. Segue a
perspectiva realista das Relações Internacionais em todas as suas obras. Teve inúmeros artigos publicados
em diversas revistas acadêmicas e em veículos de grande público, como New York Times, Chicago Tribune e London
Review of Books. É autor de A
tragédia política das grandes potências, vencedor do Joseph Lepgold Book
Prize e coautor de The Israel Lobby and
U.S. Foreign Policy.
Mearsheimer analisa em sua obra o
engano como ferramenta essencial na política internacional. E, não mais
surpreendente do que desvendar as mais variadas e comuns formas de engano
político, ele nos apresenta uma informação ainda mais surpreendente: os Estados
não mentem tanto entre si como mentem para o próprio povo. Primeiro,
distingue-se as diferentes modalidades de engano, que são três: a mentira, que
é quando se inventa informações; a torção, que é quando se distorce uma
informação, dando-se ênfase na que lhe convier e a omissão, que é quando não se
conta uma verdade completa, selecionando-se as informações a serem repassadas. Já
na política internacional, se encontrou pelo menos sete modalidades de blefe
internacional: a mentira interestados, difusão do medo, acobertamentos
estratégicos, mitificação nacionalista, mentiras liberais, imperialismo social
e acobertamentos deploráveis. Dentre os sete, Mearsheimer explica apenas os
cinco primeiros, os quais ele considera de maior relevância.
A mentira interestados ocorre entre as nações e geralmente é
utilizado apenas como último recurso em casos específicos. A consequência de um Estado mentir variadas vezes é que
isso pode por em xeque sua sobrevivência internacional e mais: quando ele falar
a verdade, não será ouvido e poderá até mesmo ser marginalizados pelos demais
membros nas relações internacionais e ter sua história e conduta manchada pelo
deslize ao ser pego. A difusão do medo
ocorre para o povo quando, por muitas vezes, os representantes políticos acham
que seus civis não estão tão sensibilizados a perceberem uma ameaça que está se
espalhando ou um perigo iminente.
Tais representantes aumentam o tamanho do
perigo da ameaça, tornando-a assustadoramente ameaçadora para conseguirem o
apoio político do povo sobre determinadas ações, principalmente aquelas que
envolvem o uso da força. Uma consequência da difusão do medo é o descontrole
sobre a torção feita aos próprios cidadãos, que pode romper as fronteiras e
causar instabilidade e desconfiança internacionais. O acobertamento estratégico acontece para o povo, quando há uma
incompetência dos entes políticos internos e que tal assunto possa por em xeque
a calmaria interna. Assim sendo, o acobertamento pode também ter reflexos
externos para mostrar que internamente tudo ocorre bem e que não há
incompetência e ineficiência para impedir atos de ingerência.
A consequência do acobertamento é que os
profissionais incompetentes por vezes não são responsabilizados por sua
ineficiência e podem até mesmo a continuar o exercício da profissão. O mito nacionalista muitas vezes é
influenciado pelo ambiente externo e acontece quando um determinado Estado
tenta modificar algumas passagens em sua “história de vida”. Estados mais
antigos tem mais facilidade de fazê-lo devido à sua antiguidade enquanto
Estados mais recentes tem dificuldade, por ter suas informações reconhecidas de
tão novo que é. Ele aparece para engrandecer o Estado em determinado segmento e
ocorre geralmente para o povo e para o meio externo; é mais uma torção da
realidade do que uma mentira em si. A consequência disso é o autoengano, onde
os próprios condutores de tal podem acabar confundindo o real pelo ilusório
criado por eles mesmos. E por fim, as mentiras
liberais, que mascaram do povo o que se está fazendo de errado ou cruel,
mas não somente do povo de um determinado e único estado, mas da sociedade
civil internacional.
As mentiras, para o autor, que
envolvem o engano dos nacionais – difusão do medo e acobertamento estratégico –
são tidas como as mais perigosas, por envolver uma reprovação civil. Porém, Mearsheimer
chega à conclusão de que as mentiras estatais são perdoáveis quando elas
alcançam o objetivo pelas quais foram formuladas. Sendo que seu uso é mais
comum em tempos de guerra com o objetivo de proteger os cidadãos e enganar o
inimigo.
Por
Mara Regina dos Santos Ribeiro
Discente
de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília
Parabéns pela resenha Mara Regina! Aprimore o esforço e mantenha o gosto pelas coisas internacionais e sua sutileza.
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirsugiro a leitura da resenha de minha autoria publicada na revista mural internacional;
http://www.muralinternacional.uerj.br/revista.php?id=8&edi=1