Nos EUA, Obama pode virar um "pato manco" no fim do ano. Na Índia, maior eleição do mundo deve ter 788 milhões de votantes
Por José Antonio Lima
Rahul Gandhi, número dois o Congresso Nacional Indiano, deve ser o candidato do partido para o posto de premier da Índia
Depois de um ano em que Angela Merkel reafirmou seu
poder na Alemanha e a eleição presidencial do Irã criou uma chance de
pacificar uma das várias crises no Oriente Médio, outros pleitos podem
afetar os rumos do mundo em 2014.
Três dos quatro países mais populosos do planeta vão às urnas neste ano. Na Índia, a corrupção deve ser o tema central da escolha do novo primeiro-ministro. Nos
EUA, as eleições legislativas de meio de mandato vão acirrar ainda mais
a rivalidade entre democratas e republicanos e afetar o mandato de
Barack Obama. Na Indonésia, maior país muçulmano do mundo, um novo
presidente tentará colocar a economia no rumo certo.
Na América Latina, a Colômbia vai se mostrar dividida entre o
atual presidente, Juan Manuel Santos, e seu antecessor, Álvaro Uribe,
enquanto no Uruguai José Mujica deve fazer seu sucessor. Na
África, a Líbia tenta estabelecer as bases de uma inédita democracia em
um país de maioria árabe, enquanto a África do Sul tenta consolidar seu
regime democrático. Na União Europeia, o Parlamento
Europeu terá uma nova configuração, que pode trazer à tona alguns dos
lados mais horrendos do bloco.
Abaixo, os oito principais pleitos do ano. As eleições
legislativas e presidenciais do Brasil não entram na lista pois são,
obviamente, as mais importantes para o brasileiro.
1) Estados Unidos – eleição legislativa
Depois de um 2013 em que o Congresso dos Estados Unidos teve seu ano
mais inoperante desde a década de 1940, 2014 deve ser ainda pior.
Engajados em uma disputa ideológica com contornos quase existenciais,
republicanos e democratas devem passar os próximos meses se digladiando
acerca de temas controversos, como o controle do porte de armas e a
reforma no sistema de imigração, sem chegar a um acordo a respeito
deles.
Isso
porque nos próximos meses os parlamentares devem continuar a defender
ideias radicais na tentativa de garantir os votos de seus eleitores para
o pleito de novembro. As eleições, conhecidas como de meio de mandato,
devem afetar duramente a administração Barack Obama, que depois disso
terá ainda mais dois anos para completar seu mandato. Se depois de
novembro o presidente democrata se deparar com um Congresso dominado por
republicanos, será desde então um presidente “pato manco”, incapaz de
realizar reformas que mudem os rumos do país.
2) União Europeia – eleição parlamentar
Entre 22 e 25 de maio os eleitores dos 22 países da União Europeia
vão às urnas escolher os novos integrantes do Parlamento Europeu.
Tradicionalmente, essas eleições costumam servir para os eleitores
expressarem sua insatisfação com a UE, vista cada vez mais pelo eleitor
comum como um antro de burocratas desconectados da realidade de um
continente abalado pela crescente desigualdade social e por altos
índices de desemprego.
Este contexto pode fazer com que candidatos extremistas (à esquerda
e, principalmente, à direita) recebam muitos votos e ganhem palanque
para divulgar suas ideias radicais. O possível radicalismo do Parlamento
Europeu pode criar instabilidade, pois a partir deste ano o legislativo
deve eleger o presidente da Comissão Europeia, cargo que em tese serve
como o “Executivo” da UE. Ocorre que muitos governos nacionais, como o
da Alemanha, exigem que a escolha seja aprovada por eles. Assim, um
parlamento europeu radical poderia colocar a EU em pé-de-guerra com os
governos nacionais e ampliar a desilusão dos eleitores com o projeto de
integração.
3) Índia – eleição geral
A maior democracia do mundo, com cerca de 788 milhões de eleitores,
vai às urnas no primeiro semestre de 2014, obrigatoriamente antes de 31
de maio. Manmohan Singh, primeiro-ministro desde 2004, anunciou em 3 de
janeiro que não estará à frente de seu partido, o Congresso Nacional
Indiano, nas eleições. Essa missão deve caber a Rahul Gandhi (sem
relação com o líder pacifista Mahatma Gandhi), cuja família controla o
partido há décadas e busca agora livrar a legenda da imagem de corrupta
adquirida nos últimos anos.
O grande adversário do Congresso Nacional Indiano será o partido
Bhartiya Janata, comandado pelo líder nacionalista Narendra Modi e que
conseguiu importantes vitórias em recentes eleições regionais.
Outra força importante nas eleições deve ser o partido Aam Aadmi,
liderado por Arvind Kejriwal e fundado sobre uma plataforma
anticorrupção. Criado em 2012, o partido obteve o segundo lugar nas
eleições de Nova Déli, a capital da Índia, resultado que catapultou a
legenda para o cenário nacional.
4) Colômbia – eleição geral
Em março, os colombianos elegem um novo Congresso. Dois meses depois,
voltam às urnas para o pleito presidencial. Juntas, as duas eleições
devem institucionalizar a polarização política que configura o cenário
colombiano nos últimos anos.
A estrela das eleições legislativas deve ser o ex-presidente Álvaro
Uribe, linha-dura que se opõe ao acordo de paz com os guerrilheiros das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Uribe vai encabeçar a lista
de senadores de seu partido e deve ser eleito com facilidade. No pleito
presidencial, Juan Manual Santos, candidato da coalizão Unidade
Nacional, buscará a reeleição e é o favorito. O candidato presidencial
de Uribe deve ser o ex-ministro da Fazenda Óscar Iván Zuluaga, que por
enquanto parece ter poucas chances.
5) África do Sul – eleições gerais
Em 2014, pela quinta vez desde o fim do regime segregacionista do
Apartheid e pela primeira vez após a morte de Nelson Mandela, a África
do Sul vai às urnas escolher um novo Parlamento e um novo presidente. O
Congresso Nacional Africano, o partido de Mandela, é liderado pelo atual
presidente do país, Jacob Zuma, um líder controverso que aposta na
história do partido para superar as denúncias de corrupção e o aumento
da desigualdade social para se reeleger.
O domínio do CNA sobre a política sul-africana, entretanto, não é
mais uma certeza. O principal adversário do partido deve continuar a ser
a Aliança Democrática, fundada a partir da luta dos brancos contra o
Apartheid e liderada pela ex-prefeita da Cidade do Cabo Helen Zille.
Ataques duros ao CNA devem partir do Guerreiros da Liberdade Econômica,
sigla formada por Julius Malema, ex-líder da Juventude do CNA. Outros
partidos fundados por ativistas anti-Apartheid, como o Agang e o África
do Sul em Primeiro Lugar, podem surpreender e romper com o domínio do
partido de Mandela.
A África do Sul é observada de perto pois apesar de todos os seus
problemas é um raro bastião de democracia no continente africano.
6) Líbia - eleição constituinte
Em fevereiro, os líbios escolhem 60 representantes da Assembleia
Constituinte, grupo que terá a missão de criar o documento base do país.
A tarefa não será fácil, pois será preciso conciliar os interesses das
três províncias que formam o país (Tripolitânia, Cirenaica e Fezan) além
das diversas minorias líbias.
O trabalho constituinte será supervisionado pelo Congresso Nacional
Geral, instância máxima política da Líbia, que em dezembro estendeu seu
próprio mandato por mais um ano. A extensão foi necessária pois o
Congresso interino não conseguiu cumprir sua escala de trabalho, que
deveria terminar no começo de 2014 com o referendo constitucional e
eleições legislativas. A expectativa de observadores da Líbia gira em
torno da capacidade que o parlamento, dividido entre seculares e adeptos
do islã político, terá para controlar o processo constituinte e a onda
de violência iniciada por milícias armadas que atuaram na derrubada de Muammar Khadafi, em 2011.
7) Indonésia – eleição presidencial
Assim como o Brasil, a Indonésia tem uma plataforma de exportação
baseada em commodities. O país, assim, se beneficiou tremendamente da
alta dos preços de produtos como carvão, borracha e minerais após a
crise iniciada em 2008. Com a queda das commodities nos últimos anos,
uma infraestrutura atrasada e uma indústria fraca, a economia da
Indonésia vem experimentando dificuldades recentemente.
É neste cenário que o país vai às urnas em julho para eleger o
sucessor de Susilo Bambang Yudhoyono, atual presidente, que não pode
mais se candidatar. O Partido Democrático, do atual presidente, não
conseguiu formar um líder capaz de seguir seus passos e deve ter muitas
dificuldades no pleito. Isso deve abrir espaço para o Partido Democrata
da Indonésia-Luta, cuja provável candidato, Joko Widodo, aparece como um
dos favoritos.
Além de ser uma importante economia emergente e ter a quarta maior
população do mundo, a Indonésia é observada de perto pelos analistas
pois é, ao lado da Turquia, um dos único países de maioria muçulmana
onde vigora um regime democrático.
8) Uruguai – eleição geral
Eleito em 2009, José Mujica, o homem que vem redefinindo a esquerda
latino-americana, não poderá concorrer a um novo cargo de presidente do
Uruguai no pleito de outubro. Ainda assim, a Frente Ampla, sigla que em
2005 rompeu o domínio dos partidos Colorado e Nacional na política
uruguaia deve continuar no governo. Segundo as pesquisas mais recentes, a
FA lidera a corrida presidencial (superando 40% das intenções de voto)
com qualquer um dos candidatos que apresente: a senadora Constanza
Moreira ou o antecessor de Mujica, Tabaré Vázquez. A oposição,
entretanto, conta com um desgaste de quase dez anos de governo da Frente
Ampla e pode aproveitar o significativo número de indecisos (que chegam
a 15%) para retomar o poder.
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