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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Valor Econômico - Defesa Nacional.

Prosuper - Licitação de € 3 bi atrai Navantia ao Brasil

17 de Janeiro, 2012 - 10:46 ( Brasília )




Fragatas F-100
Virgínia Silveira

O estaleiro Navantia, maior empresa de defesa da Espanha, vê o programa de reaparelhamento da Marinha brasileira como uma grande oportunidade para incrementar seus negócios internacionais na área de construção naval militar, setor que responde por 80% do faturamento do estaleiro, de € 1,6 bilhão por ano.

O objetivo da empresa é aumentar a participação do mercado internacional na receita do grupo, hoje em torno de 47% e com isso amenizar os efeitos da crise econômica que reduziram o orçamento da área de defesa e congelaram os programas.

A empresa quer trazer ao Brasil a experiência bem sucedida de transferência de tecnologia feita com as Marinhas da Venezuela, Austrália, Índia e Noruega, onde o acordo de offset (compensação tecnológica e industrial) com as empresas locais superou em 100% o valor do contrato.

A oportunidade mais concreta neste momento está sendo a concorrência para o fornecimento de onze navios de superfície, conhecido como Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper). Avaliado em cerca de € 3 bilhões, o Prosuper prevê a aquisição de cinco fragatas ou navios de escolta de 6 mil toneladas, cinco navios de patrulha oceânica de 1,8 mil toneladas e um navio de apoio logístico de 12 mil toneladas.

"Queremos usar o Brasil como plataforma de exportação para outros países da América do Sul", disse o principal executivo da Navantia, controlada pelo governo espanhol, Luis Cacho Quesada. O executivo diz que a Navantia não é só construtor de plataformas de navios, mas tem ampla capacidade de integração dos diferentes sistemas que equipam os navios.

"A nossa estratégia com o Brasil vai além da venda dos navios. Queremos estabelecer associações industriais duradouras e passar a experiência da Navantia em gestão de programas complexos", afirmou. O prazo de execução do programa é estimado em 15 anos. A primeira fragata será construída na Espanha para facilitar o processo de transferência de tecnologia aos estaleiros brasileiros desde o início.

A Navantia participa do Prosuper em parceria com a americana Lockheed Martin. Com a transferência de tecnologia, o gerente do Prosuper na Navantia, Ricardo Biarge Zapatero, diz que a Marinha do Brasil será capaz de fazer a manutenção, modificar e implementar melhorias nos navios, o que exigirá participação da indústria local (estaleiros e empresas com tecnologia para trabalhar em sistemas de combate).

Alguns acordos de colaboração, segundo ele, já foram fechados com a Atech, Mectron, Avibras e Omnisys, além de conversas com os estaleiros Odebrecht e Eisa. Em novembro, a Navantia reuniu mais de 80 empresas no Rio de Janeiro, interessadas em ouvir detalhes da oferta para o Prosuper. "Vamos fazer uma nova jornada com essas empresas, em São Paulo", disse Quesada.

Nem mesmo o anúncio de que a inglesa BAE Systems, que também disputa o Prosuper, conseguiu um contrato de fornecimento de três navios de patrulha oceânica para a Marinha do Brasil, desanimou os espanhóis. "Pelo que nós tivemos conhecimento trata-se de uma compra de oportunidade, que atenderá às necessidades mais imediatas da Marinha brasileira. Isso não deve alterar os planos estratégicos em relação ao Prosuper", afirmou o executivo.

Os navios, comprados pela Marinha brasileira, a um custo de 133 milhões de libras esterlinas (R$ 387,2 milhões), foram originalmente construídos para a Guarda Costeira de Trinidad-Tobago, que cancelou a encomenda quando os navios já se encontravam em provas de mar.

O vice-presidente Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, disse que a compra foi uma oportunidade boa e barata, pois a BAE tinha urgência em vender as embarcações. A fabricante tentava vender os patrulheiros há mais de um ano.

"As empresas locais não gostaram dessa compra porque os navios já estão prontos, mas pelo menos a manutenção deverá ser feita no Brasil e elas poderão, eventualmente, produzir os equipamentos que faltarem", completou. A BAE informou, em comunicado, que o contrato com a Marinha também inclui licença de fabricação, que permite a construção de outros navios da mesma classe no Brasil.

Na nota da BAE Systems, o diretor de Engenharia Naval da Marinha do Brasil, contra-almirante Francisco Deiana, disse que esta aquisição não muda o escopo do Prosuper em relação a compra de outros cinco navios patrulha, a serem construídos no Brasil. Procurada pelo Valor, a Marinha não respondeu, até o fechamento desta edição, a um pedido de informações enviado no dia 19 dezembro.

Para o Prosuper, a Marinha está em negociação com estaleiros projetistas de seis países, além da Espanha: Alemanha (ThyssenKrupp); França (DCNS), que já atua no programa brasileiro dos submarinos; Coreia do Sul (DSME); Holanda (Damen); Reino Unido (BAE); e a Itália (Fincantieri), que chegou a ser considerada como favorita até o final de 2010, mas com a mudança de governo e os cortes no orçamento da Defesa, os rumos do programa mudaram.

A decisão do Prosuper é esperada para este ano, mas a data ainda não foi definida. Neste momento, segundo a Navantia, a Marinha está revisando as propostas enviadas, e a partir daí vai definir os requisitos finais do projeto. "Acredito que até fevereiro devemos concluir nossa oferta definitiva para o programa", comentou Quesada.

A repórter viajou a convite da Navantia.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Deustche Welle - Fillon vai ao Brasil defender venda do encalhado caça Rafale

BRASIL | 16.12.2011

Fillon vai ao Brasil defender venda do encalhado caça Rafale



François Fillon e Dilma Rousseff durante encontro em Brasília
Primeiro-ministro francês se encontrou com Dilma para reforçar a parceria militar com o Brasil, que ainda não decidiu se vai comprar o caça Rafale. Presidente destaca necessidade de transferência de tecnologia.

A preocupação com a defesa nacional está no centro da agenda brasileira. Nesta quinta-feira (15/12), a presidente Dilma Rousseff declarou, em mais de uma ocasião, que o país precisa pensar o reequipamento das Forças Armadas sob o ponto de vista da política industrial.

Durante encontro com o primeiro-ministro francês, François Fillon, a presidente argumentou que os acordos de cooperação com outros países, incluindo a França, devem fazer parte de um modelo de produção nacional.

"Expliquei ao primeiro-ministro que queremos construir uma verdadeira indústria nacional de defesa no Brasil. E as parcerias com a França, em todos os setores, devem se inserir nesse objetivo e na ampliação de nossas capacidades em tecnologia", ressaltou Dilma.

A afirmação faz referência à longa negociação, iniciada pelo Brasil ainda em 2009, de compra de caças para renovação da frota nacional. O Brasil também recebeu propostas da Boeing (Estados Unidos) e da Saab (Suécia), mas o ponto crucial das negociações é a transferência de tecnologia.

"Vim ao Brasil para reforçar nossa total determinação em prosseguir a parceria estratégica lançada em 2008 pelos presidentes Sarkozy e Lula", declarou Fillon.

Sem compradores no exterior

Antes de chegar ao Brasil, Fillon declarara ao jornal Folha de S.Paulo estar confiante de que o negócio em torno do Rafale vai sair. "Nosso melhor argumento é a qualidade das transferências que estamos realizando. Estamos confiantes, porque nossa oferta é a melhor possível", disse.

Os franceses estão tendo dificuldades para exportar o Rafale. Até hoje, nenhuma unidade do caça foi vendida para fora do país. O ministro da Defesa, Gerard Longuet, ameaçou recentemente suspender a fabricação do caça "a médio prazo" devido à baixa procura. As Forças Armadas francesas encomendaram 180 unidades, cuja produção se estenderá até 2018.

Segundo o especialista em relações internacionais Creomar Carvalho, das propostas recebidas, a da França é a que mais apresenta possibilidade de concretizar essa transferência de tecnologia, mas a decisão é complexa.

"O Rafale é um caça muito caro e a transferência de tecnologia não o torna mais barato. Isso gera um certo constrangimento, principalmente com a cúpula da Força Aérea, que não considerou este o melhor avião", afimou Carvalho à DW Brasil. Ele avalia, ainda, que, por outro lado, "a França parece ser o parceiro que teoricamente envolve o melhor custo-benefício na transferência de tecnologia".

Em outro momento, durante cerimônia militar, Dilma voltou a afirmar a importância da renovação nas Forças Armadas. "O robustecimento da indústria de defesa nacional e o domínio de tecnologias críticas por empresas brasileiras serão decisivos para que nossas Forças Armadas disponham de equipamentos e tecnologias compatíveis com suas funções de garantia da democracia e da soberania do nosso país", disse.

A compra dos caças foi discutida durante o encontro com o primeiro-ministro francês, mas o governo brasileiro manteve a posição oficial, adotada ainda no início do ano, de suspender as negociações depois do anúncio do bloqueio de R$ 50 bilhões do orçamento.

Constrangimentos e necessidade iminente

A escolha do vendedor vai trazer muita repercussão, tanto pela concorrência quanto pela resistência natural ao tema, conforme avalia Carvalho. "O gasto com defesa nacional ainda é visto com resistência por vários setores da sociedade brasileira, sobretudo por questões de ranço com o regime militar e outras questões do gênero", ponderou Carvalho.

Apesar da dificuldade que permeia a tomada de decisão, o Brasil não tem muito tempo de sobra, uma vez que hoje as Forças Armadas têm necessidades reais de troca de equipamentos para manter operações de segurança e patrulhamento. As regiões de fronteiras e a região amazônica pedem ações de alto nível técnico que só poderão ser implementadas com a renovação de certos equipamentos, diz Carvalho.

"As armas do crime organizado, por exemplo, passam pelas fronteiras, que são absolutamente porosas. Então precisamos que as Forças Armadas estejam prontas para fazer com que essas fronteiras estejam menos porosas e, a partir daí, criar os atributos necessários para se ter uma linha de frente de resistência ao crime organizado", avaliou.

Relações Brasil-França

Durante a visita do primeiro-ministro francês, os dois países anunciaram alguns acordos de cooperação nas áreas de ciência, tecnologia e educação. Entre eles está o compromisso de aumentar em 10 mil o número de estudantes brasileiros bolsistas na França, até 2014. "A França tem hoje 4.000 estudantes brasileiros bolsistas, e é o país que mais recebe bolsistas brasileiros no mundo", afirmou Fillon.

No âmbito dos investimentos, a França ocupa o quinto lugar entre os maiores investidores no Brasil, tendo sido responsável por 2,3 bilhões de dólares até setembro. O comércio entre os dois países moviment 9 bilhões de dólares anuais.

O primeiro-ministro francês veio ao Brasil acompanhado de três ministros e uma comitiva de cerca de 30 empresários.

Autora: Ericka de Sá, de Brasília
Revisão: Alexandre Schossler