sexta-feira, 8 de abril de 2011

InfoMoney - Orçamento dos EUA e Wall Street

Fique de olho: disputa política em torno do Orçamento dos EUA abala Wall Street

Por: Tatiane Monteiro Bortolozi


SÃO PAULO - O presidente norte-americano Barack Obama reuniu-se com congresssistas na Casa Branca nesta quinta-feira (7) para tentar evitar a paralisação dos serviços governamentais na próxima sexta, caso o impasse sobre o novo Orçamento do país não seja resolvido. A discussão gira em torno do tamanho da redução das despesas no governo. Enquanto os democratas querem cortar US$ 33 bilhões, os republicanos pleiteiam um corte um pouco maior, de US$ 40 bilhões.

Obama convocou em caráter de emergência o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, e o líder da maioria do Senado, o democrata Harry Reid. Embora republicanos e democratas tenham em princípio concordado com uma redução de US$ 33 bilhões nas despesas para o ano fiscal (que termina em 30 de setembro), Boehner mostrou-se inflexível ao exigir um corte maior. Na última quarta-feira, os líderes já haviam se encontrado, porém nenhum acordo foi atingido e nesta quinta-feira Reid se disse bem menos otimista em relação a um consenso.

A reunião, de fato, acabou sem um novo acordo. Os três políticos voltam a se reunir nesta noite, na Casa Branca, para dar sequência às negociações. A previsão é que a reunião tenha início às 20h00 em Washington (21h00 em Brasília).

Caso não se chegue a um acordo sobre o orçamento do governo norte-americano, que expira na próxima sexta-feira, todos os serviços públicos que não sejam de necessidade primária serão interrompidos. Há 15 anos os EUA não tinham que lidar com este problema.

Como o corte afeta a economia norte-americana?
Entre os efeitos colaterais de um corte acima de US$ 33 bilhões, o governo já se prepara para o atraso na restituição de impostos, a paralização temporária do pagamento de salários ao Exército e o congelamento de alguns incentivos à habitação. Além disso, pedidos de empréstimos para pequenas empresas e empréstimos garantidos pela FHA (Federal Housing Administration) também seriam adiados.

As paralisações chegariam justo no momento em que a recuperação econômica nos Estados Unidos começa a ganhar fôlego. "As companhias não gostam de incertezas, e se elas virem que de repente poderemos ter um 'apagão' em nosso governo, isto poderia enfraquecer o momentum justamente quando precisamos retomá-lo - tudo por conta da política", disse o presidente norte-americano em discurso na última quarta-feira.

Em meio a impasse, Obama ainda pode apelar à população
Desde 5 de janeiro de 2011, Obama enfrenta a menor participação de seu partido na Câmara de Representantes, onde a oposição republicana conta com uma maioria de 242 deputados. No Senado, os democratas perderam seis assentos para os rivais nas últimas eleições legislativas de 2010, mas continuam em maior número. Neste último impasse, a atitude da oposição visa prejudicar a avaliação do atual governo e, assim, atrapalhar a já anunciada candidatura à reeleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

"O governo poderia adotar dois posicionamentos, de negociação ou confrontamento", diz o professor de Relações Internacionais do Ibmec, Creomar Lima Carvalho de Souza. Ele explica que a histórica norte-americana exemplificou uma conciliação com o Congresso no segundo mandato de George W. Bush, ao mesmo tempo em que um embate foi travado no final do primeiro mandato de Bill Clinton.

"As duas estratégias podem ser bem sucedidas. Embora Obama tenha um perfil conciliador, considero que o enfrentamento poderia trazer melhores resultados", diz Souza. "Obama precisa sensibilizar a população de que a oposição deseja impedir a reforma dos seus próprios interesses econômicos, impedindo a recuperação pós-crise", completa o professor.

Em um esforço diplomático, Obama chegou a reclamar que o Orçamento "poderia ter ficado pronto três meses atrás". Na verdade, o projeto poderia ter sido votado até mesmo seis meses antes do início do ano fiscal, em outubro de 2010, quando os democratas tinham maioria entre os legisladores. Contudo, explica Souza, outros assuntos trancaram a pauta da votação, como a agenda política e a reforma da saúde.

Valor Econômico - Entrevista com Bresser-Perreira

Bresser-Pereira: PSDB se tornou o partido da direita e dos ricos

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira acaba de eliminar seu último vínculo com a política institucional: declarou-se desligado do PSDB — que, segundo ele, caminhou de forma definitiva para a direita ideológica. O desligamento partidário marca também o retorno do intelectual à sua origem desenvolvimentista.

Em entrevista a Maria Inês Nassif, do Valor Econômico, Bresser-Pereira admite que não escapou à sedução do neoliberalismo, nos anos 90. Mas define uma diferença de origem entre ele e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como intelectuais: o nacionalismo. Segundo o ex-ministro, a teoria da dependência associada, de Fernando Henrique, caiu como uma luva para a esquerda americana — não por intenção do autor mas por conveniência do “império”.

No governo, FHC não se contradisse: a teoria da dependência associada pregava o crescimento do país com capital externo. O caráter não nacionalista dos governos tucanos era absolutamente compatível com a teoria da dependência associada do intelectual Fernando Henrique.

Leia abaixo trechos da entrevista.

Valor: O senhor está onde sempre esteve?
Luiz Carlos Bresser-Pereira: No governo Fernando Henrique, ou nos anos 90, a hegemonia neoliberal foi muito violenta. Foi tão violenta que também atingiu a mim. Não escapei dela. Logo que saí do governo, publiquei um livro chamado A Crise do Estado. Aí, resolvi publicá-lo em inglês e revi o livro todo, de forma que, quatro anos depois, ele foi publicado em inglês.

Quando isso aconteceu, já estava entusiasmado com a vitória do Fernando Henrique e influenciado pelas ideias liberais. Não tinha me tornado um neoliberal de forma nenhuma, tenho certeza disso — mas estava mais perto do neoliberalismo do que estou hoje.

Valor: Caiu no conto da globalização?
Bresser-Pereira: Um pouco. Não totalmente, mas ninguém é de ferro. O grande problema da social-democracia é que ela se deixou influenciar, no mundo inteiro. A Terceira Via, por exemplo, hoje tão criticada, tinha um grande intelectual como Anthony Giddens por trás dela, um homem de centro-esquerda. Foi nesse estado de espírito que entrei no governo Fernando Henrique.

Mas também foi lá que tomei um susto. Eu estava fazendo a reforma gerencial, que era uma reforma essencialmente para fortalecer o Estado social, pois era a reforma dos serviços sociais e científicos do Estado. Mas fiquei surpreso com duas coisas dentro do governo: uma, que não havia nenhuma perspectiva nacional, não havia nenhuma distinção entre empresa nacional e estrangeira.

Muito pelo contrário: Fernando Henrique dizia forte e firmemente que não havia essa diferença, que era tudo rigorosamente igual — e isso é bobagem, é coisa que os americanos e europeus contam para nós, mas nunca praticaram. Aquilo me deixava muito incomodado. E a outra coisa que me deixou muito incomodado foi a política econômica.

Valor: Do ponto de vista acadêmico, o senhor não se considera da mesma escola que Fernando Henrique?
Bresser-Pereira: Fui dar uma aula em Paris, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, e aí o Afrânio Garcia, um antropólogo que substituiu Ignacy Sachs na direção de um centro sobre o Brasil, e mais um cientista político do Rio Grande do Sul, o Hélgio Trindade, fizeram comigo uma entrevista para uma pesquisa, em outubro de 2003. Num certo momento, disse a eles: “Não sou da escola de sociologia de São Paulo, sou da escola do Iseb”. O Afrânio disse: “O quê?”. Era uma surpresa para ele.

Eu me formei a partir do pensamento do Celso Furtado, do Inácio Rangel — o Celso Furtado não foi do Iseb, mas era da Cepal, e a Cepal cepalina era estruturalista, como o Iseb. É claro que fiquei amigo da escola de sociologia de São Paulo, a escola do Florestan Fernandes e do Fernando Henrique, que vai dar na teoria da dependência, mas não tenho nada a ver com isso. Quando eu disse isso, o Afrânio pediu para eu fazer um seminário. Fiz dois papers. Um, que se chama “O conceito de desenvolvimento do Iseb” e outro, mais interessante, que se chama “Do Iseb e da Cepal à teoria da dependência”, em que vou fazer a crítica da dependência.

Valor: Isso foi em que ano?
Bresser-Pereira: Foi em 2004. Para fazer esse paper, fui rever as ideias do Fernando Henrique. Eu sabia que ele tinha deixado de ser esquerda, mas eu também tinha deixado um pouco de ser esquerda. Eu continuava um pouco e ele tinha deixado de ser mais do que eu. Mas o que não era claro para mim era a parte nacionalista, a parte de poupança externa, essas coisas.

Aí fui ler outra vez o livro clássico dele e do Enzo Faletto (Dependência e Desenvolvimento na América Latina). E vi que Fernando Henrique estava perfeitamente coerente. O que é a teoria da dependência? É uma teoria que vai se opor à teoria cepalina, ou isebiana, do imperialismo e do desenvolvimentismo, que defende como saída para o desenvolvimento uma revolução nacional, associando empresários, trabalhadores e governo, para fazer a revolução capitalista. O socialismo ficava para depois.

A teoria da dependência foi criada pelo André Gunther Frank, um notável marxista alemão que estudou muitos e muitos anos na Bélgica e que em 1965 publicou um pequeno artigo chamado “O desenvolvimento do subdesenvolvimento”, brilhante e radical. É a crítica à teoria da revolução capitalista, à teoria da aliança da esquerda com a burguesia. É a afirmação categórica de que não existia, nunca existiu e nunca existiria burguesia nacional no Brasil ou na América Latina.

No Brasil, os seguidores de Gunther Frank eram o Ruy Mauro Marini e o Teotônio dos Santos, mas no final, e curiosamente, o seguidor deles mais ilustre vai ser o Florestan Fernandes maduro. Eles concordam que não existe burguesia nacional. Quando a burguesia nacional é compradora, entreguista, associada ao imperialismo, a única solução é fazer a revolução socialista. É bem louco, mas é lógico.

Aí vieram o Fernando Henrique e o Enzo Faletto e disseram que havia alternativa, a dependência associada. Ou seja, as multinacionais é que seriam a fonte do desenvolvimento brasileiro, cresceríamos com poupança externa. Era a subordinação ao império. Claro que o império ficou maravilhado. A teoria da dependência foi um grande sucesso — os outros liam e faziam suas interpretações.

Na prática, era uma maravilha: a esquerda americana, que se reúne nas conferências da Latin America Student Association, nos Estados Unidos, encontrava um homem democrático de esquerda que via nos Estados Unidos um grande amigo na luta pela justiça social. Quando fiz essa revisão, estava começando a romper com o PSDB.

Valor: E quando o senhor chegou ao PSDB?
Bresser-Pereira: Em 1988, fui um dos fundadores do PSDB. Na época da fundação, o Montoro não queria o nome de social-democracia para o partido, porque tinha origem na democracia cristã, que a vida inteira tinha lutado contra os social-democratas na Inglaterra, na Alemanha e na Itália. Nós ganhamos, pelo fato de sermos centro-esquerda.

Mas aí ele dizia: “Muito bem, mas e se esse bendito PT, que se diz revolucionário, que tem propostas para a economia brasileira completamente irresponsáveis, chega no poder ou perto do poder e se domestica, e se torna social-democrata, como aconteceu na Europa? Eles têm toda uma integração com os trabalhadores sindicalizados, que nós não temos, então nós vamos ser empurrados para a direita”. E foi isso que aconteceu.

Valor: Quando o senhor considera que o PSDB começa essa trajetória para a direita?
Bresser-Pereira: O Fernando Henrique teve dois azares: o primeiro foi que governou o país no auge absoluto do neoliberalismo, enquanto Lula governou no momento em que o neoliberalismo começa a entrar em crise; e o segundo é que seu governo não gozou do aumento dos preços das commodities de que o Lula desfrutou.

Mas o fato concreto é que no governo Fernando Henrique o partido já caminhava para a direita muito claramente. Daí o PT ganhou a eleição e assumiu uma posição de centro-esquerda, tornou-se o partido social-democrata brasileiro — e o PSDB, naturalmente, continuou sua marcha acelerada para a direita. Nas últimas eleições, ele foi o partido dos ricos. Isso, desde 2006.

É a primeira vez na história do Brasil que nós temos eleições em que é absolutamente nítida a distinção entre a direita e a esquerda, ou seja, entre os pobres e a classe média e os ricos. E um partido desse não me serve, seja pela minha posição social-democrata, seja pela minha posição nacionalista econômica — tenho horror profundo e absoluto do nacionalismo étnico.

Acho que a globalização é uma grande competição em nível mundial, quando todos os mercados se abriram, e passou a haver uma competição global não apenas das empresas, mas dos países. E você precisa, mais do que nunca, uma estratégia nacional de desenvolvimento.

Valor: Retomar a ideia de nação, que ficou meio apagada nos anos 90?
Bresser-Pereira: Isso, retomar a ideia de nação. E a própria ideia de centro-esquerda, que ficou um pouco apagada nesse período. Às vezes me perguntam: “Se você não é mais um membro do PSDB, foram eles que mudaram ou você?”. Fomos os dois. Eles mudaram mais para a direita e eu mudei um pouco mais para a esquerda. Recuperei algumas ideias nacionalistas que achava muito importantes.

Valor: A quem isso serve?
Bresser-Pereira: Isso é muito claro. Eu uso uma frase do Jacques Rancière, sociólogo político francês, de esquerda, sobre o ódio à democracia. A democracia sempre foi uma demanda dos pobres, dos trabalhadores, de classes médias republicanas, nunca foi dos ricos. Os ricos odeiam a democracia, embora digam que defendem. Eles sabem que a democracia não vai expropriá-los, que a ditadura da maioria não vai expropriá-los — mas eles continuam liberais e, se não têm ódio, pelo menos têm medo da democracia.

E qual a melhor forma de neutralizar a democracia? São duas. Uma é fazer campanhas eleitorais muito caras. Então, financiamento público de campanha, jamais. Rico não aceita isso em hipótese alguma. A outra estratégia é desmoralizar os políticos.

Uma coisa clara é que a corrupção existe porque o capitalismo é essencialmente um sistema corrupto e os capitalistas estão permanentemente corrompendo o setor público. É fácil verificar quem são os servidores públicos mais corruptos. Quem corrompe professor universitário? Ninguém. E quem corrompe delegado de polícia?

É claro que tem um monte de gente interessada em corromper delegado de polícia, fiscal da Receita. Os fiscais da Receita não são intrinsecamente mais desonestos que os professores. Fizeram concursos mais ou menos igualmente, são pessoas igualmente respeitáveis — só que uns são submetidos a processos de corrupção por parte das empresas; outros, não.

Valor: O que o senhor acha do Bolsa Família?
Bresser-Pereira: Acho uma maravilha. Sempre acreditei piamente na competição. Quando pensava naquela emenda da Revolução Francesa — Liberdade, Igualdade e Fraternidade —, eu entendia perfeitamente as ideias de liberdade e igualdade, mas a fraternidade eu achava simplesmente simpática. Nesses últimos anos, todavia, descobri que é absolutamente fundamental.

Na sociedade em que vivemos, existe uma quantidade muito grande de pessoas cuja capacidade de competir é muito limitada. Mesmo que tenha educação, por características pessoais, geralmente de equilíbrio emocional, às vezes de inteligência, essas pessoas não são capazes de se defender da competição como devem. E aí que entra a fraternidade.

O Bolsa Família é um mecanismo altamente fraterno. O Lula sabe da necessidade da fraternidade, da solidariedade — a vida dele deve ter lhe ensinado. Ele é perfeitamente capaz de competir por conta dele, isso é evidente. Mas sabe a importância da solidariedade.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Infomoney - Elevação do juro na Europa aumentará crise fiscal, apontam estudiosos

Por: Natália Wagner Rodrigues

InfoMoney

SÃO PAULO – O BCE (Banco Central Europeu) elevou a taxa básica de juro, confirmando a expectativa do mercado, na tentativa de conter a inflação que vem castigando a economia do velho continente. Embora a medida busque ser coerente com um ponto de vista econômico teórico mias ortodoxo, há uma série de contrapartidas há considerar.

De acordo com Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais do IBMEC/DF, a Europa perdeu a confiabilidade dos investidores, já que desde 2008 vem encontrando sérias dificuldades para superar a crise. A situação se agravou ainda mais com a crise fiscal que acometeu a região. Sendo assim, para o professor, a elevação dos juro pode acentuar ainda mais esse cenário preocupante.

Elevação era necessária
O BCE encerrou um ciclo de 23 meses sem alta dos juros. Para o professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Evaldo Alves, a inflação bateu à porta da Europa – em março a alta dos preços superou o limite de 2% estipulado pelo BCE registrando 2,6% de inflação- e o aumento de preços ocasionado por um choque de commodities (alimentares e energéticas) não deixou outra alternativa. Essa foi a primeira elevação em quase dois anos.

Defendendo a mesma visão, o professor da economia da Trevisan, Alcides Leite, destaca que o BCE tentou postergar ao máximo a subida dos juros, até o ponto em que isso não era mais viável. “Eles esticaram ao máximo, agora não há mais saída porque a situação estava ficando preocupante”, destaca.

O próprio presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, já havia afirmado anteriormente que um aumento era possível, diante do choque de petróleo, mas garantiu que esse não será o início de um ciclo. Porém, essa solução para uma inflação de custos pode também trazer importantes efeitos negativos, a conhecida "faca de dois gumes".

Recuperação ameaçada
Ainda segundo Leite, a decisão do BCE pode conter a recuperação econômica na região. Alves explica que, pelo fato de alguns governos já terem um nível de endividamento acima do limite aceitável, a subida dos juros vai colocar mais pressão à situação fiscal europeia. “Na teoria é bonito, mas na prática a economia [da União Europeia] vai ficar ainda mais exposta à crise fiscal”, avalia Alves, que ressalta o aumento do custo da dívida do governo, decorrente da subida dos juros.

Segundo Creomar, esse decisão apenas “tapa o Sol com a peneira”, uma vez que o problema de alguns países europeus não é só uma questão de crédito. “O BCE terá que unir combate à inflação com crescimento econômico, o que é muito difícil”, afirma.

O problema vai além
O professor da Ibmec ressalta que por trás da crise fiscal e do alto endividamento de alguns países, há uma questão estrutural muito forte. As políticas públicas adotadas pelos países europeus não são mais sustentáveis.

Os Estados não podem mais sustentar o alto padrão de vida que deram aos seus cidadãos. A população europeia está envelhecida e a questão do endividamento deve pesar ainda mais porque não há competitividade econômica e não há grandes inovações que possam reanimar a economia, segundo Creomar. O professor da FGV explica que, como a população trabalha pouco e está acostumada com um alto padrão de vida, será difícil mudar essa mentalidade e conscientizar acerca da necessidade de aumentar a competitividade regional.

Alves ainda acrescenta que para a única saída para a Europa conseguir enfrentar esse aumento de juros, sem afundar mais na estagnação econômica, é o aumento da produtividade. Porém, o professor ressalta: “Não estamos nem ouvindo falar disso por lá”.

O fim da zona do euro?
Para André Perfeito, economista da Gradual, o fim da Zona do Euro é “impensável”. Ele explica que, mesmo que a situação de alguns países como Portugal, Irlanda e Grécia piorar, a Alemanha pode socorrê-los.

O professor Creomar também acredita que esse não deve ser o fim da zona do euro, mesmo porque o que é desvantagens para uns em um momento pode se converter em vantagens no futuro. Ele explica que Portugal, Grécia e Irlanda foram beneficiados pela expansão da Zona do Euro no passado, mas agora passam por uma crise, já que não, por estarem presos à moeda, não podem promover uma depreciação cambial para amenizar os efeitos da crise fiscal.

Creomar ainda ressalta que cada país terá que fazer sua parte para recuperar a Europa. “Todos [os países europeus] terão que se modernizar, ampliar seus parques industriais e achar o melhor nicho de mercado para reverter a situação, não é justo jogar tudo nas costas da Alemanha”, conclui. Além disso, cabe destacar que o euro funciona, além de elemento econômico, como um elemento de união cultural no continente, portanto um colapso teria efeitos ainda mais adversos.

Visão menos otimista tem o mega investidor, Warren Buffett. Ao avaliar um possível colapso da moeda comum, Buffett dá o seu veredito: "Não acho impensável"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Valor Econômico - FMI solta versão 'light' de controle de capital

Alex Ribeiro | De Washington


O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulga nos próximos dias um documento sobre controles de capitais que reflete a profunda divisão entre países emergentes e avançados sobre o tema. A simples divulgação do documento é, para muitos, um sinal de vitória das economias avançadas que, de forma geral, querem uma espécie de código de conduta para os controles de capitais. Mas as economias emergentes conseguiram suavizar os termos finais do documento para evitar que ele se torne uma camisa-de-força.

O documento, chamado "Recente experiências na administração de controles de capitais", foi discutido em fins de março em reunião da diretoria-executiva do FMI, na qual o Brasil é representado pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr. O tema controle de capitais deverá ser um dos mais importantes na reunião de primavera do FMI, que ocorre em Washington na semana que vem.

A vitória mais importante dos emergentes no sentido de suavizar o documento foi eliminar qualquer palavra que pudesse dar a entender que o documento será um código de conduta para controles de capitais. Por insistência de países emergentes, o FMI também deixará claro que o documento é parte de uma iniciativa mais ampla para entender os fluxos de capitais, incluindo o papel da política monetária de economias desenvolvidas.

Do ponto de vista prático, as mudanças exigidas pelos países emergentes tornam menos provável que o documento seja usado como guia dentro do FMI para monitorar os controles de capitais nos chamados relatórios do artigo IV, em que o organismo faz uma revisão crítica da política econômica de cada uma dos seus países-membros.

Os países desenvolvidos querem que o FMI passe a monitorar os controles de capitais adotados pelos seus membros. Em geral, eles aceitam o princípio de que, em alguns casos, as economias podem lançar mão de medidas de controle para lidar com fortes fluxos de capitais. Mas querem impor restrições a esses controles e defendem que o remédio seja usado como um último recurso.

Já os países emergentes, de forma geral, não concordam com nenhum tipo de restrição nem monitoramento das suas medidas de controle de capitais.

Nas discussões dentro da diretoria-executiva do FMI, os emergentes insistiram na tese de que, se as economias avançadas querem uma espécie de código de conduta para os controles de capitais, será necessário também criar um código de conduta para monitorar as ações dos países ricos que engrossam os fluxos de capitais, como a atual expansão quantitativa feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Não é a primeira vez que os países desenvolvidos tentam criar regras para os controles de capitais. Em fevereiro, eles defenderam essa posição na reunião do G-20 promovida em Paris. Naquela ocasião, eles não conseguiram levar adiante seus objetivos, porque no G-20 as decisões são tomadas apenas por consenso. Mas dentro do FMI eles têm a maioria dos votos, por isso conseguiram aprovar o documento.

A batalha travada dentro do FMI é sobretudo retórica. O organismo não pode exigir que os países deixem de adotar controles de capitais, pois esse instrumento é expressamente autorizado pelo estatuto de constituição do Fundo. Mesmo sem poder tomar medidas concretas, porém, o FMI procura influenciar as políticas de seus membros por meio de palavras.

Nas últimas décadas, o FMI pregou a abertura das contas de capitais e, em geral, se opunha aos controles. Depois da atual crise financeira mundial, porém, passou a admiti-los, como um último recurso, apenas de forma temporária. Documentos divulgados no ano passado pelos técnicos do FMI diz que as economias só devem adotar controles depois de tomadas outras medidas estruturais, como deixar sua taxa de câmbio se valorizar e promover apertos fiscais.