segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Entrevista de Reginaldo Nasser sobre o Mali.

Entrevista de Reginaldo Nasser sobre o conflito no Mali.

Folha de São Paulo - Oligopólio Tucano

Oligopólio tucano 

Jornalista Ricardo Mendonça (Folha de São Paulo de hoje - artigo)

Desde o ano 2000, antes de Lula chegar à Presidência, portanto, os únicos dois nomes que o PSDB oferece aos paulistanos em qualquer eleição para prefeito, governador ou presidente da República são José Serra e Geraldo Alckmin. O atual governador de São Paulo foi candidato a prefeito na capital em 2000 e 2008. Serra disputou a prefeitura em 2004 e 2012. Antes, já havia tentado em 1988 e 1996. Repare: só eleitores paulistanos com mais de 37 anos de idade tiveram a chance de votar num tucano que não fosse Serra ou Alckmin para prefeito. Foi na longínqua candidatura do hoje verde Fabio Feldmann em 1992, lembra? Nas eleições para o Planalto ou para o Bandeirantes, a situação é parecida. Em 2002, Serra saiu para presidente, Alckmin para governador. Em 2006, inverteram: Alckmin para presidente, Serra para governador. Em 2010, desinverteram: Serra novamente para presidente, Alckmin novamente para governador. Hoje acontece a abertura do congresso estadual do PSDB paulista. A expectativa é que Serra apareça e faça seu primeiro discurso após a eleição municipal de outubro. Os tucanos devem aproveitar para discutir estratégias para 2014. Qual é a grande articulação em curso? Bingo. Dar um jeito para lançar Serra para presidente (a tática agora é falar em prévias ou primárias); e garantir as condições para a reeleição de Alckmin governador. Nem é justo dizer que o PSDB tem problemas para formar quadros competitivos. Depois do petista Fernando Haddad, o maior vencedor da eleição paulistana foi o neopeemedebista Gabriel Chalita, tucano até outro dia. O Rio de Janeiro reelegeu o prefeito com a segunda maior votação proporcional em capitais, Eduardo Paes, tucano até outro dia. Em Curitiba, a surpresa foi a vitória de Gustavo Fruet (PDT), tucano até outro dia. Por que eles só conseguiram subir ao primeiro escalão da política após sair do PSDB? Poderia ser um tema para o congresso de hoje. Mas não é.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sensato pessimismo - Coluna de Claudio Bernabucci para a Carta Capital

Sensato pessimismo


Narram as crônicas provenientes dos Estados Unidos que a crise destes anos, além de consequências sociais e econômicas, vem deixando como herança ao povo americano um presente inédito: a recuperação do pessimismo. No país onde o otimismo fideístico acompanhou a conquista de sempre novas fronteiras, trata-se de novidade cultural significativa.
Os americanos historicamente têm se identificado e teorizado a importância do “pensar positivo”: garantia de sucesso na sociedade, nos afetos e até na saúde. Acontece que tal atitude, sem dúvida criadora de resultados, passou a produzir danos no recente passado, porque não adequadamente balançada por oportuno pensamento crítico.
O livro que fotografou o fenômeno e que vem abrindo uma brecha mortal no otimismo a qualquer custo tem um título que se autoexplica: Prozac Leadership. O autor, David Collinson, é professor na Universidade de Lancaster, na Inglaterra, mas encontrou fama nos Estados Unidos, onde identificou a maioria dos “200 casos de manual”, que demonstrariam sua tese. Tomando o famoso antidepressivo como metáfora da felicidade artificial, a teoria dele aponta os danos que certos excessos de otimismo das lideranças econômicas e financeiras anglo-saxônicas têm provocado recentemente nos negócios. À raiz dos problemas estariam a ordem hierárquica e a cultura de empresa que, rejeitando o pessimismo e premiando o otimismo, têm transformado esse em atitude artificial, sem efetiva conexão com os fatos da vida real. A obediência cega e o conformismo, corolários inevitáveis das organizações guiadas por líderes carismáticos e movidos a otimismo artificial, têm, consequentemente, prejudicado sua capacidade de enfrentar dificuldades e prever perigos. Assim, o professor Collinson identifica numerosos casos de ­empreendimentos fracassados por atitudes acríticas e ilustra episódios que explicariam até mesmo o tombo financeiro de 2008.
De fato, as reflexões do professor inglês são convincentes e aplicáveis em escala mundial, não apenas nos setores que ele analisa. A partir do Prozac Leadership, o “pensamento pessimista” tem encontrado muitos seguidores em ambientes intelectuais internacionais, bem além do mundo acadêmico ou econômico-financeiro.
De volta às nossas latitudes, é de esperar que tal tendência se globalize rapidamente e possa encontrar aqui também rápido sucesso. É fato que, depois dos inegáveis resultados econômicos da última década, o Brasil entrou em uma fase cultural de acentuado otimismo, provavelmente excessivo, à prova dos fatos. O crescimento econômico deu-se, é certo, e com alguma redistribuição de renda, melhorando condições de vida, estatísticas e imagem internacional. Mas a inclusão dos pobres limitou-se a pouco mais do que o acesso a consumos básicos. Educação, saúde, meio ambiente e participação social são os grandes excluídos do modelo brasileiro, baseado fundamentalmente no crescimento quantitativo. A superação dos atrasos qualitativos do sistema-país frustra as expectativas por sua lentidão e incipiência. E as desgraças não faltam: gente demais morre pela disputa de poucos reais, por enchentes ou balas perdidas. Mais: estatísticas aterrorizantes indicam que o número anual de assassinatos no Brasil é superior aos mortos em todas as guerras no mundo.
Problema mais grave ainda, a política está em crise profunda: ética, identitária e organizativa, sem capacidade de dar respostas convincentes aos problemas que se acumulam no horizonte. Quanto à economia, os empresários têm dinheiro à disposição como nunca, mas não querem investir, não está claro se por falta de espíritos animais ou por excesso de avidez. Não obstante, o brasileiro continua, segundo as pesquisas, um dos povos mais otimistas do planeta. Nós, entretanto, acreditamos que o professor Collinson teria aqui material abundante para confirmar sua teoria.
A propaganda da última década, sobre virtudes e sucessos brasileiros, não tem ajudado a focalizar criticamente os próprios desequilíbrios. Por outro lado, o bombardeio de negatividade que vem de certos setores da sociedade, ainda que minoritários, parece prevalentemente inspirado por espírito destrutivo, sem qualquer proposta crível de alternativa. Assim, os humores do País oscilam esquizofrênicos entre tais excessos, com supremo descuido do interesse geral.
Enfim, argumentos para voltar a um sensato pessimismo, no Brasil, não faltam. O fato de ter rapidamente perdido o lugar de sexta economia do mundo poderia ser ótima ocasião de reflexão. Não seria tarde para iniciar tal correção de rota, de forma a superar certo orgulho efêmero e para que volte a se difundir um pensamento equilibradamente crítico, mais consciente dos próprios limites e mais apto a superá-los.