domingo, 27 de fevereiro de 2011

Embraer, Marcopolo e a burocracia chinesa.

A China é o maior mercado consumidor do mundo. E obviamente, que toda e qualquer corporação que tenha a intenção de atuar globalmente tem interesses no território chinês. Empresas de grande porte brasileiras não são diferentes neste aspecto. E aqui especificamente têm-se a grande questão: Como lidar com as peculiaridades que envolvem a tomada de decisão do Estado Chinês? Outra questão que pode ser posta ao nosso diálogo é: É possível proteger-se de maneira eficiente dos entraves postos pela burocracia chinesa?
A utilização de Marcopolo e Embraer como estudos de caso para esse breve artigo se dá pelo fato de que ambas as empresas chegaram em território chinês empolgadas com grandes expectativas de crescimento e criação de parcerias com setores do mercado local. Entretanto, chegou-se a um momento no qual o horizonte parece nebuloso. No caso da Embraer as autorizações para construção de novas aeronaves em solo chinês esbarra no fato de que um empresa chinesa em parceria com a Bombardier prepara o lançamento de um produto similar ao avião que a empresa brasileira deseja fabricar.
No caso da Marcopolo a situação esbarra na tendência chinesa de proteger seu empresariado. A regra que impõe a associação de capitais estrangeiros a empresas nacionais cria uma barreira de atuação e expansão aos negócios não chineses. Principalmente, quando os mesmos tem um alto grau de competitividade. A fabricante brasileira de ônibus vê sua intenção de aumentar a entrada no mercado chinês barrada pela falta de um parceiro confiável e pela burocracia chinesa que convenientemente retarda respostas e posicionamentos.
Pois bem, em termos comparativos, os capitais chineses atuam com liberdade mercadológica e sem grandes restrições no Brasil. Essa diferença de tratamento é então baseada em duas perspectivas distintas de tratamento ao investidor estrangeiro e anteriormente a esse fato perspectivas estratégicas de desenvolvimento industrial. No caso brasileiro, pode-se perceber uma certa indecisão acerca do modelo de desenvolvimento industrial a se adotar por parte do Estado. Enquanto que, do lado chinês é clara a tentativa de transformar a China na grande fábrica do mundo. As restrições enfrentadas por empresas brasileiras não são exclusivas de nosso caso. Porém, obviamente mostram uma dificuldade que é enfrentada por um grande número de gerentes de corporações globais: como lidar com a burocracia chinesa?
Acredita-se aqui que dois elementos podem ser úteis neste processo. O primeiro é a atuação dos governos nacionais no sentido de construir estratégias que desenvolvam e protejam os investimentos de suas empresas - tanto local quanto internacionalmente. Isto quer dizer, governos como o brasileiro devem construir elementos legais que permitam a suas empresas terem o Estado como um parceiro no atendimento de suas demandas no exterior. Assim como, devem criar marcos legais que não dêem excessivas vantagens competitivas a empresas transnacionais que atuem em solo brasileiro.
Resumidamente, defende-se aqui a construção de uma política industrial que esteja antenada as necessidades das empresas nacionais, bem como, atenda aos interesses do consumidor nacional. Sabe-se que em democracias a tomada de decisões e a construção de estratégias de Estado é algo dificultoso devido a miríade de interesses em jogo. Contudo, acredita-se também que já é passado o momento de construir uma relação mais afirmativa no sentido de defender os interesses da indústria nacional, pois, em tempos de globalização as corporações nacionais podem e devem ser usadas como um anteparo aos efeitos daninhos do processo globalizador.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mercado de petróleo no Brasil pode se beneficiar com crise no Oriente Médio.

21/02/2011
Redação - BandNews FM

A política conturbada no Norte de África e no Oriente Médio pode ser positiva para o mercado de petróleo no Brasil. Para o professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília, Creomar Lima Carvalho de Souza, a exploração no pré-sal brasileiro pode se tornar mais interessante com a crise nos principais produtores do mundo.

Nesta segunda-feira, a situação na Líbia fez com que o preço do barril de petróleo no mercado internacional chegasse a 104 dólares, a maior cotação desde setembro de 2008.

Creomar Lima Carvalho de Souza afirma que a estabilidade política do Brasil pode atrair investidores estrangeiros para explorar o pré-sal do país.



O professor de Relações Internacionais do Ibmec, afirma ainda que os atuais aumentos do preço do barril de petróleo são especulativos.

Mas, para Creomar Lima Carvalho de Souza é preciso ficar atento à situação política no Norte da África.





Creomar Lima Carvalho de Souza também descarta o aumento do preço da gasolina e outros derivados de petróleo no Brasil neste primeiro momento.

Mesmo assim, o professor admite a possibilidade de algum reajuste caso a crise se aprofunde no Norte da África e no Oriente Médio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Reportagem WinTrade - O investidor e a concorrência

A favor da concorrência, em benefício do investidor
Por: Caroline Mazonetto

Em maio de 2009, Sadia e Perdigão anunciaram oficialmente a fusão das duas empresas e a criação da Brasil Foods. Naquela época, a companhia já nascia como a segunda maior indústria alimentícia do País e a terceira maior exportadora. A fusão, claro exemplo de negócio que geraria um quase monopólio no setor, virou polêmica e foi parar no órgão que vela pela livre concorrência em território nacional: o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Quase dois anos depois, o processo ainda não recebeu parecer definitivo do organismo, e os investidores que possuem ações da Brasil Foods continuam na expectativa, mesmo que remota, de que a fusão seja considerada ilegal. Se você é um desses acionistas, ou quer conhecer mais sobre como os organismos reguladores influenciam o mercado de capitais, entenda abaixo as consequências que as decisões do Cade podem ter na vida do investidor brasileiro.

Transações estratégicas – Operações de fusões e aquisições são consideradas transações estratégicas porque o resultado final acaba sendo maior do que as partes individualmente unidas. Ou seja, é uma conta onde 1 + 1 = 3. Esse é o caso da fusão ocorrida em 1999 da Brahma com a Antarctica, que deu origem à Ambev, iniciativa que permitiu à companhia resultante ter volume a ponto de competir no mercado mundial. Nesses casos, uma empresa se beneficia da outra e há um grande ganho de sinergia.

“O investidor estava interessado exatamente nisso, no desfecho da transação estratégica. O drama é a possibilidade de que a transação seja aprovada, mas depois revogada. As duas empresas vão por água abaixo”, explica o especialista em finanças André Massaro. Ele acrescenta que se um negócio como o da Ambev ou o da Brasil Foods afunda, o resultado final será menor que duas metades, e cada uma das partes, individualmente, terá um valor de mercado inferior ao que tinha antes do anúncio da transação.

“É a questão das expectativas. Continuam sendo as mesmas empresas que eram antes, mas a percepção do investidor fica prejudicada”, completa Massaro. E a preocupação não se refere somente ao Cade, mas aos órgãos equivalentes em outros países, no caso de fusões ou aquisições entre companhias internacionais. Para o especialista, no entanto, é raro que o conselho brasileiro tome esse tipo de atitude, e a regra geral é a aprovação.

Não foi o que aconteceu com a Nestlé, que comprou a Garoto em 2002 e teve o negócio vetado pelo Cade. O Conselho considerou que a aquisição afetaria a concorrência no mercado doméstico de chocolates. A gigante suíça recorreu contra a decisão na Justiça, e o caso se arrasta até hoje nos tribunais. Como nenhuma das empresas tem ações negociadas na Bolsa brasileira, os investidores escaparam do prejuízo.

Tempos instáveis – O trâmite até a aprovação regulamentar da transação estratégica é demorado e complexo. Por isso, o período pode ser sofrido para quem possui ações das empresas em questão. A época que se estende entre o mercado saber da negociação e a decisão final dos organismos competentes costuma ser de alta volatilidade para os papéis. Há sobe e desce causado por boatos e notícias, e o rumo das ações fica incerto.

Em junho do ano passado, quando a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae, do Ministério da Fazenda) divulgou a decisão de aprovar com restrições a fusão entre Sadia e Perdigão, as ações da Brasil Foods chegaram a cair 4,2%. Em seu parecer, a Seae assinalou uma concentração que poderia impedir a entrada de novas empresas nos segmentos de carne de peru e em produtos industrializados.

“É preciso ter muita atenção com as companhias que se investe, onde se investe e por quanto tempo se investe. O mercado de ações tem as suas surpresas”, contrapõe Creomar de Souza, consultor político e professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-DF).

Para André Massaro, quem segue uma estratégia baseada em análise técnica ou fundamentalista deve se ater ao plano original, independente do que estiver acontecendo, e tratar a ação da empresa sob análise do Cade como outra qualquer. “O investidor mais passivo pode não comprar, ou pode se preparar para fortes emoções”, brinca o especialista. O conselho básico de investir somente o dinheiro que se pode perder vale ainda mais para companhias que estão passando por um processo de fusão ou aquisição.

“Quem for mais sensível ao estresse do mercado financeiro deve evitar esse tipo de empresa, deve esperar a conclusão”, complementa Massaro. De acordo com ele, mesmo que o preço do papel esteja muito alto após o parecer final, se a expectativa de retorno do investimento ainda estiver grande não há nenhum problema.

Mas nem só de fusões e aquisições vive o Cade. Decisões do conselho referentes à livre concorrência também são capazes de afetar de outras formas as empresas brasileiras com capital aberto. Exemplo disso é a aplicação de multas: em julho de 2009, o conselho aplicou uma multa recorde de R$ 352,6 milhões contra a Ambev, culpada por exigir exclusividade de seus produtos nos pontos de venda, além de inibir a comercialização de outras marcas. Até então, a maior penalidade do tipo havia sido dada à Gerdau, que foi condenada a pagar R$ 156 milhões por formação de cartel na venda de aço. No dia em que a notícia da multa contra a Ambev chegou ao mercado, as ações recuaram 3,32%.

Regulação – De um modo geral, o papel do Cade é impedir que as negociações das grandes companhias prejudiquem o consumidor e os pequenos empresários. Por isso, a dificuldade do Conselho é definir quando as fusões e aquisições realizadas no Brasil são boas para todo o conjunto da obra – que inclui os chefes de conglomerados, os pequenos investidores e a sociedade como um todo.

Para Creomar de Souza, do Ibmec-DF, decisões nas quais o Cade se contrapõe a alguns dos interesses em jogo são processos naturais dentro de uma democracia, já que a tendência de concentração tem feito com que, em alguns momentos, a concorrência seja injusta. “O que se deve esperar é que o organismo continue se fortalecendo no decorrer do tempo e defendendo o interesse dos pequenos investidores”, afirma o consultor político.

Nessa batalha, o Cade conta também com a ajuda da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central, o grande regulador do sistema financeiro nacional. E as coisas caminham bem por aqui. Os organismos brasileiros são exemplo para o mundo, em um processo realizado há 20 anos e que envolve movimentos políticos, bancos, companhias e outros atores. “Reflexo disso é que a crise financeira de 2008 não bateu forte. A regulação também protegeu o pequeno investidor e o consumidor final”, acrescenta Souza.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Egito, seu Povo e o Futuro - Publicado no Estado de Minas.

Mubarak caiu! Três décadas de opressão construídas sob a complacência das democracias ocidentais e setores importantes da sociedade egípcia, cessaram pela pressão e persistência popular dos manifestantes reunidos na Praça Tahir e em outras cidades deste país de grande legado histórico e cultural. O fim do regime autoritário no coloca diante do mundo uma pergunta: O que futuro reserva ao povo egípcio?

Respondendo esse questionamento pode-se afirmar que: o fim de Mubarak não é o fim do autoritarismo no Egito. Pois, elementos que sustentaram o regime por anos são os mesmos que agora se arvoram como defensores populares. Notadamente o Exército egípcio que se divorciou do antigo regime durante sua crise ainda não deu nenhum sinal do que fará com o poder. E enquanto esses sinais não forem claros no sentido de que as demandas populares serão atendidas a situação tenderá a crise.

De outro lado, é importante lembrar que não há uma liderança por trás dos protestos. E vale considerar que se durante as ações revolucionárias esse fato era uma vantagem, no momento das negociações que devem se processar a partir de agora tal carência certamente será um complicador. Nem mesmo figuras de envergadura global como Mohamed El Baradei conseguiram assumir um papel protagonista durante os protestos.

Cabe, portanto, refletir quem será o herdeiro político dos revolucionários da Praça Tahir. A identificação deste elemento de catalisação dos anseios populares será de fundamental importância para a compreensão de como o processo de transformação política será encaminhado, bem como, de quão profundas serão as transformações daí decorrentes.

Baseado em lições que a história lega, pode-se afirmar com alguma precisão que o futuro do Egito não será tão virtuoso quanto seu povo espera. Porém, é desejo de todos aqueles que primam pelo direito à liberdade que o mesmo não seja tão nebuloso quanto o legado que suas elites construíram até o presente momento.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Consequências econômicas da Crise Egípcia - Portal IG.

Brasil não deve ter perdas econômicas com crise no Egito

Impactos do curto prazo, como alta do petróleo e queda das exportações, não devem se estender por muito tempo, dizem especialistas

Ilton Caldeira e Klinger Portella, iG São Paulo | 11/02/2011 14:45

Os 18 dias de protestos populares no Egito – que culminaram com a renúncia do presidente Hosni Mubarak – não devem trazer perdas significativas para a economia brasileira, segundo especialistas ouvidos pelo iG. Embora a crise política tenha gerado impactos, principalmente nas exportações para o país e no preço do petróleo, as relações comerciais com os egípcios tendem a caminhar para a normalidade a partir de agora.

“A situação caminha para uma solução. Embora tenha gerado uma turbulência no curto prazo, eu não vejo a economia brasileira sendo prejudicada”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP.

Ele considera que o impacto da crise política na cotação do petróleo gerou pouco reflexo para o Brasil, graças à atual situação do País com relação à matriz energética. “O aumento do petróleo para nós nem é tão ruim”, avalia.

Para Creomar Lima de Carvalho Souza, especialista em economia internacional e professor de Relações Internacionais no Ibmec Brasília, os reflexos da crise no Egito dependerão dos contornos que a condução política tomará a partir de agora.


Com relação ao comércio exterior, Antonio Corrêa de Lacerda pontua que empresas brasileiras deixaram de exportar para o Egito nos últimos dias, mas “a perda é temporária e não deve permanecer”."Se a situação for resolvida de forma rápida com um processo democrático e pacífico de transição, diminui a percepção de risco e seus efeitos principalmente sobre a cotação do petróleo. Nesse sentido, o Brasil tem pouco a perder nas relações comerciais com o Egito", diz. "Mas caso aja um vácuo de poder, e o exemplo do Egito se espalhe por outros importantes países do mundo árabe, a tensão pode aumentar", completa.

"O empresário brasileiro não vai querer correr o risco de enviar mercadorias sem ter a garantia de que vai receber", afirma Souza, do Ibmec Brasília. "Na primeira guerra do Golfo, quando o Iraque foi invadido, muitas empresas brasileiras que tinham negócios no Iraque nunca receberam os créditos pendentes com empresas locais e o governo iraquiano", exemplifica.

Segundo dados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em 2010, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em produtos para o Egito, um crescimento de 36% frente ao observado no ano anterior. Os principais produtos exportados foram carne, açúcar e minério de ferro.

Na outra ponta, o Brasil importou US$ 168,8 milhões do Egito no ano passado, um volume 92% maior que o registrado em 2009, com destaque para fertilizantes, petróleo e algodão, que lideraram a lista de produtos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Uma democracia pós-ideologica e pós-partidária?

As manifestações populares que abalam o mundo árabe trazem à tona algumas reflexões acerca do papel do povo em transformações políticas e permite também a desconstrução de alguns mitos acerca desta região do mundo. Nesta breve reflexão pretende-se entender em que medida tais eventos alteram as percepções que temos acerca da política como ato de manifestação de vontades, bem como, dos preconceitos que são construídos cotidianamente acerca do Oriente Médio.

Inicialmente, acredita-se que é importante caracterizar aqueles grupos que aqui se consideram tradicionais. Os mesmos são: partidos, associações políticas e outros que a eles se assemelhem. No caso egípcio, especificamente, podem ser incluídos inclusive os grupamentos colocados na clandestinidade - como a Irmandade Muçulmana (que vários meios midiáticos citam, mas, poucos compreendem) assim como indivíduos como Mohamed El Baradei (indicado alguns como um dos líderes do movimento da Praça Tahir).

Tendo o Egito como estudo de caso, tem-se a partir da observação dos movimentos populares no Cairo e em outras cidades do país a constatação de dois elementos que se consideram aqui importantes: primeiro, não há nenhuma vinculação partidária ou ideológica vísivel no processo de manifestação e segundo, as lideranças tradicionais mesmo aquelas que faziam oposição ao regime não conseguem ser catalisadoras do processo político em curso - vide a falta de expressividade de indíviduos ou de grupos políticos na situação egípcia atual.

E quais seriam as raízes dessa situação? Em primeira instância aquelas vinculadas a pirâmide de Maslow em seus mais variados níveis. Fome, desemprego e falta de oportunidades para muitos e falta de acesso à informação e de exercício da própria vontade para outros. Neste aspecto especificamente cabe analisar o quão incompetentes são as forças políticas tradicionais não só no Egito, assim como em outras partes do mundo em oferecer soluções para uma juventude que está ansiosa por um mundo de oportunidades que mudam a cada instante.

Não por acaso se forem cruzados dados demográficos e as localidades dos protestos. Será perceptível o fato de que as populações de Egito, Tunísia, Argélia só para ficar nestes casos são característicamente jovens. Tais grupamentos populacionais são observadores das mudanças que o mundo vem passado em dois referenciais distintos: o primeiro que mostra as oportunidades e benesses da globalização e o segundo, mais introspectivo que permite a cada um desses jovens perceber o quanto suas sociedades estão ultrapassadas em aspectos materiais. Entenda-se, o referencial aqui não acredita que o problema do mundo árabe seja a religião. Essa seria uma explicação simplista e carregada de preconceitos que não serão disseminados por este autor.

O fato central desta análise é, que assim como em outros países e regiões cujas elites políticas se perpetuam no poder a base da simples exploração de seu próprio povo e da negação do mais simples elemento a eles, ou seja, oportunidade de sobrevivência digna. Hoje no Oriente Médio se enxerga de maneira clara uma parcela da sociedade que simplesmente chegou ao seu limite de saturação. Em termos alegóricos é dizer que os cidadão cansaram de esmolar na rua enquanto seus chefes políticos desfilam em belos carros.

E neste aspecto especificamente, encontra-se uma explicação bastante plausível no fato de que grande parte das ações de protesto, bem como, os próprios manifestantes tenham construído suas ações via internet. Tais ações surgiram de forma espontânea e não buscaram nenhum tipo de justificador conceitual em algum dos elementos políticos vigentes ou concorrentes daquelas sociedades. Antes disso a simplificação do discurso é de fundamental importância para entender-se o quão desgastadas estão as forças políticas que disputam poder naquela região do mundo. Cabendo portanto a juventude interconectada um papel fundamental no processo revolucionário em marcha.

A atual situação é também fruto do alto grau de ineficiência que marca os processos de gestão e construção de políticas públicas dos casos ora vistos. Contudo, não se pode deixar de mensurar o fato de que o alerta cabe não só aos donos do poder no Oriente Médio, mas, também a outros grupos políticos mundo afora. Quando o sistema impede as pessoas de se expressarem e de terem suas expectativas e sonhos minimamente realizados o povo acaba encontrando formas de abalar ou quem sabe alterar as estruturas vigentes.

Respondendo a pergunta do título, não é possível afirmar se os eventos resultarão na construção de uma democracia ou assemelhado na região. Contudo, pode-se crer que em certa medida ocorre um movimento novo que transcende questões ideológicas postas à direita ou à esquerda. E que quanto mais lentas forem as reações dos grupos políticos tradicionais envolvidos, mais profundas tendem as ser as mudanças resultantes. A janela de oportunidade que se apresenta será ocupada por algum grupo, a questão a ser respondida é se esse agrupamento será partidário ou se estará enquadrado em uma nova sintonia como a exposta pelos manifestantes que abalam o Oriente Médio hoje.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Câmbio e Política - Nicomex Notícias


VOLATILIDADE DO REAL SE DESTACA EM RANKING MUNDIAL 31/01/11

O ano novo começou, no Brasil, com a preocupação do governo em segurar a valorização excessiva do real perante o dólar. Diante desse cenário, tem sido recorrente a ação das autoridades monetárias com o intuito de frear essa situação. No entanto, parece que o problema cambial em si não é a única face dessa questão. Há também o risco da volatilidade da cotação da moeda, que atrapalha decisões de investimento no país, por exemplo.

Tal risco está exposto em estatísticas de um levantamento da Consultoria Tendências, baseado em dados da Bloomberg. Nele, o Brasil aparece em quinto lugar em um ranking das economias com câmbio mais instável no último ano, dentro de um universo de 16 moedas listadas. O percentual de volatilidade do real está registrado em 13,83%, menor apenas que os dólares australiano, neozelandês e as coroas sueca e norueguesa.

A volatilidade é calculada com base nas cotações mínimas e máximas das moedas a cada mês, chegando a uma média ponderada no ano. “O que acontece é que a partir do momento em que o país optou por um sistema de câmbio flutuante as oscilações são normais. Contudo, nos últimos meses ocorreu um aumento do valor do real em comparação com outras moedas, sobretudo, o dólar estadunidense”, pondera o Analista Político e Professor do IBMEC/DF, Creomar Lima C. de Souza, em entrevista ao Nicomex Notícias.

Esse processo de aumento do valor da moeda nacional, entretanto, tem obviamente consequências que afetam outros âmbitos da vida econômica, bem como, aspectos políticos. Existem setores econômicos que são favorecidos e prejudicados pelo câmbio em sua atual configuração. E, de certa maneira, pode-se afirmar que os efeitos políticos dessa situação se refletem em dois aspectos, segundo Creomar. Primeiro, na mensuração dos ganhos e perdas feitos por cada setor e, em segundo lugar, pela forma como os ganhos ou prejuízos serão levados ao governo.

Atitude do governo

Dessa forma, o passo seguinte do problema são as ações das autoridades monetárias frente à questão da instabilidade cambial. De acordo com o especialista do IBMEC/DF, o governo não assumirá posturas isoladas que beneficiem um setor tendo em vista o grau de complexidade da economia nacional. Daí a opção por tomar medidas pontuais e não por colocar em prática um pacote mais encorpado para combater as flutuações da moeda nacional. “Em algum momento o governo construirá uma agenda de enfrentamento ao câmbio. Porém, me parece dificil afirmar neste momento se a mesma estará composta de uma ação simplificada ou de um conjunto de medidas com finalidade de dar uma nova configuração ao câmbio brasileiro”, projeta Creomar.

Por Matheus Franco
matheus.f@nicomexnoticias.com.br

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Concorrência Industrial Chinesa II - Globo News

Indústria nacional é prejudicada por

produtos chineses

Quase 70% dos exportadores nacionais já perderam clientes para concorrentes chineses no exterior.

A China, maior parceiro comercial do Brasil atualmente, vem engolindo fatias de mercado dos produtos brasileiros dentro do país e no exterior. A concorrência afeta uma em cada quatro indústrias do país. Quase 70% dos exportadores do país já perderam clientes para concorrentes chineses no exterior. Para Carlos Alberto Sardenberg, a moeda artificialmente desvalorizada torna os produtos chineses baratos.

Crescimento da Concorrência Industrial Chinesa - Jornal da Globo


Indústria brasileira perde espaço


no mercado para a China


A disputa é mais intensa em setores de materiais eletrônicos, calçados e têxteis. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, investir em qualidade e no design dos produtos é a estratégia usada pelos empresários brasileiros para competir .

Vladimir Netto

Os produtos chineses vêm atrapalhando os empresários brasileiros há anos, aqui e lá fora. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria mostra o tamanho do problema.

A CNI consultou 1.529 empresas. Quase a metade delas perdeu espaço no mercado interno para a China. E entre as que vendem para fora, 67% registraram perdas para os chineses.

Na China, a mão de obra é mais barata, a escala de produção é maior e a infraestrutura, melhor. Mas, o pior é o câmbio. O real está valorizado frente ao dólar e a cotação da moeda chinesa é controlada pelo governo.

“Isso faz com que os produtos de origem chinesa fiquem mais baratos que os produtos brasileiros industriais e com isso tanto mais difícil as empresas brasileiras concorrerem nos mercados internacionais, como nós observamos no crescimento das importações de origem chinesa no mercado brasileiro”, fala o diretor da CNI Flávio Castelo Branco.

A disputa é mais intensa em setores como o de materiais eletrônicos, calçados e têxteis. Que o diga o empresário Renato Bitter. A fábrica dele, que já chegou a vender 70% do que produzia para o exterior, hoje exporta só 20%.

“A única forma que nós encontramos de evitar a concorrência com os chineses foi investindo em maquinário e tecnologias que pudessem produzir tecidos com alto valor agregado, os quais eles dificilmente conseguem fazer”, diz o empresário.

De acordo com a CNI, investir em qualidade e no design dos produtos é a estratégia mais usada pelos empresários brasileiros para competir com a China. Os especialistas alertam que a disputa por mercados é uma briga que vai ficar cada vez mais difícil. A solução é se adaptar aos novos tempos.

“Nós não poderemos construir muros nos nossos portos e o único jeito efetivo de lidar com esse processo é se modernizando, investindo em inovação e, óbvio, exigindo políticas públicas que reduzam essa carta tributária que é absurda sobre a produção nacional”, explica o especialista em relações internacionais Creomar de Souza.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vistia de Obama - Brasil Econômico.

Etanol e China motivam visita de Obama

No encontro com Dilma Rousseff, marcado para março, americano tentará contrabalançar o crescente peso chinês e abrir espaço para o combustível
Ao anunciar sua visita ao Brasil, Chile e El Salvador em março, o presidente dos Estados Unidos utilizou um termo datado, mas com muito significado no mundo atual. O objetivo de "fomentar as novas alianças para o progresso nas Américas" também utilizado pelo ex-presidente J.F. Kennedy na década de 60 para designar o programa de ajuda financeira a América Latina, mostra que os EUA não querem perder o papel de protagonista frente ao mercado latino. Assim como Kennedy não queria perder o poder para os comunistas nas décadas de 60 e 70, como afirma Creomar Lima, professor do Ibmec DF.

"Hoje as forças são outras. De um lado, a China dominando as exportações para os países latinos. De outro, os governos de esquerda, que possuem um discurso negativo em relação aos EUA", diz. Neste cenário, o Brasil ganha papel de destaque, como interlocutor entre os países emergentes.

As perspectivas em relação a futuros acordos realmente significativos oriundos da visita não são boas, segundo analistas. Tradicionalmente, tratam-se apenas de visitas protocolares. Prova disto é o resultado do encontro entre o ex-presidente Lula e o ex-presidente americano George W. Bush em 2007. Entre festas e demonstrações de simpatia com o Brasil, o rápido encontro levou a um acordo de cooperação tecnológica para produção do etanol e promessas de redução da tarifa de importação %4 de US$ 0,54 por galão %4, reivindicada pelo Brasil, que na prática nunca aconteceu.

Em dezembro do ano passado, inclusive, o Congresso Americano aprovou a renovação da tarifa para 2011. "O Obama tem intenções de reduzir, e até excluir, essa tarifa, mas ele não tem força no Congresso, o que inviabiliza avanços para o Brasil nesse sentido", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB).

O que gera esperança para os produtores brasileiros é que a renovação da tarifa foi a mais apertada da história dentro do Congresso americano. Assim , a expectativa é que a conquista do apoio de Obama possa abrir caminho para uma eventual derrubada da tarifa, em 2012.

Para Maurílio Biagi, conselheiro da União da Indústria de Cana de Açúcar (Única), os EUA têm mais necessidade do que o Brasil de fechar um acordo na área de biocombustíveis. "Eles têm metas para cumprir no uso de fontes renováveis". Até o ano de 2022, por exemplo, a meta dos EUA é de utilização de 36 bilhões de galões de combustível renovável. "Na Casa Branca, a expectativa é muito positiva em relação ao encontro, afirmou o empresário, que está em viagem aos EUA."

SGP

A participação do Brasil no Sistema Geral de Preferências (SGP), que prevê redução tarifária nas importações de países em desenvolvimento, vem gerando polêmica no Congresso Americano e é considerado um dos principais temas a serem discutidos.

Segundo Castro, Obama não deve sinalizar interesse em excluir o Brasil da lista, pois tal medida iria contra o desejo de ampliar a corrente de comércio com o Brasil. "Os EUA querem retomar sua importância na pauta de importação brasileira e, por conta disso, tirar o Brasil do SGP, como deseja o Congresso, seria um retrocesso", diz.

No entanto, para Rodrigo Cintra, chefe do departamento de Relações Internacionais da ESPM, é preciso acordar para o fato de que o país deve, em breve, deixar o SGP%4e que isto não é negativo. "Em quatro ou cinco anos, não estaremos mais no SGP. O reconhecimento do Brasil como uma potência emergente pode trazer alguns transtornos para determinados setores, mas vai aumentar a importância política do país no mundo", afirma.

As distorções no comércio mundial ligadas à guerra cambial entre os EUA e a China também devem entrar na pauta "Atualmente já se discute na OMC [Organização Mundial do Comércio] regras que permitam que países sejam acionados por usar a desvalorização do dólar para alavancar exportações", explica Tiago Oliveira, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. Entretanto, para Castro, da AEB, o tema não terá grandes avanços na primeira visita de Obama ao Brasil. "A discussão não sairá do papel, pois há muitas divergências nos interesses posições dos dois países nesse assunto", comenta. "É um tema, de fato, obrigatório, mas que não passará de retórica diplomática", complementa.

Fonte: Brasil Econômico

Discutindo o papel do Internacionalista - Palestra no IBMEC/DF

Reportagem RedeTV - O Brasil no CSNU