quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vistia de Obama - Brasil Econômico.

Etanol e China motivam visita de Obama

No encontro com Dilma Rousseff, marcado para março, americano tentará contrabalançar o crescente peso chinês e abrir espaço para o combustível
Ao anunciar sua visita ao Brasil, Chile e El Salvador em março, o presidente dos Estados Unidos utilizou um termo datado, mas com muito significado no mundo atual. O objetivo de "fomentar as novas alianças para o progresso nas Américas" também utilizado pelo ex-presidente J.F. Kennedy na década de 60 para designar o programa de ajuda financeira a América Latina, mostra que os EUA não querem perder o papel de protagonista frente ao mercado latino. Assim como Kennedy não queria perder o poder para os comunistas nas décadas de 60 e 70, como afirma Creomar Lima, professor do Ibmec DF.

"Hoje as forças são outras. De um lado, a China dominando as exportações para os países latinos. De outro, os governos de esquerda, que possuem um discurso negativo em relação aos EUA", diz. Neste cenário, o Brasil ganha papel de destaque, como interlocutor entre os países emergentes.

As perspectivas em relação a futuros acordos realmente significativos oriundos da visita não são boas, segundo analistas. Tradicionalmente, tratam-se apenas de visitas protocolares. Prova disto é o resultado do encontro entre o ex-presidente Lula e o ex-presidente americano George W. Bush em 2007. Entre festas e demonstrações de simpatia com o Brasil, o rápido encontro levou a um acordo de cooperação tecnológica para produção do etanol e promessas de redução da tarifa de importação %4 de US$ 0,54 por galão %4, reivindicada pelo Brasil, que na prática nunca aconteceu.

Em dezembro do ano passado, inclusive, o Congresso Americano aprovou a renovação da tarifa para 2011. "O Obama tem intenções de reduzir, e até excluir, essa tarifa, mas ele não tem força no Congresso, o que inviabiliza avanços para o Brasil nesse sentido", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB).

O que gera esperança para os produtores brasileiros é que a renovação da tarifa foi a mais apertada da história dentro do Congresso americano. Assim , a expectativa é que a conquista do apoio de Obama possa abrir caminho para uma eventual derrubada da tarifa, em 2012.

Para Maurílio Biagi, conselheiro da União da Indústria de Cana de Açúcar (Única), os EUA têm mais necessidade do que o Brasil de fechar um acordo na área de biocombustíveis. "Eles têm metas para cumprir no uso de fontes renováveis". Até o ano de 2022, por exemplo, a meta dos EUA é de utilização de 36 bilhões de galões de combustível renovável. "Na Casa Branca, a expectativa é muito positiva em relação ao encontro, afirmou o empresário, que está em viagem aos EUA."

SGP

A participação do Brasil no Sistema Geral de Preferências (SGP), que prevê redução tarifária nas importações de países em desenvolvimento, vem gerando polêmica no Congresso Americano e é considerado um dos principais temas a serem discutidos.

Segundo Castro, Obama não deve sinalizar interesse em excluir o Brasil da lista, pois tal medida iria contra o desejo de ampliar a corrente de comércio com o Brasil. "Os EUA querem retomar sua importância na pauta de importação brasileira e, por conta disso, tirar o Brasil do SGP, como deseja o Congresso, seria um retrocesso", diz.

No entanto, para Rodrigo Cintra, chefe do departamento de Relações Internacionais da ESPM, é preciso acordar para o fato de que o país deve, em breve, deixar o SGP%4e que isto não é negativo. "Em quatro ou cinco anos, não estaremos mais no SGP. O reconhecimento do Brasil como uma potência emergente pode trazer alguns transtornos para determinados setores, mas vai aumentar a importância política do país no mundo", afirma.

As distorções no comércio mundial ligadas à guerra cambial entre os EUA e a China também devem entrar na pauta "Atualmente já se discute na OMC [Organização Mundial do Comércio] regras que permitam que países sejam acionados por usar a desvalorização do dólar para alavancar exportações", explica Tiago Oliveira, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. Entretanto, para Castro, da AEB, o tema não terá grandes avanços na primeira visita de Obama ao Brasil. "A discussão não sairá do papel, pois há muitas divergências nos interesses posições dos dois países nesse assunto", comenta. "É um tema, de fato, obrigatório, mas que não passará de retórica diplomática", complementa.

Fonte: Brasil Econômico

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