domingo, 27 de fevereiro de 2011

Embraer, Marcopolo e a burocracia chinesa.

A China é o maior mercado consumidor do mundo. E obviamente, que toda e qualquer corporação que tenha a intenção de atuar globalmente tem interesses no território chinês. Empresas de grande porte brasileiras não são diferentes neste aspecto. E aqui especificamente têm-se a grande questão: Como lidar com as peculiaridades que envolvem a tomada de decisão do Estado Chinês? Outra questão que pode ser posta ao nosso diálogo é: É possível proteger-se de maneira eficiente dos entraves postos pela burocracia chinesa?
A utilização de Marcopolo e Embraer como estudos de caso para esse breve artigo se dá pelo fato de que ambas as empresas chegaram em território chinês empolgadas com grandes expectativas de crescimento e criação de parcerias com setores do mercado local. Entretanto, chegou-se a um momento no qual o horizonte parece nebuloso. No caso da Embraer as autorizações para construção de novas aeronaves em solo chinês esbarra no fato de que um empresa chinesa em parceria com a Bombardier prepara o lançamento de um produto similar ao avião que a empresa brasileira deseja fabricar.
No caso da Marcopolo a situação esbarra na tendência chinesa de proteger seu empresariado. A regra que impõe a associação de capitais estrangeiros a empresas nacionais cria uma barreira de atuação e expansão aos negócios não chineses. Principalmente, quando os mesmos tem um alto grau de competitividade. A fabricante brasileira de ônibus vê sua intenção de aumentar a entrada no mercado chinês barrada pela falta de um parceiro confiável e pela burocracia chinesa que convenientemente retarda respostas e posicionamentos.
Pois bem, em termos comparativos, os capitais chineses atuam com liberdade mercadológica e sem grandes restrições no Brasil. Essa diferença de tratamento é então baseada em duas perspectivas distintas de tratamento ao investidor estrangeiro e anteriormente a esse fato perspectivas estratégicas de desenvolvimento industrial. No caso brasileiro, pode-se perceber uma certa indecisão acerca do modelo de desenvolvimento industrial a se adotar por parte do Estado. Enquanto que, do lado chinês é clara a tentativa de transformar a China na grande fábrica do mundo. As restrições enfrentadas por empresas brasileiras não são exclusivas de nosso caso. Porém, obviamente mostram uma dificuldade que é enfrentada por um grande número de gerentes de corporações globais: como lidar com a burocracia chinesa?
Acredita-se aqui que dois elementos podem ser úteis neste processo. O primeiro é a atuação dos governos nacionais no sentido de construir estratégias que desenvolvam e protejam os investimentos de suas empresas - tanto local quanto internacionalmente. Isto quer dizer, governos como o brasileiro devem construir elementos legais que permitam a suas empresas terem o Estado como um parceiro no atendimento de suas demandas no exterior. Assim como, devem criar marcos legais que não dêem excessivas vantagens competitivas a empresas transnacionais que atuem em solo brasileiro.
Resumidamente, defende-se aqui a construção de uma política industrial que esteja antenada as necessidades das empresas nacionais, bem como, atenda aos interesses do consumidor nacional. Sabe-se que em democracias a tomada de decisões e a construção de estratégias de Estado é algo dificultoso devido a miríade de interesses em jogo. Contudo, acredita-se também que já é passado o momento de construir uma relação mais afirmativa no sentido de defender os interesses da indústria nacional, pois, em tempos de globalização as corporações nacionais podem e devem ser usadas como um anteparo aos efeitos daninhos do processo globalizador.

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