quinta-feira, 3 de março de 2011

CORREIO BRAZILIENSE - DF: Dependência do petróleo põe mundo em alerta

A crise que tomou conta do mundo árabe e já apeou do poder ditadores e criminosos faz o mundo abrir os olhos para um problema que insiste em se manter no limbo: a grande dependência por petróleo, altamente poluente e cujas reservas estão concentradas no Norte da África e no Oriente Médio e são manipuladas pelo cartel representado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Em 1973, a economia global foi abalada pela guerra do Yom Kippur. Em 1979, o baque veio da Revolução Iraniana. Agora, bastou o corte na produção da Líbia, que responde por apenas 2% da oferta mundial, para que os preços do barril disparassem 14% em apenas uma semana, a maior alta para o período em dois anos. Resultado: os países ricos, sobretudo os da Europa e os Estados Unidos, que ainda mostram sinais frágeis de recuperação, voltaram a flertar com a recessão.

Apesar desse quadro tão sombrio, poucas foram as vozes que chamaram a atenção para a necessidade de se livrar da Opep e de se mudar, mais rapidamente, a matriz energética do planeta, optando-se por fontes limpas e renováveis. Dados da agência americana Energy Information Administration mostram que 56% da energia consumida no globo têm origem no petróleo (35%) e no carvão (21%). Menos poluente, o gás natural garante 21% do consumo. Já as fontes renováveis não passam de 8%. Para inverter esse quadro, pelas projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), o mundo terá que investir aproximadamente US$ 10,5 trilhões até 2030.

Ou seja, não há mais como optar pelo silêncio. "É importante que esses temas, o da redução da dependência do petróleo e o da sua substituição por energia limpa e renovável, sejam retomados pelos governos e não mais abandonados", diz Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais do Ibmec do Distrito Federal. Ele lembra que o mundo perdeu uma grande oportunidade para mudar a história, ao não avançar nas negociações para a redução das emissões de CO2 realizadas em Copenhague, no fim de 2009.

Naquele momento, em meio à recessão global, com o consumo e o preço do petróleo em baixa (depois de chegar a US$ 145 o barril, em junho de 2008), os países mais industrializados e, consequentemente, os maiores poluidores do planeta, estavam mais preocupados em sair da crise financeira na qual se meteram depois do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, do que investir pesado na busca de alternativas para os combustíveis de origem fóssil. "Os governantes têm esse comportamento previsível. Só pensam em alternativas em momentos de crise. No ambiente de bonança, optam pelo mais fácil e ficam mais suscetíveis a interesses (os da indústria petrolífera são enormes)", afirma Souza.

Mas não é só. Com grande necessidade de crescimento econômico, para reduzir a miséria histórica, os países emergentes, em especial a China e a Índia, não têm como, a curto prazo, abrir mão do carvão e do petróleo como fontes de abastecimento energético.

Na contramão
No Brasil, a necessidade de diversificação das fontes energéticas não é diferente, a despeito de a matriz nacional ser mais limpa do que a das nações desenvolvidas. Mas, na avaliação do pesquisador da área ambiental Albino Rodrigues Alvarez, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país já está no limite da capacidade de exploração do potencial de energia hidrelétrica.

"Construir usinas como Belo Monte será cada vez mais inviável econômica e ambientalmente", afirma. Ele destaca que a participação dessas usinas na oferta de energia no Brasil tende a cair nos próximos anos. Os projetos em andamento, que devem entrar em operação até 2017, adicionarão mais 37,6 mil megawatts ao parque atual de 109 mil MW, no qual a participação das hidrelétricas é de 64,4%.

O temor dos especialistas é de que o Brasil caminhe na direção contrária, ao valorizar demais o uso do petróleo depois da descoberta das gigantescas reservas de óleo na camada do pré-sal. "O país precisa tomar cuidado para não sujar a sua matriz energética com o pré-sal", alerta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a previsão é de investimentos de R$ 1,1 trilhão na produção e distribuição de energia entre 2011 e 2014. Petróleo e gás natural absorverão mais de 80% dos recursos: R$ 875,1 bilhões. Já para fontes alternativas de energia, como a eólica e a de biomassa, estão previstos desembolsos de apenas R$ 9,7 bilhões.

Atentado destrói refinaria no Iraque

A produção da maior refinaria de petróleo do Iraque foi interrompida ontem, depois de um atentado que causou importantes danos em uma de suas unidades, afirmou o vice-diretor do complexo petroleiro Baiji, Abdel Kader Sab. "Vários desconhecidos entraram no estabelecimento às 4h40 locais (22h30 de Brasília, na sexta-feira), mataram dois engenheiros e explodiram uma bomba na unidade norte, que fornece 25% da produção", afirmou. A refinaria de Baiji, situada a 200 km ao norte de Bagdá, produz 150 mil barris por dia, segundo o Ministério do Petróleo.

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