sexta-feira, 30 de março de 2012

Obama em 2008.

Para fomentar nossas reflexões: posto um artigo feito por mim em 2008 sobre as expectativas que cercavam a primeira administração Obama. 
Vamos discutir os avanços e decepções?

Esperança e incerteza em Barack Obama
 

Creomar Lima Carvalho de Souza 

O processo eleitoral que transformou Barack Obama no 44º presidente dos Estados Unidos da América é único por uma série de características, tais como: a origem do presidente eleito; o engajamento eleitoral da população e o próprio resgate da imagem positiva do referido país no cenário internacional. Contudo, agora que a campanha acabou, faz-se necessária uma reflexão de quais os desafios que se colocam diante da nova presidência a partir do dia 20 de janeiro de 2009. 
Na busca de uma perfeita visualização de quais são as principais dificuldades do próximo governo, opta-se aqui pela divisão dos mesmos em duas esferas: sendo a primeira de âmbito interno e a segunda externa. Tal configuração explicativa permitirá uma melhor análise das questões tanto em termos específicos quanto gerais. Começando pelas questões de cunho internacional, pode-se afirmar que o grande desafio é a reconstrução da imagem internacional do país. Esse processo tem como característica principal a possibilidade dos Estados Unidos reassumirem a capacidade de inspirar seus aliados através de valores, discursos e ações.
Neste aspecto, especificamente, não há dúvidas quanto à capacidade retórica do novo presidente. Porém, há um distanciamento entre o discurso do candidato e o exercício efetivo da presidência. No enfrentamento dessa tarefa, será testada a capacidade do senhor Barack Obama em construir uma equipe que equilibre o idealismo da campanha eleitoral com o pragmatismo que o momento exige. 
Aliada a essa dificuldade de cunho institucional soma-se outro elemento: a crise financeira e a conseqüente desconfiança das pessoas no sistema econômico-financeiro local e nos políticos. A resposta a crise, orquestrada no cerne do novo governo, deverá obrigatoriamente ir além da equação grupos econômicos falidos e ajuda governamental via recursos dos contribuintes.
Seguindo este caminho, as respostas novas devem mudar as velhas relações entre o governo, os grupos econômicos falidos e o dinheiro dos contribuintes. Por exemplo, durante os últimos vinte anos a indústria automobilística norte-americana se agarra as benesses do governo sem em contrapartida modernizar suas estruturas produtivas. O resultado claro disso é uma retração dessas empresas que investiram em estratégias com resultados pífios, sempre a espera de facilidades creditícias de Washington. Esse panorama, com a chegada da crise, reforçou o sentimento entre as pessoas de que a administração republicana se preocupa mais com os capitalistas que financiam suas campanhas do que com os cidadãos comuns. 
Obviamente que tal perspectiva das ruas foi amplamente explorada na campanha democrata. E a vitória de Obama baseou-se na crença da mudança deste e de outros aspectos da ação governamental. Contudo, ao adentrar no exercício da presidência torna-se óbvio que a nova equipe de gestão não poderá simplesmente deixar as empresas e bancos em dificuldades quebrarem. Essa percepção - aliada as questões eleitorais - deve trazer para o presidente e os seus assessores, o desafio de criar soluções que se encaixem no espírito de mudança vendido durante a campanha. 
No tocante as imagens resultantes da campanha, pode-se afirmar com certa correção, que Barack Obama é o primeiro presidente americano referendado globalmente. Tal processo, que revestiu o mesmo de uma áurea mítica – quase mística para os mais desavisados – que teve seu ponto de partida com o discurso em Berlim e atingiu seu ápice com o resultado da eleição. Entretanto, fica uma questão: Até que ponto a popularidade de Obama irá transferir-se em boa vontade para com os EUA? 
Não existe resposta óbvia para essa questão. No entanto, deve-se ter em mente que os olhares positivos do restante do mundo não mudam o fato de que o Sr. Obama é presidente eleito dos EUA e que deve agir em função dos interesses deste país. Obviamente, que haverá uma ação mais multilateral do que as ações impetradas por Bush, Cheney e Rumsfeld. Contudo, o mundo não será transformado em uma utopia humanística. 
A possível indicação de Hillary Clinton para a Secretaria de Estado é uma clara indicação de que fundamentos marcantes da política externa dos EUA não serão abandonados brevemente. Mesmo que não haja espaço – orçamentário e político - para novas aventuras bélicas de grande escala. Pode-se afirmar que a diplomacia norte-americana não irá permitir que o Irã domine todo o ciclo atômico ou que Osama Bin Laden deixe de figurar no primeiro posto da lista dos criminosos mais procurados. 
Por fim, pode-se afirmar que os desafios do novo governo americanos não serão pequenos. A administração do legado negativo deixado por Bush e seus assessores é uma tarefa que exigirá muito mais do que as habilidades discursivas de Barack Obama. O somatório de sorte e virtude que até o presente momento tem aparentemente acompanhado a carreira do novo presidente dos EUA será devidamente testado a partir de 20 de janeiro de 2009, quando o 44º chefe de Estado norte-americano tomará posse.

Publicado Originalmente no site da Revista Autor em Dezembro de 2008.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Dez Mil Visitas!!! Obrigado!!!

Aos Leitores, amigos e seguidores.

Com grata surpresa vi hoje que esse humilde blog ultrapassou dez mil visitas!!!

Nestes tempos de internet onde existem muitas opções de grande qualidade fico realmente feliz com esse número.

O trabalho é feito com grande esforço, dedicação e coragem.

Desejo continuar melhorando os conteúdos aqui postados. Provendo sempre a todos que nos acompanham informação de qualidade sobre os assuntos que nos interessam.

Muito obrigado.

Seguimos em frente.

Abraço Fraterno.

Creomar Lima Carvalho de Souza.

BBC - Brics.

Brics assinam acordo de investimento e comércio em moedas locais

Iracema Sodré

Enviada especial da BBC Brasil a Nova Déli

Os presidentes de bancos de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) assinaram nesta quinta-feira, em Nova Déli, na Índia, acordos que vão permitir o financiamento de comércio e investimento em moeda local, um assunto que vem sendo discutido desde a primeira reunião do grupo.

O objetivo da medida é aumentar a cooperação entre os bancos de desenvolvimento dos Brics e elevar o comércio entre os países do bloco, já que facilita a obtenção de financiamento com instituições de fomento do país onde o investimento será realizado, e também evita a vinculação do negócio ao dólar, e portanto, a exposição à flutuação cambial.

Segundo a presidente Dilma Rousseff, a medida será um dos pilares do dinamismo das economias do grupo.

"Os Brics continuam sendo um elemento dinâmico da economia global e vão responder por uma parcela significativa do comércio. A notável expansão dos últimos anos do comércio intra Brics evidencia também o potencial das nossas relações. Nós passamos de US$ 27 bilhões em 2002 para estimados US$ 250 bilhões em 2011", disse a presidente.

Ela também afirmou que a definição de um grupo de trabalho para criar um banco de desenvolvimento dos Brics - que atue especialmente em projetos de infraestrutura, inovação, e ciência e tecnologia - sinaliza a disposição dos países de trabalhar em projetos conjuntos.

A presidente voltou a criticar as políticas adotadas pelo Banco Central Europeu e pelos Estados Unidos para conter a crise.

"Medidas exclusivas de política monetária não são suficientes para a superação dos atuais problemas da economia mundial. (...) Ao mesmo tempo, elas introduzem grave desequilíbrio cambial, por meio da desvalorização artifical da moeda e pela expansão da política monetária", disse.

A presidente Dilma defende que a depreciação do dólar e do euro decorrente destas medidas traz vantagens comerciais para os países desenvolvidos, mas diminui a competitividade dos produtos de outros países, como o Brasil.

Reformas

Na declaração conjunta divulgada ao fim da Cúpula, os Brics voltaram a defender uma reforma mais efetiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, aumentando a representatividade dos países emergentes.

Como era esperado, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não apoiaram nenhum candidato à presidência do Banco Mundial, mas voltaram a defender que a escolha seja feita por mérito e não por critérios geográficos, já que, tradicionalmente, a liderança da instituição fica nas mãos de americanos, enquanto o FMI é presidido por um europeu.

Segundo uma das principais negociadoras brasileiras nos Brics, a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, o fato de o presidente americano, Barack Obama, ter apoiado a candidatura de Jim Yong Kim, que nasceu na Coreia do Sul e tem experiência no setor de desenvolvimento, sinaliza que as reivindicações do grupo estão, de certa forma, sendo ouvidas.

"Mostra uma disposição por parte dos Estados Unidos de dar atenção à pauta que preocupa os Brics. Uma forma de lançar um candidato com condições de vencer."

A declaração dos Brics também mencionou a importância da Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, e condenou a violência na Síria.

Após o fim da cúpula, Dilma Rousseff se reuniu com o presidente Dmitri Medvedev, quando os dois líderes discutiram cooperação na área científica, tecnológica e de inovação, além de possíveis parcerias nas áreas de satélites e petróleo e gás, e a perspectiva de exportação de carne brasileira para o mercado russo.

A presidente não quis comentar a posição da Rússia em relação ao Irã, mas enfatizou a posição brasileira.

"A posição do Brasil é clara. O Brasil acha extremamente perigosas as medidas de bloqueio de compras do Irã", disse. "Compreendemos que outros países têm (relações comerciais com o Irã) e precisam dessas compras, mas achamos necessário que haja, de parte a parte, uma redução do conflito, para que se estabeleça o diálogo."

Dilma Rousseff também defendeu o direito de os países usarem energia nuclear para fins pacíficos, assim como o Brasil faz.

Na sexta-feira, a presidente brasileira tem encontros com líderes políticos e empresários indianos.

terça-feira, 27 de março de 2012

Brasil em Ascensão.

A nova influência do Brasil
Brazil's New Swagger (versão original)

A potência em ascensão da América do Sul está se afirmando, mas um grande poder traz sempre grandes responsabilidades

DAVID ROTHKOPF, FOREIGN POLICY, É ANALISTA DO CARNEGIE ENDOWMENT FOR INTERNATIONAL PEACE

Enquanto os Estados Unidos avançam de maneira hesitante para aceitar a nova realidade multipolar do mundo, dando um passo atrás para cada passo à frente, fazendo uma violação de soberania excepcional para cada esforço de colaboração em lugares como a Líbia, outros países estão trabalhando ativamente para estabelecer novas regras para todas as nações seguirem na nova era.

Entre os que estão na linha de frente desse esforço, contam-se a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e seu respeitadíssimo chanceler, Antonio Patriota.

O desafio que Dilma e Patriota enfrentam como servidores públicos é assustador. Cada um deles segue as pegadas de um formidável antecessor.

O desafio de Dilma é, admitidamente, muito maior e, de fato, para muitos, parece quase insuperável. Ela sucede a dois presidentes que foram, provavelmente, os mais importantes da história moderna de seu país, Fernando Henrique Cardoso, a quem é creditada a estabilização da economia brasileira após anos de volatilidade, e o antecessor imediato dela, Luiz Inácio Lula da Silva, não somente seu mentor, mas um integrante do pequeno punhado dos líderes mundiais mais importantes da última década.

Já o antecessor de Patriota, Celso Amorim, foi também formidável, extremamente influente, e uma presença constante no cenário brasileiro e internacional. O desafios eram grandes para todo o governo de Dilma.

No entanto, após um ano no cargo, e apesar de enfrentar grandes desafios domésticos e internacionais, a presidente já alcançou um índice de popularidade superior ao de Lula num ponto equiparável de seu mandato.

E Patriota está dando continuidade com calma, e aos olhos de observadores próximos, com grande habilidade, ao trabalho desbravador de Amorim para estabelecer o Brasil como um líder entre as grandes potencias mundiais.

"Temos uma grande vantagem", observa Patriota. "Não temos inimigos reais, nem lutas em nossas fronteiras, nem grandes rivais históricos ou contemporâneos entre as fileiras das potências mais importantes... e temos laços duradouros com muitas nações desenvolvidas e emergentes do mundo." Essa é uma condição que não é desfrutada por nenhum dos outros Bric - China, Índia e Rússia - nem, aliás, por alguma grande potência tradicional do mundo. Essa posição incomum é fortalecida ainda mais pelo fato de o Brasil não estar investindo tão pesadamente quanto as outras potências ascendentes em capacidade militar. Aliás, como observou Tom Shannon, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, o país é um dos poucos a efetivamente apostar seu futuro na aplicação sábia do chamado "poder brando" - diplomacia, alavancagem econômica, interesses comuns.

Não é por coincidência, aliás, que, em áreas que vão das mudanças climáticas ao comércio, da não proliferação nuclear ao desenvolvimento, o Brasil, sob o comando de Lula e Amorim e de Dilma e Patriota, vem ganhando força ao traduzir o crescimento consistente em casa e a diplomacia ativa no exterior em redes internacionais efetivas.

Mas o governo de Dilma também está rompendo com o passado. Enquanto Cardoso e Lula alcançaram a grandeza enfrentando e resolvendo alguns dos problemas mais ruinosos do passado brasileiro, da estabilização da economia ao enfrentamento da desigualdade social, Dilma, sem deixar de reconhecer o trabalho que resta a ser feito, concentrou sua atenção também na criação de oportunidades e num claro caminho para o futuro do Brasil. De seu foco em educação a seu compromisso com ciência e tecnologia passando por programas inovadores como "Ciência Sem Fronteiras", ela está fazendo algo que nenhum líder latino-americano fez anteriormente, mas que se mostrou uma fórmula aprovada na Ásia.

Está comprometida em transformar o Brasil de economia com base em recursos naturais e, portanto, dependente (o que significa dizer, vulnerável) em uma que conta mais para o crescimento futuro com as indústrias de valor agregado, a pesquisa e desenvolvimento, e a formação de mais cientistas e engenheiros.

Com base nisso, Patriota também está olhando para frente. Ele está indo além da era da política externa brasileira em que era inovador fazer o país olhar para fora de sua região e jogar um papel ativo nos assuntos globais, para um período, num futuro não muito distante, em que o Brasil, na condição de país com uma das cinco maiores economias e populações do mundo, de líder mundial em agronegócios e energia, assumirá sem hesitação que merece seu lugar à mesa.

Patriota esteve em Nova York por achar que um dos primeiros experimentos dessa era, a intervenção na Líbia sancionada pela ONU, saiu dos trilhos quando a missão autorizada pelas Nações Unidas de proteger o povo líbio foi deixada de lado pelas forças internacionais que intervieram tornando-se antes uma missão de mudança de regime. Ele não era nenhum admirador de Muamar Kadafi, que fique claro. Mas tem o sentimento inabalável de que, para a comunidade internacional operar de fato unida, ela precisa fazê-lo sob regras não só coletivamente estabelecidas, mas também coletivamente honradas.

Essa atitude provoca irritações, com certeza, em especial em países como os Estados Unidos, que estão acostumados a operar segundo suas próprias regras. Essa é uma razão por que a iniciativa turco-brasileira de 2010 para costurar um acordo para desarmar a crise nuclear iraniana foi tão irritante para Washington. A medida, por mais ingênua que tenha parecido para alguns, antecipou o início de uma era em que potências regionais e emergentes, como Turquia com Síria ou China com Irã, são fundamentais para se alcançar os objetivos da comunidade internacional.

Patriota reconhece que os Estados Unidos, sob o comando de Barack Obama, e outras potências estabelecidas avançaram bastante para se adaptar a essa nova realidade. Dito isso, ele gostaria de ver Obama avançar mais. Por exemplo, os brasileiros estão entre as potências emergentes que pressionam por reformas reais na maneira como as instituições internacionais são conduzidas. Eles acham que a ordem pós-2.ª Guerra refletida na estrutura de poder do Conselho de Segurança da ONU e na concessão automática da liderança do Banco Mundial a um americano está obsoleta e que já é hora de alguma coisa que reflita as realidades do século 21 e seja mais consistente com os princípios democráticos sobre os quais essas instituições foram estabelecidas.

É difícil discordar dos brasileiros ou de outros sobre esses pontos. E a inconsistência mostrada pelo governo Obama nessa frente - oferecendo apoio a uma participação permanente indiana, mas não brasileira, no Conselho de Segurança, em certo momento parecendo simpático a uma abertura do principal cargo no Banco Mundial a um não americano, mais recentemente parecendo recuar dessa ideia - tem sido irritante e, eu diria, irrefletida.

O que Dilma e Patriota estão tentando fazer na frente internacional é, de fato, tão revolucionário quanto o que seus antecessores fizeram.

Eles compreendem que um multilateralismo bem-sucedido agora requer não só maior número de países, mas abertura a uma multidão de ideias.

Durante a Guerra Fria, o debate era binário: soviéticos ou americanos.

Em sua esteira houve a breve ilusão de que havíamos entrado num momento de fim da História em que uma filosofia de mercados e democracia liderada pelo Consenso de Washington adquiria uma espécie de status de monopólio no mercado das ideias. Mas depois vieram as tragédias gêmeas, frutos da arrogância, do Iraque e da crise financeira de 2008, a simultânea ascensão de novas potências como Brasil, China, Índia e outros - e entramos em uma nova era. Em meu livro, Power, Inc., me refiro ao lado econômico dessa era como um período de capitalismos concorrentes. Mas ele é também um período de filosofias políticas concorrentes sobre o papel, tanto do Estado, como das instituições internacionais. Nesse mundo, não só os Estados Unidos são apenas uma voz, mas são também uma voz enfraquecida que em cada evento será ouvida como a mera visão de menos de 5% da população do planeta. Ao mesmo tempo, outros terão de preencher o vazio criado pelo redimensionamento da influência americana. O Brasil está tentando fazê-lo e, é preciso notar, de uma maneira consideravelmente mais construtiva que a evidenciada por China e Rússia em seu desempenho pusilânime com respeito à Síria no Conselho de Segurança. Dito isso, as potências emergentes, o Brasil entre elas, precisam reconhecer que, neste novo mundo, se pretendem jogar papéis maiores, elas também terão de fazer escolhas duras e não simplesmente desconsiderar as questões complexas como problemas alheios ou fora do alcance do sistema internacional em evolução. Elas vão ter de aceitar cada vez mais que se as injustiças não forem contidas, os custos resultantes serão largados em suas portas.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

domingo, 18 de março de 2012

European Crisis

European crisis could "deepen Brazilian dependence on China"

The economic crisis in the European Union may increase Brazil’s dependence on China’s market, warned specialists who attended on Monday (5) a public hearing on the theme, held by the Committee on External Relations and National Defense. However, despite the difficulties faced by the Old Continent, Europe still remains being Brazil’s main partner, as recalled the French ambassador in Brasília, Yves Saint-Geours.

In the beginning of the hearing, chaired by senator Fernando Collor (PTB-AL), professor José Augusto Guilhon Albuquerque, from the Center for Advanced Studies of the University of Campinas, predicted that the main impact of the European crisis will be the “loss of a qualified market” for the Brazilian economy, considered by him increasingly more focused on commodities.

“The reduction in the import capacity of the United States and the European Union immensely increases our dependence on China. The ideal would be to keep a balance between the United States, Europe and Asia,” he suggested.

The possibility of depending more on China was also highlighted by professor Creomar Lima Carvalho de Souza, from the Institute of International Relations of the Catholic University of Brasilia. This would be, in his opinion, one of the “tangible consequences” of the European crisis, as well as the “freezing” of negotiations for a free market agreement between Mercosul and the European Union. He also pinpointed “intangible consequences,” such as questions being raised on Europe as an integration model reference.

Multipolar world

Before talking about the European crisis at length, professor Francisco Carlos Teixeira, from the Federal University of Rio de Janeiro, announced good news he had read a little earlier: the world is to grow 4% in 2012, on average, and emerging countries are to grow above 6%. Besides, he added, world trade will grow 6.7%, despite the European crisis.

“Sometimes, struck by the media and by our emotional relation with Europe, we forget the world dimension. Today there is an asymmetric globalization heading towards growth. We have a novelty, a multipolar world. We do not need to dive into pessimism because of a, currently, small Eurasian peninsula,” said Teixeira.

Thereafter, in response, ambassador Saint-Geours mentioned “unquestionable and simple facts” regarding the “small Eurasian peninsula,” as he repeated the term ironically. The E.U., he recalled, is still Brazil’s first trade partner. In 2011, mentioned the diplomat, the bloc was responsible for 20.5% of Brazilian imports against 14.5% to China, and for 20.7% of exports against 17.3% to China. Brazil’s surplus in the trade with Europe, he concluded, was of US$ 6 billion.

“There are many obstacles to an agreement between the European Union and Mercosul due to different interests. But we cannot underestimate our relations. In 2012, once again, we are to be Brazil’s first partner,” he predicted.

‘Financial tsunami’

During the debate, senator Ana Amélia (PP-RS) regretted the delay in achieving an agreement between Mercosul, in her opinion, a “competitive” region , and Europe, yet “very subsidized.” In his turn, Europe, as senator Cristovam Buarque (PDT-DF) remarked, can be considered “the greatest experience of a civilizing process in the world.” However, he proposed the search of a “new concept of progress,” which takes into account human welfare and the environment.

Senator Eduardo Suplicy (PT-SP) recalled the concern shown by president DIlma Rousseff, on the same day in Germany, about a “financial tsunami” due to the large capital flow from rich countries towards emerging economies. Yves Saint-Geours said in answer that he understands Dilma’s concern, but he remarked that, in this case Europe’s and Brazil’s interests are “a little different.”

“Dilma is concerned about Europe’s crisis. If we have a credit crunch in Europe, we will not be able to leave the crisis behind. The current proposal is to irrigate the economy, providing it with the possibility to grow. But interest rates in the world are not the same, and Brazil is very attractive,” he stated.
At the end of the hearing, Fernando Collor remarked that the current economic models have not been reaching the expected results.

“We have to rethink the future. The current models are drained, and what is going on in Europe is something tragic,” he regretted.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Síria: agonia do regime e o nascimento de uma nova nação.

Os altos custos econômicos e sociais do conflito relacionam-se cada vez mais à luta travada entre as grandes potências e os poderes regionais sobre o futuro do país. Historicamente, nos momentos em que a Síria encontra-se unida e estável, ela representa um importante ator regional, mas quando está dividida, como agora, torna-se uma arena para a luta de forças externas, muito embora a revolta tenha se originado exclusivamente no seio de sua sociedade. O artigo é de Reginaldo Nasser.

Reginaldo Nasser (*)

Há um ano teve inicio a revolta na Síria que se tornou o episódio mais trágico, polêmico e incerto das revoltas árabes. Os altos custos humanos, econômicos e sociais do conflito relacionam-se cada vez mais à luta estratégica travada entre as grandes potências e os poderes regionais sobre o futuro do país. Historicamente, nos momentos em que a Síria encontra-se unida e estável, ela representa um importante ator regional, mas quando esta dividida e instável, como agora, torna-se uma arena para a luta de forças externas, muito embora a revolta tenha se originado exclusivamente no seio de sua sociedade.

Ao comparar o regime político da Síria com o de outras repúblicas árabes, é notável suas diferentes características: uma política externa mais congruente com a opinião pública (de forma retórica ou não), forças de segurança mais leais ao governo, uma sociedade civil mais fraca e uma oposição mais fragmentada. Talvez por isso mesmo a resposta inicial do regime frente às manifestações foi misturar repressão, ao condenar os manifestantes como parte de uma conspiração estrangeira, com tentativas tradicionais de apaziguamento e de cooptação.

Para o regime e seus aliados, a sociedade na Síria é imatura e suas tendências sectárias só podem ser contidas por uma estrutura de poder fortemente centralizada. Nesse sentido, remover Bashar é permitir a guerra civil e a hegemonia de poderes islâmicos apoiados pela Arábia Saudita e seus aliados ocidentais. Na verdade, essa estratégia - dividir para reinar - foi herdada do colonialismo, que já alimentava as fraturas na sociedade com o receio de que pudessem vir a sustentar um novo sentimento democrático verdadeiramente nacional.

É preciso reconhecer que nem todos os alauitas apóiam o governo. Alguns setores como intelectuais e camponeses ressentem-se com a forma que sua comunidade tem sido instrumentalizada pelo regime. Cristãos, que estão geograficamente dispersos, adotam pontos de vista extremamente diferentes.
Os que estão em Damasco e Alepo, em geral, apóiam o governo, mas em muitas outras áreas, os cristãos revelaram simpatia com os manifestantes. Os Ismaelitas, com sede na cidade de Salamiya, estavam entre os primeiros a aderir à oposição. Também não são todos os sunitas que protestam contra o governo, como por exemplo as tribos Shawaya no nordeste do pais.

Mais do que uma questão étnica, religiosa ou mesmo geográfica o conflito deve ser visto como um fenômeno de mudanças da base social do poder do governo Bashar.

O golpe que levou ao poder uma nova elite composta por oficiais militares foi moldado por suas origens rurais nas lutas sociais dos nacionalistas da década de 1960, resultando numa simbiose entre o partido Baath e as forças armadas (da seita alauita). Isso sempre provocou ressentimento entre a maioria da comunidade sunita, mais especificamente, nos setores comerciais urbanos representados pela Irmandade Muçulmana. As rebeliões urbanas, incluindo a insurreição que abalou as cidades do norte no início dos anos 1980 é um reflexo disso. Depois desse episódio, proliferaram as agências de inteligência para proteger o regime, os quais se mantinham leais por meio da tolerância de suas práticas corruptas. Hafez al-Assad usou e abusou de uma política externa nacionalista (árabe), como um Estado de linha de frente com Israel, para obter ajuda dos paises do Golfo Pérsico e da União Soviética.

Mas com o fim da Guerra fria a ajuda externa diminuiu consideravelmente, provocando fortes impactos na base fiscal do Estado e fazendo com que suas vulnerabilidades econômicas viessem à tona, apesar das receitas provenientes das reservas de petróleo que também diminuíram no final da década de 90. A legitimidade política derivada do "contrato social" pelo qual o regime proporcionava alimentos subsidiados e emprego para as classes média e baixa entrou em crise, dando inicio a uma política de austeridade com o congelamento dos benefícios sociais e redução do poder aquisitivo dos funcionários públicos. Os gastos do governo caíram de forma pronunciada (de 50% para 25% do PIB). Nesse contexto o regime pode manter um equilíbrio precário entre os seus antigos aliados e recém-emergentes burgueses apelando, para a necessidade de um novo consenso

Buscando consolidar o poder dentro do regime que herdou de seu pai, Bashar viu enfraquecida a sua capacidade de sustentar seu poder sobre a nova base de apoio social. Ao mesmo tempo a legitimidade nacionalista de política externa já não era capaz de se conciliar com a identidade nacionalista árabe, no conflito com Israel, com a integração da Síria na economia mundial. Mas quando o regime parecia mais vulnerável e isolado, Bashar deslocou o comércio exterior da Síria para China, Irã, Turquia e países do golfo. Em 2005, a Síria aparecia como o quarto maior país beneficiário do investimento árabe. O investimento estrangeiro direto passou de US$ 111 milhões em 2001 para US$1,6 bilhão em 2006.

Essas ações proporcionaram alivio econômico para as contas do governo, mas resultaram em uma mudança significativa da base social de sustentação do regime que passou a transferir suas responsabilidades de proteção social e de criação de empregos para instituições privadas, respondendo à demanda da nova elite. As terras do Estado foram vendidas para os novos investidores, o que resultou na elevação do custo da moradia e, consequentemente, no crescimento de bairros pobres em torno das cidades.

Não por acaso nas principais cidades, Damasco e Aleppo, onde o boom de investimentos, o aumento do turismo e do novo consumo se concentraram, o governo foi capaz de mobilizar demonstrações de apoio importantes, embora tenha ocorrido revoltas em seus arredores. A classe média dessas cidades via inicialmente Bashar como o protetor da ordem, preferindo a estabilidade aos riscos de democratização que pudesse trazer a guerra civil e a perda de seu estilo de vida moderno. Mas, a partir do momento que o regime mostrou sua incapacidade de manter a segurança, passou a criar desconfiança entre alguns de seus aliados.

Dificilmente o regime irá sobreviver a esta crise, que pode assumir novos e perigosos contornos. Os manifestantes, cada vez mais desesperados, devido a brutal repressão, se submetem a qualquer tipo de ajuda exterior sem pesar o custo de certas alianças políticas que poderá desfigurar aquilo que apareceu como a maior ameaça ao governo: amplo movimento democrático autônomo exigindo profundas mudanças políticas e econômicas. Entretanto, ao tratar todo e qualquer manifestante como inimigo, Bashar forjou contra si mesmo uma coligação (interna e externa) muito grande.

Apesar de o regime de Bashar revelar sinais de esgotamento a economia do país não vai entrar em colapso no curto prazo. A Síria não esta completamente isolada e continua o comércio com Iraque, Jordânia, Irã, Rússia e China. Alguns bancos do Líbano são susceptíveis de agir como um paraíso para o dinheiro sírio. Quase todos os clássicos ingredientes para ocorrer uma revolução podem ser notados na Síria: crescimento demográfico, mobilização social, estagnação do desenvolvimento econômico, déficit fiscal crônico, aumento da desigualdade social e repressão política. Falta, entretanto, outro elemento necessário que abreviaria o final do regime: divisão das forças armadas.

Muito embora não se possa prever se, e quando, o regime de Bashr vai cair e muito menos quem serão os vencedores, cito aqui o velho ditado lembrado pelo prof Hamid Dabashi, que a partir de agora deverá ser válido para a Síria: você pode conquistar uma terra a cavalo, mas você deve descer para governá-la. Ou seja, quando os “novos conquistadores” tomarem o poder estarão de frente para uma nação que dificilmente será ludibriada ou amedrontada.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).