segunda-feira, 28 de junho de 2010

Irã quer participação do Brasil em conversas sobre programa nuclear

Mahmoud Ahmadinejad diz que o país persa só votlará a negociar com o Ocidente no fim de agosto

28 de junho de 2010 | 9h 38
Associated Press

TEERÃ - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse nesta segunda-feira, 28, que seu país não negociará com as potências ocidentais a respeito de seu programa nuclear antes do fim de agosto. A medida, segundo o mandatário, é uma "punição" aos países que votaram a favor de novas sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) contra o país persa em junho.

Em Teerã, Ahmadinejad disse a jornalistas que a decisão do governo é "uma punição ao Ocidente para ensiná-los o modo de negociar do Irã".

Ahmadinejad também disse desejar que Brasil e Turquia participem das negociações internacionais sobre o programa nuclear. Em maio, Irã, Brasil e Turquia firmaram um acordo, prevendo que o Irã enviasse urânio pouco enriquecido ao território turco, recebendo posteriormente em troca combustível para seu reator em Teerã.

O acordo foi visto pelos três países como um passo importante para romper o impasse, mas as potências fizeram ressalvas ao documento e acabaram aprovando uma quarta rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, no início de junho.

As sanções foram aprovadas pela recusa de Teerã a interromper o processo de enriquecimento de urânio, que pode ter tanto fins pacíficos como bélicos. Membros temporários no Conselho de Segurança, Brasil e Turquia se opuseram à resolução punindo o Irã, mas foram voto vencido.

Guerra psicológica

Também nesta segunda, o Irã acusou a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos EUA de realizar uma "guerra psicológica" depois de o diretor deste órgão, Leon Panetta, dizer a um canal de televisão que o país persa dispõe de urânio enriquecido suficiente para a "fabricação de armas nucleares" e que poderia produzir uma bomba atômica em dois anos.

"Esse tipo de declaração é parte de uma guerra psicológica lançada para dar uma visão negativa das atividades nucleares pacíficas do Irã", disse Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério de Exteriores do Irã, acrescentando que o programa nuclear iraniano tem fins pacíficos.

"Os responsáveis americanos e em particular seus serviços de inteligência sabem melhor que ninguém que o programa nuclear iraniano não é, de maneira nenhuma, militar", concluiu.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

As eleições Brasileiras.

O processo eleitoral em curso no Brasil permite algumas reflexões interessantes. A primeira delas diz respeito a dificuldade de diferenciar os discursos entre os três principais candidatos. Isto quer dizer, se Serra e Dilma não representam o antagonismo desejado por determinados setores da sociedade em termos analíticos. Pode-se somar a esse quadro o fato de que a candidata Marina Silva pode ser considerada um fato novo mais por sua biografia do que propriamente pelas proposições postas até o presente momento.
Em uma análise pouco mais pormenorizada de cada um desses candidatos, podemos afirmar em alguma medida que: a - Dilma Roussef ainda não possui indentidade própria e muito provavelmente é um desejo do comando de campanha petista que o eleitorado conheça menos de Dilma e a vincule sempre mais ao presidente Lula; b - José Serra tem a grande dificuldade de tornar um discurso técnico e desenvolvimentista em algo intelígivel a grande parte da população e c - Marina Silva tenta vender-se como algo novo saído da indignação popular com a política tradicional.
Analisando o último ator em primeira instância, pode-se afirmar que existem posições conflitantes claras entre o discurso pessoal de Marina Silva(com forte vinculação religiosa) como demonstrado em suas posições de twitter quando do falecimento de Saramago. E as expectativas de uma classe média laica e tolerante que decidiu comprar a candidatura como um meio de engajamento e protesto ao status quo.
Aproveitando a terminologia latina anteriormente citada, nota-se aparentemente que as ruas (termo sempre perigoso e volúvel) percebe José Serra como o candidato de uma situação que não se quer voltar. A vinculação do mesmo com o governo Fernando Henrique Cardoso é algo natural - pela sua atuação como ministro em tal administração - porém, em seu âmbito negativo sempre foi estimulado pelo atual governo.
Tal estratégia, centrada na necessidade vista pelo presidente de reforçar o âmbito plebiscitário da eleição, aparentemente negativa pode tornar-se positiva caso o candidato possa mostrar que esteve presente nas ações positivas do governo FHC e que esas ações se prolongaram no governo Lula. Entretando, vale ressaltar aqui a dificuldade já demonstrada por Serra e seu grupo em transformarem a mensagem do mesmo em algo palátavel às massas.
No concernente a Dilma Roussef, abre-se uma grande interrogação, pois, o seu maior trunfo - o fato de que ela representa a continuidade do momento virtuoso em que o país se encontra - pode tornar-se uma grande armadilha. Explica-se, a medida que os debates sejam necessariamente aprofundados entre os proponentes serão mais claras as semelhanças da mesma com o presidente Lula. Porém, serão também tornadas claras as diferenças entre ambos. E nesse aspecto especificamente, é fato que Dilma carece de uma das principais características do presidente Lula - Carisma.
O atual presidente possivelmente entrará para a história como um dos mais populares mandatários que este país possuiu até o presente momento. E essa popularidade é um mix da situação econômica virtuosa, mas, também da capacidade do presidente de fazer os cidadãos sentirem-se parte de algo maior. Essa aura carismática e paternal, para a infelicidade de Dilma não pode ser transferida automaticamente e isso gera uma pergunta: Conhecer mais de Dilma resultará em ganho ou perda de votos?
Pode-se, portanto, afirmar que o processo eleitoral ainda longe de seu momento mais crítico abre espaço para múltiplos cenários e possibilidades que devem ser acompanhados com muita atenção.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Breve Reflexão do Acordo de Teerã

A assinatura do acordo de Teerã revela algumas características interessantes das políticas externas de Brasil, Turquia e Irã. Sendo que a primeira destas é o fato de que ambos os atores desejam de alguma maneira ocupar mais espaço no Sistema Internacional. Porém, as perspectivas acerca do que significaria tal protagonismo podem ser interpretadas como uma divergência entre os mesmos.

Analisando brevemente o caso, pode-se afirmar que se do lado brasileiro o protagonismo reflete a tentativa de fazer parte de maneira mais ativa nos foros internacionais. Do lado turco o protagonismo está vinculado, sobremaneira, a necessidade do partido do primeiro ministro Edorgan de aumentar sua base de apoio interno junto à população desvinculada do secularismo Kemalista. O Irã por sua vez, é o ator que possui o complicador de estar cercado por Estados relativamente não simpáticos e com artefato nuclear (Rússia, India e Israel). Além, da presença massiva dos Estados Unidos no Afeganistão.

Tal emaranhado de interesses explica o quão inequivocadamente complexo é o sistema internacional. O ajuste de interesses distintos com um objetivo comum - protagonismo - gera vantagens diferenciadas para cada um dos atores envolvidos. Neste aspecto especificamente, num primeiro momento, por mais que a diplomacia brasileira tenha comemorado um triunfo. Pode-se entender que o principal beneficiário foi a Turquia, pois, se do lado brasileiro a vontade de transformar-se em membro permanente do Conselho de Segurança veio logo a mente dos críticos. Do lado turco, pouco foi cobrado, sobretudo, pela dependência dos centros de poder norte-americano e europeu ocidental de angariar a boa vontade do governo turco (via seu papel chave na Otan).

O resultado fundamental deste ensaio, baseado em um jogo tentativa-erro - aprovação de novas sanções contra o Irã e críticas mais ou menos duras aos mediadores desinteressados. Serve como mecanismo de entendimento do quanto as mudanças podem oscilar entre uma velocidade alta e lentidões. De maneira clara, parece ser possível confirmar que se novos atores tem vontade de fazer parte do sistema de maneira mais ativa. Pode-se concluir também que os velhos centros de poder não estão nada dispostos a cederem espaços que julguem desnecessários.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

An Iranian banana skin

Lula has little to show for his Tehran adventure
Jun 17th 2010 | BRASÍLIA

We won’t bow to pressure
ALTHOUGH Brazil has been a member of the UN Security Council on ten separate occasions since 1946, it had never before voted against a resolution backed by a majority of the council’s members. But on June 9th Brazil and Turkey both opposed further sanctions against Iran. In doing so it was out of step not just with its old allies, the United States and the European powers, but also with its new ones, Russia and China, all of which are worried by Iran’s nuclear programme. Why has the government of Luiz Inácio Lula da Silva stuck its neck out so far for Iran?

The short answer is that Lula, a former trade-union leader, fancies himself as the man who can talk Iran into obeying the world’s nuclear rules, and thinks sanctions will bring that effort to nought. Last month he flew to Tehran for talks with Iran’s president, Mahmoud Ahmadinejad, and Turkey’s prime minister, Recep Tayyip Erdogan. The three countries signed an agreement under which Iran would send to Turkey 1,200kg of its low-enriched (under 5%) uranium stocks; in return it would receive within a year more highly enriched (to 20%) fuel rods for its ageing medical-research reactor. Iran’s leaders also agreed to tell the International Atomic Energy Agency (IAEA) in writing of this plan. “We thought this was a gesture by them, a first demonstration of trust,” says Marco Aurélio Garcia, Lula’s foreign-policy adviser.

But to American and European officials, some of whom have negotiated with Iran for years, it looked as if Lula and his advisers had naively walked into Mr Ahmadinejad’s time-wasting trap. The terms of the deal were superficially similar to one reached under IAEA auspices last October (which Iran walked away from). But now Iran has nearly twice as much low-enriched uranium. And whereas the October deal would have robbed Iran of the excuse to enrich to 20% itself (a lot closer to the 90% needed for a bomb), it has since rushed to do just that. No sooner had Lula left Tehran than Iran’s nuclear chief said that enrichment to both the lower and the higher levels would continue. So America pushed forward with sanctions.

America and Brazil are now fuming at each other. Brazilian officials claim that the Tehran deal was in line with what Barack Obama had suggested to Lula in April, in a letter that they leaked to the local press. The Americans retort that this was just one of many communications with Brazil over the issue and has been plucked out of context. Worse than the Tehran deal itself was the leak and Brazil’s rejection of a Turkish proposal that both countries should have joined Lebanon in abstaining rather than voting against the resolution, according to a senior American official.

Under Lula, Brazil’s foreign policy has become more assertive. The government has recruited some 300 extra diplomats (and plans to add a similar number over the next four years). It has strengthened its ties with other emerging powers such as China, India, Russia and South Africa. Brazil now has more diplomatic missions in Africa than Britain has. Lula’s government has claimed leadership in Latin America more forcefully than its predecessors. And it has played a more active role on global issues such as trade, climate change and regulating the international financial system.

Much of this new assertiveness flows naturally from Brazil’s growing power, which stems from stability, a robust democracy, faster economic growth and successful social policies. It has generally been welcomed by the United States and Europe. But in the past couple of years Lula has taken up some more controversial stances. He has offered uncritical backing to Venezuela’s Hugo Chávez and Cuba’s Castro brothers. And he has struck up a friendship with Mr Ahmadinejad. All this goes down well at home with his Workers’ Party. His opponents detect a streak of anachronistic anti-Americanism.

The attempt to negotiate with Iran is part of “assuming our responsibility to promote peace and security” in the world, says Antonio Patriota, a senior diplomat. But it has given ammunition to the domestic critics of Lula’s foreign policy, who include some prominent retired diplomats (and, they say, many serving ones). “The Iranian adventure is incomprehensible, especially since there are various conflicts closer to us in which we haven’t tried, or haven’t managed, to mediate,” wrote Sérgio Amaral, a former ambassador, in O Estado, a São Paulo newspaper. He worries that Lula has gained nothing and succeeded only in drawing attention to Brazil’s refusal to accept enhanced outside inspection of its own peaceful nuclear programme (it says this would force it to divulge technological secrets, and that it allows Argentina to inspect its facilities freely under a bilateral agreement).

Lula’s adventure in Tehran smacks of the overconfidence of a politician who basks in an approval rating of over 70% and who sees the Iraq war and the financial crisis as having irreparably damaged American power and credibility. But the United States is still Brazil’s second-largest trading partner. Although some American and Brazilian officials are keen to prevent ill-will over Iran from spoiling co-operation in other areas, it nevertheless may do so. The United States Congress may be even less willing to support the elimination of a tariff on Brazil’s sugar-based ethanol, for example.

Lula wants the UN reformed to reflect today’s world, with Brazil gaining a permanent seat on the Security Council. But by choosing to apply his views on how the world should be run to an issue of pressing concern to America and Europe, and in which Brazil has no obvious national interest, Lula may only have lessened the chances that he will get his way.

domingo, 20 de junho de 2010

Era Uribe continua com vitória de Santos na Colômbia, dizem analistas

Novo presidente deve ter dificuldades de sair da sombra de seu antecessor.
20 de junho de 2010 | 22h 15
Claudia Jardim - BBC
O controvertido legado do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, no poder há oito anos, não termina com a vitória neste domingo do candidato governista Juan Manuel Santos, que promete dar continuidade às políticas de seu antecessor.

A vitória de Santos com 69% de apoio, mais de 8,9 milhões de votos, é uma espécie de "terceiro mandato" para a era Uribe, na opinião de analistas políticos ouvidos pela BBC Brasil.

"O uribismo continua vigente. A maioria hoje votou por um terceiro mandato de Uribe, não necessariamente por Juan Manuel Santos", afirmou a analista política Laura Gil, para quem a incógnita é se Santos conseguirá sair da sombra de Uribe e "impor uma marca pessoal a seu governo".

Para Rafael Nieto, analista político e ex-vice-ministro da Justiça, Santos tentará construir o "santismo" em substituição ao uribismo, mas não nos primeiros anos de governo.

"Santos reconhece que grande parte de seu êxito se deve aos oito anos do governo de Uribe e à sua popularidade", afirmou.

"Santos sabe que iria contra seus próprios interesses se começar marcar grandes distâncias com o presidente logo no começo".

Transição

Outro aspecto destacado pelos especialistas é o estilo de governar, onde Santos tende a marcar diferença em relação a seu antecessor.

Para Laura Gil, com a eleição de Santos, a Colômbia passará por uma transição. "Haverá a transição de um governo de uma elite agrária com suspeita de manter vínculos com paramilitares a uma elite tecnocrata, urbana, com pretensões dinásticas e modernizantes ao mesmo tempo", afirmou.

Outro aspecto pessoal que difere Uribe de Santos é a popularidade. O presidente colombiano entregará seu segundo mandato em 7 de agosto com cerca de 68% de popularidade, um dos mais altos índices da história.

"Santos não tem o carisma do presidente Uribe, não tem a mesma facilidade de dialogar com as pessoas, é mais frio, mais distante, mais aristocrático", afirmou o analista Rafael Nieto.

Por outro lado, Santos tende a ser mais conciliador que o atual mandatário. "Uribe gosta de confrontação", afirmou Nieto.

"Santos busca acordos, negocia permanentemente e isso pode permitir melhorar, principalmente, a relação com o poder Judiciário", afirmou.

A administração Uribe foi marcada, entre outros aspectos, por um intenso confronto com o Judiciário, que nos últimos anos julgou e condenou políticos envolvidos no escândalo de suposta compra de votos para sua reeleição.

A Justiça colombiana também investiga mais de 80 políticos, que pertencem a atual base governista, acusados de vínculos com paramilitares.

Em fevereiro, o ex-senador colombiano Mário Uribe, primo e aliado político do presidente da Colômbia, foi preso por suposto envolvimento com a "parapolítica", como ficou conhecida a articulação entre políticos e chefes paramilitares.

Parapolítica

Santos chega à Presidência com um confortável apoio de 80% dos parlamentares no Congresso. Para analistas, isso não seria um problema se parte desses congressistas não fosse acusada de envolvimento com paramilitares.

"Santos não romperá com esses grupos", afirmou o historiador Medófilo Medina, professor da Universidade Nacional da Colômbia.

Para ele, os "escândalos" envolvendo políticos e paramilitares - que marcaram os dois últimos anos da administração Uribe - tendem a ser mais "discretos" com Santos. "Porém, a presença do narcotráfico continuará existindo", afirmou.

Em entrevista coletiva, durante a campanha, Santos disse que não se aliaria aos parapolíticos.

Conservadorismo

No campo econômico, o historiador Medófilo Medina afirma que não haverá mudanças. "Continuará o modelo neoliberal", afirmou.

Santos tem prometido dar continuidade à política econômica de ajuste e benefícios fiscais para atrair novos investimentos e gerar novos postos de trabalho. O índice oficial de desemprego na Colômbia é de 12%, uma das mais altas taxas da América Latina.

Outra marca do uribismo que deverá permanecer "intacta" é a política de combate aos grupos guerrilheiros pela via armada, não negociada, apoiada pelo Plano Colômbia, aliança militar financiada pelos Estados Unidos.

Quando foi eleito em 2002 e reeleito em 2006, Uribe prometeu e implementou uma ofensiva militar sem precedentes contra as guerrilhas, que teria sido responsável pelo enfraquecimento dos grupos armados e por importantes golpes à estrutura militar das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Brasil

As críticas do governo do Brasil contra a assinatura do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos - que permite o uso bases militares colombianas por tropas americanas - é visto por analistas colombianos como o "estopim" que terminou por distanciar ainda mais as relações entre Brasília e Bogotá.

Para a analista política Laura Gil, Santos buscará uma reaproximação com o Brasil. "As relações diplomáticas foram muito afetadas, mas acredito que o governo e Santos entenderam que Brasil é um aliado muito importante, do qual não se pode afastar", afirmou.

Para Gil, Santos continuará sendo o principal aliado dos Estados Unidos na região, mas ao mesmo tempo buscará uma zona de distensão com os vizinhos, de olho em promover um isolamento do presidente venezuelano Hugo Chávez.

"A relação privilegiada com Estados Unidos continuará, mas haverá uma tentativa de aproximação com a América Latina. Santos tentará fortalecer esses laços para isolar Chávez", afirmou Gil.

Para a cientista política Consuelo Ahumada, professora da Universidade Javeriana, o resultado das urnas neste domingo mostra o caráter conservador da sociedade colombiana.

"Vemos uma sociedade conservadora, à direita, que está disposta a aceitar muitas coisas em troca do combate às guerrilhas", afirmou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Mortes e abstenção marcam o segundo turno da eleição colombiana

O governo colombiano confirmou neste domingo que sete políciais foram mortos em um ataque de supostos guerrilheiros no departamento (estado) de Norte de Santander. Outros três foram assassinados em Meta, centro do país.

As baixas foram confirmadas pelo ministro da Defesa, Gabriel Silva. Mais cedo, o titular da pasta do Interior, Fabio Valencia, reportou que até as 12h locais (14h no horário de Brasília) foram registradas três ações violentas em distintas regiões.

"Comparadas a outras ocasiões, houve uma melhora de mais de 50%", afirmou Valencia em um boletim sobre a jornada eleitoral, iniciada às 8h locais (10h no horário de Brasília), que elege o sucessor do presidente Álvaro Uribe.

Por sua vez, a Registradoria Nacional confirmou a mudança de 170 colégios eleitorais, em decorrência de ameaças de grupos guerrilheiros.

"O material é alvo de fustigação, ou seja, grupos armados ilegais o queimam ou não deixam as mesas serem instaladas", esclareceu o chefe do órgão responsável pelo processo eleitoral, Carlos Ariel Sánchez.

Segundo reportes da imprensa, no estado de Huila, vários homens, que se diziam membros das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), entraram em confronto com militares. Jornais locais também apontam que bombas foram desativas e um veículo de transporte coletivo foi incendiado em outros pontos do país.

Cerca de 350 mil policiais e militares foram designados pelas autoridades locais para acompanhar o segundo turno das eleições, entre o opositor Antanas Mockus e o governista Juan Manuel Santos.

Além da violência, outro fator que ameaça o sucesso das votações é a abstenção. Ainda segundo dados locais, até o momento aproximadamente três milhões dos 29,9 milhões de eleitores compareceram às urnas.

Tradicionalmente marcadas pelo abstencionismo, as eleições colombianas podem ainda ser influenciadas pela Copa do Mundo de 2010. Apaixonados por futebol, os colombianos poderiam deixar de sufragar para assistir à disputa entre Brasil e Costa do Marfim, na tarde de hoje.

O mau tempo é outro vilão do dia. Fortes chuvas atingem diversas partes da Colômbia desde o início da manhã. As mais de 72 mil urnas serão fechadas às 16h locais (18h no horário de Brasília).

Diplomacia brasileira, novas variações críticas


20 de junho de 2010 | 0h 00

CELSO LAFER - O Estado de S.Paulo

A política externa do governo Lula tem sido objeto de crescentes críticas. São muitos os rumos que vêm sendo questionados. No plano mais geral, aponta-se que o Itamaraty não tem escolhido os campos de atuação que oferecem ao nosso país, que alcançou um novo patamar internacional em função das transformações internas iniciadas com a redemocratização, as melhores oportunidades para se beneficiar da nova multipolaridade do cenário mundial.

É o caso da prioridade dada à busca de um reconhecimento protagônico na esfera da alta política da paz e da guerra no Oriente Médio (Irã), em detrimento da ênfase em resultados mais significativos em áreas mais próximas da influência real do Brasil. As tensões do contexto da nossa vizinhança (a animosidade Colômbia-Venezuela) e as que afetam nossas fronteiras e a vida nacional (trânsito de drogas da Bolívia) são minimizadas no dia a dia da condução diplomática. Interesses específicos do País e os seus interesses gerais, na boa dinâmica de funcionamento da ordem mundial, em síntese, não vêm sendo articulados de maneira eficiente em razão da obsessiva prevalência atribuída à paixão pelo prestígio.

Em contraste com as paixões, interesses são aspirações que levam em conta uma raciocinada avaliação do como efetivá-las. O como é fundamental, pois a realidade oferece resistência a aspirações que são apenas desejos. Daí a importância do bom juízo diplomático, que conjuga, com criatividade, o que se quer com o que se pode. É precisamente um exemplificativo rol de inadequados juízos diplomáticos do governo Lula o que listo a seguir.

As difíceis negociações na OMC não foram acompanhadas por concomitante interesse em buscar acordos comerciais regionais ou bilaterais propiciadores de acesso a mercados para os produtos brasileiros que carecem de preferências no continente e no mundo. A diluição crescente do significado econômico e político do projeto Mercosul não só está sendo passivamente aceita, mas viu-se agravada pelo empenho governamental em incorporar a Venezuela de Hugo Chávez, cuja visão de integração é apenas a de juntar forças para se opor aos EUA.

Sólidas iniciativas do governo FHC, como a Irsa, direcionadas para projetos de integração de infraestrutura regional sul-americana, ficam na penumbra e destaque é dado à criação de inócuos foros novos, como a União Sul Americana de Nações (Unasul). O Tratado de Cooperação da Amazônia, que reúne todos os países da Bacia Amazônica e poderia impulsionar a cooperação regional voltada para a preservação sustentável do bioma amazônico e, assim, contribuir para o encaminhamento de um dos grandes itens da agenda ambiental, dorme nos escaninhos do Itamaraty.

O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.

É altamente discutível se o princípio constitucional da eficiência da administração pública se vê atendido seja pela indiscriminada abertura de novas embaixadas e de consulados-gerais (mais de 40), seja pela exagerada ampliação das vagas de ingresso na carreira, que compromete o padrão de qualidade da formação profissional dos quadros diplomáticos.

O princípio constitucional da impessoalidade da administração pública é continuamente posto em questão pela sofreguidão com que os responsáveis pela diplomacia brasileira se dedicam a glorificar o impacto da presença do chefe de Estado no cenário mundial. Essa celebração do prestígio do presidente aponta para um personalismo populista que impede a construção de um consenso mínimo em torno da política externa como uma política pública de interesse nacional.

A partidarização da política externa, com seu viés ideológico, tem sido um caminho para obscurecer e colocar em segundo plano a sua dimensão de política de Estado que, levando em conta os fatores da persistência da inserção internacional do Brasil, contribui para assegurar a previsibilidade e a confiabilidade externa do País. Observo que para a contundência crítica à política externa do atual governo muito tem cooperado a postura partidária dos seus responsáveis, que, sem base histórica, configuram a presidência Lula como o marco zero da diplomacia brasileira. Quem semeia os ventos da desqualificação colhe as tempestades do dissenso.

Em síntese, o que os críticos da política externa do governo Lula apontam é que a diplomacia brasileira está optando pelo inefável do prestígio em detrimento da realidade dos resultados. Por isso não vem traduzindo apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas; não identifica corretamente as prioridades nacionais a serem defendidas no plano internacional; não escolhe com discernimento nem os campos de atuação nos quais o Brasil pode colher os melhores frutos para a efetiva defesa dos seus reais interesses nem os parceiros mais compatíveis com o progresso democrático interno; desconsidera valores e, deste modo, descapitaliza o legado do soft power do nosso país.

É a expressão intransitiva da "glória de mandar", "desta vaidade a quem chamamos Fama", para concluir com Camões.

PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES/GOVERNO FHC

sábado, 19 de junho de 2010

China anuncia política mais flexível no câmbio do yuan

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A China anunciou neste sábado que vai flexibilizar o yuan, informou o Banco Central neste sábado, indicando que está pronto para acabar com 23 meses de câmbio fixo que ficou sob intensa pressão mundial.

A decisão anunciada de surpresa indica que a apreciação será feita de forma gradual.

"Dada à recente situação econômica dos mercados nacional e internacional e do balanço de pagamentos chineses, o Banco Central da China decidiu avançar na reforma do regime de câmbio e aumentar a flexibilidade da taxa de câmbio", disse o Banco Central em comunicado postado no site.

No texto divulgado na internet de hoje, o regulador chinês utiliza a palavra oficial "renmimbi" (literalmente "moeda do povo") em lugar de yuan.

O BC chinês descartou uma valorização de uma só vez ou maior apreciação como muitos críticos esperavam, afirmando que "não havia base para grandes flutuações ou mudanças" na taxa de câmbio.

Entretanto, ficou claro que a China pretende com seu anúncio --publicado em inglês ao mesmo tempo que em chinês-- marcar o fim da rigidez de facto da cotação do iuan em relação do dólar, que tem sido defendida como uma "política especial" para proteger a economia da crise financeira global.

Ainda é preciso esperar se o anúncio será suficiente para apaziguar os críticos, especialmente os parlamentares norte-americanos, que dizem que uma moeda chinesa subvalorizada dá uma vantagem comercial injusta.

"A economia global está se recuperando gradualmente. A recuperação e a retomada da economia chinesa se tornou mais sólida com a estabilidade econômica reforçada", disse o BC chinês.

A declaração da autoridade monetária chinesa é muito diferente do tom das recentes expressões de membros do governo, que negaram mudanças na política cambial do yuan (moeda não conversível) e se opuseram às pressões internacionais dos países que consideram que Pequim a mantém artificialmente baixa para favorecer suas exportações.