sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Opinião - Pelo Direito de livre Manifestação por Priscilla Otoni.

Margarida, amarga vida!

Por Priscilla Otoni


No dia 17 de agosto de 2011, o Brasil assistiu, pela quarta vez, a Marcha das Margaridas. Esse movimento constitui uma ação estratégica das mulheres do campo e da floresta para a busca de visibilidade, reconhecimento social e político e cidadania plena. Homenageia a trabalhadora rural e líder sindical Margarida Maria Alves, morta a mando de José Buarque de Gusmão Neto, um usineiro de Alagoa Grande, no Estado da Paraíba.

Realizada, dessa vez, em Brasília, centro político do país, a Marcha reuniu em torno de 70 mil trabalhadoras rurais em uma manifestação pacífica, legal, legítima e consolidou importante contribuição para afirmar e maturar a prática democrática brasileira.

O Brasil é uma democracia em evolução, na qual a sociedade, em regra, estática e passiva diante dos inúmeros problemas sociais, políticos, econômicos e ambientais que acometem o país, ainda carrega algumas heranças autoritárias e excludentes, principalmente as originárias do nefasto e ainda obscuro período da ditadura militar. As muitas reações contrárias à manifestação demonstram a permanência dessas heranças, ao evidenciar a existência de setores antidemocráticos e certo grau de imaturidade democrática da população.
Os cidadãos brasilienses, parecem não saber ao certo o significado do exercício da cidadania. Em nome de uma suposta usurpação de direitos negam princípios básicos da democracia aos participantes da Marcha. Alguns não conseguiram chegar ao trabalho e reclamaram para si o direito de ir e vir praticado pelos manifestantes. É verdade que o direito de ir e vir se aplica a todos. Entretanto ele só teria sido transgredido se a lei se aplicasse aos carros e não às pessoas.
É bom lembrar que Brasília é o centro político de um país democrático e, por isso, é natural ser palco de protestos e manifestações dos cidadãos para reivindicarem direitos e manifestarem interesses, em suma, para exercerem a cidadania. A área compreendida entre a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes é eminentemente pública e deve atingir seu objetivo, sendo inadmissível, portanto, a sua transformação em espaços privativos para estacionamentos e exclusivos para o fluxo de veículos.
Motoristas ficaram descontentes com os transtornos causados no trânsito. Para muitas pessoas as manifestantes Margaridas foram as grandes responsáveis pelo caos gerado na cidade. Se esqueceram, no entanto, que a situação caótica do trânsito é diária e pode ser explicada por um fator simples e cristalino: o excesso de carros nas ruas. E a tendência é piorar, já que as condições dos transportes públicos permanecem precárias e a indústria automobilística não abre mão do seu crescimento a taxas expressivas a cada ano. Estima-se, para daqui a quatro anos, um acréscimo de 480 mil veículos na frota da Capital Federal. Isso significará a existência de 1,7 milhão de carros em Brasília no ano da Copa do Mundo. Certamente, ninguém chegará ao trabalho. A situação será insustentável e ninguém estará indignado por não chegar ao seu lugar de destino em dia de jogo da Copa do Mundo. (http://www.jornaldebrasilia.com.br/site/noticia.php?id=359741)
É importante ressaltar que a Constituição Federal assegura como direito fundamental a liberdade de expressão, tão aclamada pela classe dos jornalistas. Todavia, por vezes escutamos alguns, ainda ofuscados pela influência doutrinária do regime militar, disfarçados de defensores dos direitos democráticos, utilizarem-se dos meios de comunicação para destilar sua ira contra legítimos movimentos populares.
O artigo 5 °, inciso XVI da CF estabelece que: “Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
A Marcha das Margaridas foi informada às autoridades brasilienses e os meios de comunicação notificaram o acontecimento com vários dias de antecedência, já com a previsão dos transtornos. Entretanto, muitas pessoas sequer sabiam que a Marcha aconteceria e, na ocasião, se sentiram feridas no seu direito de ir e vir. E a culpa é de quem? Dos manifestantes ou da alienação de alguns cidadãos que desconhecem o valor da cidadania e da democracia e se preocupam apenas com seu próprio bem-estar?
As ativistas fizeram sua parte e estavam amparadas constitucionalmente. Em uma democracia sólida as pessoas têm o direito e a liberdade de defender seus interesses. Aqueles que se incomodaram com o movimento das Margaridas são livres para irem às ruas manifestarem suas inquietações e descontentamentos. A Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes atingem seu objetivo com isso! É intrigante refletir sobre as razões motivadoras da criação de um movimento contra a desordem causada pela Marcha das Margaridas. Vejamos:
Primeira razão: Caos no trânsito e o fechamento das principais vias da cidade.
A grande questão está no papel que as autoridades devem desempenhar, no sentido de agir em prol do interesse público com vistas a amenizar os transtornos e garantir a permanecia da ordem. A responsabilidade de organizar o trânsito em dias de manifestações é das autoridades. Portanto, os transtornos causados foi fruto da ineficácia do Poder Público e da sua completa ausência em fornecer alternativas de transporte para que os cidadãos pudessem cumprir suas obrigações e exercer seu direito de ir e vir com plenitude. A responsabilidade pelo caos em Brasília é das autoridades que permitiram o crescimento desordenado da cidade sem prover a infra-estrutura adequada para que se possa exercer a cidadania sem ferir os direitos de outrem. Se o Poder Público não exerce seu papel com eficácia a culpa não pode ser direcionada para as manifestantes.
Segunda razão: Realizar manifestações em horários nos quais há muito fluxo de carros nas ruas é no mínimo um absurdo.
A realização da manifestação em horários de grande fluxo faz parte da estratégia para o alcance dos objetivos do Movimento. Afinal de contas, se 70 mil Margaridas marchassem pela madrugada rumo ao Congresso Nacional, sem a geração do desconforto à população, não haveria necessidade das autoridades brasilienses se mobilizarem para a organização da marcha e, tampouco, dos meios de comunicação notificarem o acontecimento. O horário é determinante para o nível de repercussão que se pretende atingir. Os transtornos e a relativa desordem causam impacto e, por isso, são imprescindíveis para o atingimento dos resultados. Manifestar significa criar desconforto, em uma sociedade que se torna cega por estar submersa na alucinação do cotidiano. Nesse caso, incomodar os cidadãos brasilienses é lembrá-los das causas que o Brasil e o mundo também deveriam abraçar.
Terceira razão: Quem garante os direitos das Margaridas é o Estado e a população não precisa estar envolvida e não pode ser prejudicada.
O responsável por garantir os NOSSOS direitos é um Estado omisso na sua função de promotor do bem-estar social e a serviço do poder econômico. O único caminho para o Brasil se tornar o país dos cidadãos é pressionar as autoridades e cobrar mudanças. E isso, 70 mil Margaridas fizeram. Essas mulheres vieram protestar contra as desigualdades sociais. Vieram denunciar todas as formas de violência, exploração e dominação. Vieram cobrar das autoridades a construção da igualdade entre gêneros. Vieram manifestar por reformas políticas e econômicas que garantam sustentabilidade, justiça, autonomia, igualdade e liberdade. Mulheres maltratadas pela vida, partiram dos seus lugares de origem rumo à capital federal para reivindicar, não o direito de alguns a condições dignas de vida, mas o direito de TODOS. As causas abraçadas por esse Movimento não são pertencentes a um grupo especifico de mulheres. Todas as questões reivindicadas dizem respeito a um Brasil de desiguais e a um mundo de desiguais. Dizem respeito, também, aos principais e grandes desafios globais: desenvolvimento sustentável e humano, direitos humanos, combate a pobreza, democracia, entre outros. Portanto, para um movimento como esse ser ouvido a população precisa estar envolvida e a relativa “desordem” é necessária para que os objetivos sejam alcançados. São preferíveis os tormentos causados em um dia de manifestações que a paz amedrontadora dos tempos da ditadura. Diante da relevância dos objetivos do Movimento, os transtornos provocados pela marcha foram importantes para a potencialização da sua publicidade, indo ao encontro do interesse público.
Quarta razão: As margaridas estavam no parque da cidade realizando comemorações antecipadas com dinheiro público e, em alguns anos, vão decorar as páginas policiais com uma plantação de dinheiro público desviado.
Esse tipo de argumento demonstra como a discriminação está arraigada no cerne da sociedade. Certamente, em um grupo de 70 mil pessoas há gente de todo tipo e de todas as idades. Não surpreenderia que em um grupo tão representativo houvesse desvios de comportamento. Entretanto, generalizar é julgar as pessoas com preconceito. Além disso, a insatisfação com comemorações antecipadas evidencia o completo desconhecimento da população em relação à luta das Margaridas e às reivindicações já conquistadas e merecedoras de comemoração. A própria formação de um movimento que conseguiu aglutinar 70 mil pessoas em torno de interesses comuns é uma grande conquista. Para aqueles que se posicionam de forma superficial, simplista e tendenciosa seguem abaixo as principais conquistas das Margaridas:

1- Documentação, acesso à terra, apoio às mulheres assentadas e políticas de apoio a produção na agricultura familiar.
2- Criação do Programa Nacional de Documentação da Mulher Trabalhadora Rural – PNDMTR.
3- Fortalecimento do PNDTR com ações educativas e unidades móveis em alguns estados.
4- Titulação Conjunta Obrigatória - Edição da Portaria 981 de 02 de outubro de 2003.
5- Revisão dos critérios de seleção de famílias cadastradas para facilitar o acesso das mulheres a terra.
6- Edição da IN 38 de 13 de março de 2007 - normas para efetivar o direito das trabalhadoras rurais ao Programa Nacional de Reforma Agrária, dentre elas a prioridade às mulheres chefes de família.
7- Capacitação de servidores do INCRA sobre legislação e instrumentos para o acesso das mulheres a terra.
8- Formação do Grupo de Trabalho (GT) sobre Gênero e Crédito e a Criação do Pronaf Mulher.
9- Criação do crédito instalação para mulheres assentadas.
10- Declaração de Aptidão ao Pronaf em nome do casal.
11- Ações de Capacitação sobre Pronaf - Ciranda do Pronaf e Capacitação em Políticas Públicas.
12- Inclusão da abordagem de gênero na Política Nacional de Ater e da ATER para Mulheres.
13- Apoio ao protagonismo das mulheres trabalhadoras nos territórios rurais.
14- Criação do Programa de Apoio a Organização Produtiva das Mulheres.
15- Apoio para a realização de Feiras para comercialização dos produtos dos grupos de mulheres.
http://www.contag.org.br/hotsites/margaridas/interna.php

A Marcha das Margaridas é formada por mulheres feridas pela vida e que lutam, diariamente, contra a fome, a pobreza e a violência sexista. Mulheres conhecedoras de um Brasil que nós, engessados na ilha da fantasia dos doutores de colarinho branco, desconhecemos.

Essas mulheres partiram para a cidade garantida, a Capital Federal democrática, que deve garantir o direito de todos os cidadãos em manifestar seus interesses. Essas mulheres partiram para a cidade proibida, proibida por não dispor de estrutura adequada para comportar grande número de manifestantes e proibida, também, pela imaturidade democrática dos seus cidadãos. Essas mulheres vieram “para a cidade garantida, proibida, arranjar meio de vida, Margarida... essas feridas da vida, Margarida... essas feridas da vida, amarga vida” (Veja [Margarida] – Vital Farias).

“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”
(Margarida Maria Alves)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Economist - Eleições presidenciais dos EUA.

A beatable president

But only if a Republican candidate starts laying out a sensible plan for the American economy

Jun 9th 2011 | from the print edition


NEXT week a collection of largely unknown Republicans will hold the first proper TV debate of the 2012 presidential campaign. Whoever eventually wins their party’s nomination then has to take on Barack Obama, the giant of American politics. The president has a huge war-chest, his own party firmly behind him and a rare capacity to inspire. Yet he is vulnerable. This week a poll showed him in a dead heat with Mitt Romney, the Republican front-runner. America’s sluggish recovery will give any challenger a chance. The question is whether any Republican has the personality and especially the ideas to take him on. For the best way to make this race competitive—and the best thing for America—is to force voters to confront the hard choices their country has to make.

This time, Mr President, you are playing Goliath

In terms of the horse race, an incumbent president (especially if he is without a primary challenger) usually has a head start. While the Republicans spend the next year clobbering each other, Mr Obama can appear statesmanlike and husband his resources. His approval rating is in the 50s, better than Bill Clinton’s at this stage in the proceedings in 1995, before he went on to score a solid victory against Bob Dole in 1996.


But whereas that Clinton race should encourage Mr Obama, the previous one should worry him. In spring 1991 George Bush senior was coasting towards re-election; by November 1992 the president was toast—and the main reason was a sluggish economy. This recovery, in the wake of the worst financial shock since 1929, is even slower. Growth in the first quarter was a feeble 1.8%. The unemployment rate actually rose, to 9.1%, in May: the rate of job creation is barely keeping track with the natural increase in the working-age population. Twice as many Americans think the country is on the wrong track as the right one. Many of the places where Americans feel angriest are battleground states: Florida, Michigan and Ohio all saw big Republican gains in the 2010 mid-terms.

In 2008 Mr Obama represented change. This time he will have to fend off charges that he is to blame for the achingly slow recovery by arguing that it would have been worse without his actions, such as his $800 billion stimulus package and the takeover of GM and Chrysler. That may be true but it is not easy to sell a counterfactual on the stump (as the first President Bush learned). And there are other holes in Mr Obama’s record. What happened to his promises to do something about the environment or immigration or Guantánamo? Why should any businessman support a chief executive who has let his friends in the labour movement run amok and who let his health-care bill be written by Democrats in Congress? Above all, why has he never produced a credible plan to tackle the budget deficit, currently close to 10% of GDP?

Asking these questions will surely give any Republican a perch in this race. But to beat the president, the Republicans need both a credible candidate and credible policies.

In terms of talent, the current line-up is not without hope (see article). Jon Huntsman, Tim Pawlenty and Mr Romney have all been first-rate governors: they can claim the sort of hands-on experience of government that Mr Obama so signally lacked in 2008. Mr Romney could get it right this time (see Lexington); or the more charismatic Mr Huntsman could soar. All the same, there are other current and former governors who this newspaper wishes were in the race—notably Jeb Bush, Chris Christie, Mitch Daniels and Rick Perry. As for Sarah Palin, her antics are helping no one, other than Mr Obama; she should put up, or preferably shut up. Michele Bachmann, a right-wing congresswoman, can carry the tea-party banner.

Yes you can—if we can afford it

Talent is less of a problem than policies. A serious Republican candidate must come up with answers to the two big problems facing America’s economy: how to get more people back to work, and how to fix the deficit. The first requires a swathe of bold structural reforms to boost jobs and growth, the second a credible plan to balance the books in the medium term that does not wreck the economy in the short term.

When it comes to encouraging jobs, the Republican failure is largely one of inventiveness. They focus merely on tax cuts and slashing red tape. But what about a big new push to free up trade? Or an overhaul of the antiquated unemployment-insurance scheme and worker-training programmes that gets business more involved? Or serious immigration reform?

The Republican failure on the deficit is more serious. Mr Obama is deeply vulnerable here, not least because he is still trying to kid Americans that their fiscal future can be shored up merely by taxing the rich more. But the Republican solution of tax cuts and even deeper spending cuts (typified by Mr Pawlenty’s proposals this week) is arguably worse. Most of the burden of repairing America’s public finances should certainly fall on spending. But the deficit is simply too large to close through spending cuts alone. The overall tax take—at its lowest, as a share of GDP, in decades—must eventually rise.

An honest Republican candidate would acknowledge this and lay out the right way to do so—for instance, by eliminating distorting loopholes and thus allowing revenues to rise. He (or she) would also come up with a more systematic plan on the spending side. No Republican seems to understand the difference between good spending and bad. Investment in roads and education, for instance, ought not to be lumped in with costly and unreformed entitlements, like Social Security and Medicare. Defence should not be sacrosanct. That Mr Obama has no strategy either is not an excuse.

In most elections promising toughness is not a successful tactic; but this time Americans know that their country has huge problems and that their nation’s finances are the biggest problem of all. In Britain the Conservatives made the incumbent Gordon Brown seem ridiculous by spelling out the austerity that he at first barely dared mention; now another tough-talking centre-right party has won in Portugal (see article). If ever there was a time for pragmatic conservative realism, it is now. Mr Obama might also bear that in mind.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pelo Direito de livre Manifestação.

Essa nota é uma demonstração de apoio deste blog a Marcha das Margaridas realizada no dia 17 de Agosto de 2011 em Brasília. Marcamos posição com a tese de que em um estado democrático e de direito é livre o direito de manifestação desde que sejam obedecidas as premissas constitucionais. E no caso específico da manifestação em curso todos os preceitos parecem ter sido obedecidos.
Aos habitantes da cidade que se sentiram prejudicados de alguma forma em suas rotinas faz necessário dizer que cabe ao governo em suas instâncias federal e local criar alternativas que diminuam seus transtornos. Ao manifestante por sua vez cabe manifestar, sem contudo, usar de violência.

Comentário - Estados não reconhecidos.

Ontem li um artigo no NY Times - compartilhado logo ao final deste comentário - que discutia a situação de países teoricamente soberanos, mas, sem reconhecimento da comunidade internacional.
Chama atenção o fato de que em alguns casos o reconhecimento de alguns destes atores seria um elemento estabilizador para situações de conflito e miséria, tendo-se como exemplo a Somalilândia.
Outros casos, por sua vez, como o Cipre Turco são elementos de instabilidade e ainda têm-se o caso de Taiwan.
A pergunta é: Até que ponto as regras de reconhecimento de um país são realmente efetivas? Outra pergunta daí derivada: Que interesses são levados em consideração na hora de se reconhecer um novo ator no Sistema Internacional?
Vamos ao debate?

Logo abaixo segue o artigo para apreciação:

The Phantom Menace
By DANIEL L. BYMAN and CHARLES KING
Published: August 15, 2011

THREE years ago this month, Russia and Georgia fought a brief and brutal war over an obscure slice of mountainous land called South Ossetia that had declared its independence from Georgia. Flouting international law, Russia stepped in to defend South Ossetia and later formally recognized the secessionists as a legitimate government. Hundreds died and thousands of refugees fled the disputed region.

The 2008 war demonstrated the explosive potential created by the presence of phantom states: places that field military forces, hold elections, build local economies and educate children, yet inhabit the foggy netherworld between de facto existence and international legitimacy.

With about 70,000 people, South Ossetia is one of the smallest of these oddities of international politics. Its fellow breakaway republic, Abkhazia, has approximately 250,000 (these numbers are disputed). Nagorno-Karabakh and Transnistria are two others in the former Soviet Union. To the south are the Turkish Republic of Northern Cyprus; the Palestinian territories in the West Bank and Gaza Strip; and the self-functioning territory of Somaliland. A half dozen other patches of land could be added to the mix; together, they are home to approximately 40 million people.

Phantom states stoke wars, foster crime, and make weak states even weaker. Nagorno-Karabakh is lauded by Armenia and loathed by Azerbaijan, leading all sides to stockpile arms in case of renewed violence. The unsettled status of Northern Cyprus weakens the economic prospects of all Cypriots and strains relations between the European Union and Turkey, Northern Cyprus’s chief supporter. And although Somaliland has been an island of effective governance in anarchic Somalia, its unrecognized status has discouraged aid and investment.

Phantom countries frequently emerge from wars, and are sustained by the threat of further fighting. In Gaza, Hamas has waged an off-and-on war with Israel even as it has cracked down on local crime and picked up the trash.

Leaders of phantom states champion the right to national self-determination while the countries from which they seek independence stress the need for stable borders. Stuck between these incompatible principles, phantom governments tend to point out uncomfortable precedents and double standards and latch on to foreign patrons. Indeed, most phantoms survive in part because of external support. Moscow is the power broker in South Ossetia and Abkhazia, while Armenia holds sway over Nagorno-Karabakh.

Taiwan shows one way out of this conundrum; despite existing in a state of legal uncertainty, it has thrived. From 1949 to 1971 the Nationalist government in Taiwan held China’s seat at the United Nations and was recognized by most world governments. Since the 1970s, however, no major power has formally recognized Taiwan and it remains a source of tension between the United States and China. Yet, in the past four decades, Taiwan has become an economic powerhouse, a model of democratic transition from authoritarian rule and a responsible member of the international community — all without a seat at the United Nations.

The key was engagement. Taiwan’s economic and strategic importance pushed the United States, China and other great powers to tiptoe around — and sometimes even embrace — its unsettled legal status. Legitimate but unrecognized, a real country but not independent, Taiwan has demonstrated the positive power of creative ambiguity.

A similar approach could work elsewhere. Phantom governments are often corrupt, run by warlords and plagued by drug trafficking and other illicit trade. But transparent government, free elections and a peaceful foreign policy are as vital for phantom states as they are for real ones. If phantom governments behave well, they should be offered a path toward legitimacy by the world’s major powers. Economic and political reforms can proceed parallel to, and even bolster, discussions over sovereignty.

By insisting on territorial integrity, the United States and other countries forgo the chance to turn phantom states into responsible players. So long as phantoms are denounced as separatists or outposts of illicit commerce, the international community has little opportunity to hold their leaders accountable. And treating them as mere eccentricities means that phantom states have little reason to care about the international order.

Even when a phantom state becomes a genuine state, the problems don’t necessarily end. Eritrea, which seceded from Ethiopia in 1993 after years of war, is a warning. It has since fallen into tyranny, fought a border war with Ethiopia in which many thousands died, and supported the brutal Shabab militia in Somalia. Although Eritrea is independent, it remains a source of instability.

To avoid another Eritrea, the international community should push phantoms to reform rather than focusing exclusively on seeking statehood. Otherwise, millions of the world’s citizens will linger in legal and political limbo — rebels with a cause and soldiers with a ready-made grievance — while their neighborhoods remain at risk of war.

Daniel L. Byman is research director of the Saban Center for Middle East Policy at the Brookings Institution. Charles King is the author of “Odessa: Genius and Death in a City of Dreams.” They are professors at Georgetown University.
This article has been revised to reflect the following correction:

Correction: August 16, 2011


Because of an editing error, a previous version of this article cited lower estimates for the populations of two places, South Ossetia and Abkhazia, than were reported in the original version. As the current version correctly notes, the original figures — which are cited by several organizations — are a matter of dispute.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Correio Braziliense - Crise Econômica

Previ, Funcef e Petros compram ações para evitar nova queda da Bovespa

Rosana Hessel Clique aqui para ver a notícia no site

Por determinação do Palácio do Planalto, os três maiores fundos de pensão do país, todos vinculados a estatais, entraram pesado, ontem, no mercado comprando ações e evitaram uma nova queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mesmo com o mundo derretendo por causa das suspeitas em relação à saúde da economia europeia, sobretudo a da França, a segunda maior da Zona do Euro. A Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), a Petros (dos empregados da Petrobras) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal) intensificaram a atuação quando o pregão paulista computava queda de mais de 2% e um início de pânico tomava conta dos investidores.

A operação chapa-branca, como os operadores estão chamando o movimento das fundações, fez com que o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas, encerrasse a quarta-feira com valorização de 0,48%. Um resultado e tanto diante do rastro de prejuízos que se viu nos Estados Unidos e na Europa. Em Nova York, o índice Dow Jones desabou 4,62% e a Nasdaq, a bolsa eletrônica, encolheu 4,09%. Em Paris, as perdas chegaram a 5,45%. Em Milão, com a Itália também sob a mira da desconfiança, o tombo chegou a 6,65%. Em Madri, houve recuo de 5,49%. Nos mercados de Frankfurt e de Londres, computou-se baixa de 5,13% e de 3,05%, respectivamente.

“Durou apenas um dia a trégua nos mercados financeiros mundiais”, disse um operador de um banco estrangeiro. “No Brasil, só não houve o derretimento da bolsa por causa da ação dos fundos de pensão de estatais, que já respondem por quase 40% de todos os negócios da Bovespa. As fundações, por sinal, ensaiaram uma intervenção na última segunda-feira, quando a queda de preços das ações encostou nos 10%”, acrescentou. Para ele, no entanto, não será tarefa fácil manter a Bovespa descolada dos principais mercados do mundo, tamanho é o pessimismo em relação aos EUA e à Europa.

Títulos podres
Não bastasse o temor de recessão nas maiores economias do planeta, os investidores passaram a vislumbrar a possibilidade de quebra em cadeia de bancos europeus, todos com os cofres abarrotados de títulos públicos dos países mais endividados na região: Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Não à toa, as ações de instituições financeiras comandaram a derrocada dos mercados acionários. Os papéis do Société Générale, que estaria com problemas de liquidez, chegaram a cair 23% no meio do pregão, e fecharam com queda de 14,74%, a maior desde a crise de 2008. O banco negou problemas e pediu ao órgão regulador do mercado francês (AMF) uma investigação sobre a fonte dos boatos.

A sangria se estendeu às instituições de toda a Europa. As ações do italiano Intesa SanPaolo ruíram 13,72%. Os papéis do inglês Barclays recuaram 8,70% e os dos alemães Commerzbank e Deutsche Bank, 5,87% e 5,51%, respectivamente. “Em outro momento, a crença seria de que os governos poderiam socorrer as instituições em dificuldades, como em 2008. Mas, agora, com dívidas monstruosas, os países não têm como liberar recursos para evitar uma eventual quebradeira”, disse Creomar de Souza, professor de relações internacionais do
Ibmec-DF. “Na verdade, o problema é muito maior na Europa, pois ninguém acredita que os governos europeus consigam honrar seus compromissos. O fantasma do calote voltou a assombrar a todos”, acrescentou.

É essa a razão de Mário Paiva, analista da Corretora BGC Liquidez, acreditar que a crise será longa e dará muita dor de cabeça ao mundo. “Depois da Itália e da Espanha assombrarem os investidores com a possibilidade de irem para o buraco, agora foi a França que entrou na berlinda. Ontem, foram grandes os rumores de que aquele país poderia ter a nota de classificação de risco triplo A rebaixada, como aconteceu com os EUA”, ressaltou. As insinuações foram negadas tanto pela Standard & Poor’s (S&P), que tirou o selo AAA dos Estados Unidos, quanto pela Fitch Ratings.

Os bancos norte-americanos também perderam valor. As ações do Bank of America cravaram queda de 10,92%. As do Citigroup tombaram 10,47%. Como estão ligadas às instituições financeiras, as seguradoras foram ladeira abaixo. Os papéis da francesa AXA recuaram 10,64%. “Essas empresas operam, principalmente, com derivativos (contratos futuros). Têm uma engenharia financeira complexa que, às vezes, não dá certo”, disse Paiva.

Segundo a professora Liz Valls, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a pergunta que todos estão fazendo é se a população da Alemanha, a locomotiva da Zona do Euro, está disposta a arcar com a fatura de um novo socorro aos países do bloco. “Por mais que queiramos ser otimistas, não podemos negar que os problemas do endividamento estão se alastrando de forma inacreditável. Do jeito que está, já não estou torcendo mais. Já comecei a rezar”, emendou Mário Paiva, da BGC.

Ladeira abaixo
Desconfiança volta com tudo e enlouquece investidores

Bolsas Resultado
Milão -6,65%
Madri -5,49%
Paris -5,45%
Nova York -4,62%
Frankfurt -5,13%
Londres -3,05%
Lisboa -1,25%
Tóquio 1,05%
Xangai 0,91%
São Paulo 0,48%
Bancos e seguradoras Tombo
Société Generale -14,74%
Intesa Sanpaolo -13,72%
Credite Agricole 11,81%
Bank Of America -10,92%
AXA -10,64%
Citigroup -10,47%
Ubi Banca -10,17%
BNP Paribas -9,47%
Barclays -8,70%
Prudential -7,35%

Fontes: bolsas internacionais

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Folha de São Paulo - Crise Econômica Global.

Crise é do mercado financeiro, não de governos, diz economista

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

A crise atual é fruto do mercado financeiro, não de governos mal comportados. O que está havendo é um sucessivo estouro de bolhas, e os governos deveriam ampliar seus deficits, não cortá-los. Para isso, os políticos precisam se emancipar de Wall Street.

A visão é de Heiner Flassbeck, 60, diretor da Divisão de Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da Unctad (Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento). Para o economista, que foi vice-ministro de Finanças da Alemanha (1998-1999), a recessão de agora pode ser pior e seguir o formato da japonesa.

Para ele é essencial enxugar o mercado financeiro e lembrar uma coisa simples: "os salários são o componente mais importante para a demanda privada e o capitalismo não funciona sem aumento do salário dos trabalhadores".

Flassbeck, professor da Universidade de Hamburgo, que classifica como ridículas as agências de risco, estará no Brasil na próxima semana para um seminário promovido pelo Centro Internacional Celso Furtado.

*

Folha - Como o sr. avalia o rebaixamento dos EUA pela S&P?
Heiner Flassbeck -­ Essas agências de risco estão ficando cada vez mais ridículas. No final, se pode dizer que o mundo todo está indo à bancarrota, contra Vênus, Marte, a Lua. O maior, o mais importante e o mais sólido Estado do mundo sob perigo de quebra! Então tudo pode quebrar! E daí? O que isso muda? É ridículo.

E por que as agências são tão valorizadas?

Não sei, porque a maioria das pessoas é maluca (risos). Algumas pessoas nas agências de risco decidem sobre o destino da economia mundial. Como se pode tomar isso seriamente? Estamos indo para uma recessão e o que precisamos é de deficits maiores para os governos, para que possamos sair da recessão. E para as agências não se pode fazer essa coisa razoável. O que fazer então? Não se deve acreditar em Deus, mas nas agências de classificação de risco e fazer o que elas pedem, mesmo que seja tolo? É uma piada, mas muitas pessoas levam a sério.

Os governos deveriam rebaixar as agências?

Sim, eles deveriam dizer: "esqueçam isso, essas pessoas ridículas". [O presidente dos EUA, Barack] Obama deveria ter dito que não se importa nenhum pouco com essas pessoas ridículas das agências de risco.

Qual a verdadeira natureza da crise atual?

Os mercados produzem bolhas e, em certo momento, todas as bolhas explodem. Nós temos uma economia de bolhas. A economia cresce porque temos essas bolhas, não o contrário. Não há bolhas por causa do crescimento, mas há crescimento por causa das bolhas.

Nada mudou nos mercados financeiros desde a crise de 2008, mas todos estavam felizes por causa da aparente recuperação; os bancos estavam tendo lucro novamente. Mas todos os lucros dos bancos, pelo menos nos países industrializados, eram apenas resultado das novas bolhas.

O que acontece agora e que há um grande perigo de que todas as novas bolhas --de commodities, moedas, ações, patrimônio-- estourem em algum momento e os bancos ficarão com a mesma dificuldade de 2008.

O problema está ficando pior?

Está ficando pior, pois agora todos os governos estão tentando reduzir os seus deficits, 15% a 20% maiores em comparação com a última crise. Por isso será mais difícil para eles lutar contra uma nova recessão. Assim, há um nervosismo maior.

A turbulência tem a ver apenas com o medo de recessão?

Há um grande perigo de uma recessão mundial. Nos EUA, na Europa e no Japão (60% a 70% do PIB mundial) não temos recuperação sustentável: o emprego está estagnado, os salários não estão subindo, então não há consumo privado, e todos querem exportar. O resto do mundo não consegue crescer em ritmo suficiente para absorver essas exportações. Não funciona.

Nos últimos 30 anos a agenda neoliberal nos fez acreditar que tudo deveria ser flexibilizado: o mercado de trabalho, o sistema inteiro. Mas agora está tudo tão flexível que, quando o desemprego cresce como EUA e os salários caem, a economia não se recupera. Essa nova flexibilização vai matar a economia de mercado.

E qual é saída?

É preciso fazer uma forte regulação nos mercados financeiros: não permitir que os bancos façam o jogo de apostas de cassino, forçar os bancos a fazerem investimentos reais. Precisamos de um sistema monetário global totalmente diferente, no qual as moedas não sejam determinadas pelo mercado. Precisamos de uma nova regulamentação global para as commodities, na qual os seus preços não sejam mais determinados pelo mercado financeiro.

Os bancos manipulam preços de commodities e de moedas, como o real, nos mercados financeiros para ganhar dinheiro nos próximos dois, três anos. Não estão interessados em crescimento de longo prazo. Isso precisa ser mudado.

Por que os governos não fazem nada a respeito?

Muitos políticos não entendem o que realmente está acontecendo. Acham que gestores de bancos possam ser conselheiros de políticos. Isso não funciona. Os políticos precisam se emancipar disso. Precisamos de uma geração diferente de políticos, que não dependa do dinheiro de Wall Street e que pense no melhor para a população.

Os mercados estão forçando um novo resgate com dinheiro público, socialização das perdas?

Com a situação política nos EUA, é muito difícil imaginar que eles fariam um novo resgate. O governo está totalmente bloqueado pelo Congresso. Muitos governos vão hesitar em salvar os bancos. Por isso essa recessão pode ser pior e mais profunda do que a anterior.

O cenário mais provável talvez seja o de uma recessão japonesa, com estagnação geral, deflação. Demorará mais até que os governos comecem a entender que eles não podem continuar salvando e salvando. Mas que devem levar em conta o que acontece na economia real. A ideologia dominante diz que os governos são ruins e os mercados são bons. E, enquanto se acreditar nessa coisa primitiva, não vai funcionar

E os países em desenvolvimento?

Até estão indo bem, crescendo, mas não têm tamanho suficiente para tirar o mundo do atoleiro. Eles dependem dos países industrializados também. Podemos ir para uma fase longa de estagnação e deflação como o Japão nos últimos 20 anos. É o maior perigo.

Uma recessão pior do que a de 1929?

Eu não diria pior, mas pelo menos comparável. Da última vez, a recessão foi contida por causa da reação rápida dos governos. Mas agora não se pode esperar muito das políticas monetárias. Precisa ser do lado da política fiscal, mas ela está bloqueada politicamente. Isso é que deixa a situação tão difícil. Veja o Japão nos últimos 20 anos: sempre que o governo tentou cortar o deficit, a crise se aprofundou e o deficit aumentou. Assim, o Japão alcançou a maior dívida pública do mundo: mais de 200% do PIB.

Essa recessão seria mais parecida com a 1929 ou com a do final do século 19, que significou a queda do Reino Unido e a ascensão dos EUA e da Alemanha?

Mais com 1929, pois estamos em perigo de fazer o mesmo erro, cortando gastos públicos no meio de uma recessão.

Mas há economistas ortodoxos que argumentam que os governos deveriam cortar o deficit, que a crise significa o fim de uma era de keynesianismo?

Keynes foi recém recuperado e agora estão ansiosos por matá-lo novamente. Por isso eles chamam a crise, que foi claramente causada pelos mercados financeiros internacionais e não pelos governos, de "crise da dívida dos governos", "crise da dívida". Não tem nada a ver com crise da dívida. Os governos pagaram alguns jogadores absolutamente irresponsáveis do mercado financeiro e por isso a dívida dos governos é maior do que há cinco anos. Não há outra razão, não há mau comportamento de governos.

Está claro que economistas ortodoxos não gostam da ideia de que os mercados não tiveram um bom comportamento, que fizeram coisas erradas, porque os mercados são Deus e estão sempre certos. Eles vêm com a explicação de que é só problema dos governos, não tem nada a ver com os mercados, que não existe mau comportamento dos mercados, que a culpa é só dos governos. É uma luta ideológica contra os governos. Querem trazer os governos para baixo, enriquecer eles próprios, sei lá. Não tem nada a ver com pesquisa acadêmica séria.

O que o capitalismo pode fazer para gerar crescimento no mundo?

A coisa mais simples e mais crucial é que os salários médios das pessoas, dos trabalhadores precisam subir em linha com a produtividade da economia. É uma regra simples, que não é seguida em muitos países. Não foi seguida na América Latina no passado; hoje está melhor. Na Ásia eles entenderam isso, e os salários estão crescendo. Mas na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, os salários não estão crescendo. Isso não funciona, os salários são o componente mais importante para a demanda privada. O capitalismo não funciona sem aumento do salário dos trabalhadores.

O tamanho sistema financeiro nos próximos anos deve ficar menor?

O sistema financeiro precisa encolher. É a grande tarefa que os políticos têm: encolher o sistema financeiro para um tamanho que seja razoável, que tenha relação com a economia e que tire o sistema do cassino.

Qual sua avaliação do movimento no mercado europeu de no nesses dias?

O BCE (Banco Central Europeu) fez uma coisa razoável, comprando títulos italianos e espanhóis. Mas isso não pode ser feito por muito tempo. No longo prazo, a única solução para a Europa é que a inflação alemã e os salários subam mais e as outras inflações declinem, fazendo com que o grande desnível entre competitividades dos dois grupos de países diminua no decorrer do tempo.

Como está a situação na Europa?

Ainda não resolvemos o problema principal da zona do euro que é a diferença de inflação entre a Alemanha e os países do sul da Europa. A Alemanha se recusa a aceitar que esse é o principal problema por razões políticas. Sou cético que de haja uma solução. Mais países vão entrar em dificuldades Itália e Espanha estão estagnadas, e se pede cortes de gastos governamentais. É maluco.

Se não há crescimento e o governo corta gastos e aumenta impostos isso leva à recessão. A Grécia não reduziu o deficit não porque não desejava, mas porque entrou numa recessão muito mais profunda do que o esperado. As receitas de impostos caíram e o deficit não pode ser reduzido.

Muitos dizem que a Itália e a Grécia gastaram de mais e, por isso, estão sendo punidas. Qual sua visão?

A moeda na Europa tem uma regra simples: é que todos devem ter a mesma inflação de 2%. Mas nos últimos dez anos a Alemanha teve uma inflação de 1%, e Espanha, Portugal, Grécia, Itália tiveram uma inflação em torno de 2,5%. Quem fez certo e quem fez errado? Alguns viveram acima, outros abaixo da meta. Não há como culpar um lado. A Alemanha violou a meta de 2% mais do que Grécia, Espanha, Portugal e Itália. Isso não é discutido seriamente porque a Alemanha faz um jogo de poder contra os outros países e tenta impedir essa discussão.

Qual sua visão do Brasil?

Acho que o Brasil está muito melhor agora do que em recuperações anteriores. Os salários estão crescendo. O que continua sendo um problema é a taxa de juros muito alta e a valorização do real é um grande perigo. Mas não há como culpar o Brasil: é o jogo do poder.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Carta Capital - Ministério da Defesa.

Poder civil sobre militares

Mariana Jungmann

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff acertou na escolha do ex-chanceler Celso Amorim para ocupar a vaga deixada por Nelson Jobim no Ministério da Defesa, segundo o analista político Creomar de Souza. Na opinião dele, Amorim deverá consolidar o controle civil sobre as atividades militares e mostrar traquejo para lidar com as dificuldades do cargo.

“Era a pessoa certa, no lugar certo e na hora certa”, avalia Souza, que também é professor de Relações Internacionais da Faculdade Ibmec em Brasília. Ele explica que o Brasil não tem tradição de subordinação militar ao poder civil e que o Ministério da Defesa foi criado com dificuldades durante o governo de Fernando Henrique Cardoso justamente para marcar a nova fase da democracia brasileira.

No entanto, para o professor, o objetivo só foi alcançado quando Jobim assumiu a pasta. O ex-ministro tinha perfil compatível com o modus operandi militar, com personalidade forte e pouca flexibilidade, explicou.

“Com Jobim nós tivemos pela primeira vez alguém que era ministro e que conseguiu impor uma agenda para os militares. Só que chegou um momento em que a manutenção do ministro era insustentável."

Diante da situação, de acordo com Souza, colocar o vice-presidente da República para acumular as funções - como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com José Alencar em seu primeiro mandato - seria um “retrocesso”.

“Essa fase do vice na Defesa já passou. O ministério agora é como os outros, exige alguém com dedicação exclusiva e não há mais motivo para colocar uma figura emblemática lá."

Para o analista político, a hierarquia militar não permite questionamentos quanto à escolha da presidenta, que é também a chefe das Forças Armadas, mas as resistências apareceriam com qualquer nome em função da dificuldade dos militares em lidarem com o comando civil.

Além disso, Souza reconhece que militares e diplomatas têm “modelos de formação e de pensar o Brasil totalmente diferentes”, mas acredita que o nome de Celso Amorim foi a opção correta de Dilma.

“Ele [Celso Amorim] vem para reafirmar que o Brasil é uma democracia consolidada. E nas democracias consolidadas os militares estão subordinados ao poder civil."

Apesar disso, o professor acredita que ainda é cedo para saber se o novo ministro vai conseguir dar continuidade à agenda iniciada por Jobim, que inclui temas como a Política de Defesa Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa.

“Ainda é cedo para mensurar a recepção que ele terá. Acredito que o ministro Amorim vai procurar primeiro saber onde está pisando."

Sites de Informação em Relações Internacionais.

Mundorama - Iniciativa de Divulgação Científica em Relações Internacionais
Site: http://www.mundorama.net
Twitter: @mundoramanet

Instituto Brasileiro de Relações Internacionais
Site: http://www.ibri-rbpi.org
Twitter: @ibri_rbpi

Revista Brasileira de Política Internacional
Site: http://www.ibri-rbpi.org

Boletim Meridiano 47
Site: http://www.meridiano47.info

domingo, 7 de agosto de 2011

Estadão - Artigo de Paul Krugman

A Standard & Poor's e o rebaixamento dos Estados Unidos

Paul Krugman - O Estado de S.Paulo

Pois é, a Standard & Poor"s fez o que ameaçava fazer: rebaixou o rating dos Estados Unidos. É uma situação estranha.

Por um lado, agora justifica-se a afirmação de que a loucura da direita tornou os Estados Unidos uma nação fundamentalmente doente. Porque, de fato, é a loucura da direita: se não fosse o radicalismo dos republicanos, sempre contrários a impostos, seria possível chegar, sem nenhum problema, a um acordo que garantiria a solvência a longo prazo.

Por outro lado, é difícil imaginar uma entidade menos qualificada para passar um julgamento sobre o nosso país do que as agências de rating. Então as pessoas que classificaram os títulos respaldados em empréstimos subprime agora se declaram os juízes da política fiscal? É mesmo? E, para a coisa ficar mais perfeita, ficou claro que a S&P errou nos cálculos em US$ 2 trilhões; depois de muitas discussões reconheceu - e rebaixou a classificação. Mais do que isso, tudo o que já ouvi sobre as exigências da S&P indica que a agência está falando absurdos a respeito da situação fiscal dos EUA. Ela sugeriu que o rebaixamento se deu por causa do montante da redução do déficit que havia sido negociada para a próxima década, e aparentemente acenou com o mágico número de US$ 4 trilhões.

Entretanto, a solvência dos EUA não depende do que acontece a curto e até mesmo a médio prazo: mais de U$ 1 trilhão de dívidas representa um aumento de apenas uma fração de um ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) aos custos dos juros futuros. Portanto, U$ 2 trilhões a mais ou a menos não têm grande significado a longo prazo. O que importa é a perspectiva a prazo mais longo, que, por sua vez, depende em grande parte dos custos da saúde.

Então, do que é que a S&P estava falando?

Supostamente, ela possuía alguma teoria segundo a qual a restrição agora é um indicador do futuro - mas não há nenhuma boa razão para se acreditar nesta teoria, e seguramente a S&P não tem nenhuma autoridade para fazer esse tipo de vago julgamento político.Em suma, a S&P fez uma asneira - e, depois da débâcle das hipotecas, não tem mais esse direito. É um escândalo - não porque os EUA estejam numa boa situação, mas porque estas pessoas não têm condições de julgar.

É COLUNISTA DO NEW YORK TIMES