sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Correio Braziliense - Crise Econômica

Previ, Funcef e Petros compram ações para evitar nova queda da Bovespa

Rosana Hessel Clique aqui para ver a notícia no site

Por determinação do Palácio do Planalto, os três maiores fundos de pensão do país, todos vinculados a estatais, entraram pesado, ontem, no mercado comprando ações e evitaram uma nova queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mesmo com o mundo derretendo por causa das suspeitas em relação à saúde da economia europeia, sobretudo a da França, a segunda maior da Zona do Euro. A Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), a Petros (dos empregados da Petrobras) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal) intensificaram a atuação quando o pregão paulista computava queda de mais de 2% e um início de pânico tomava conta dos investidores.

A operação chapa-branca, como os operadores estão chamando o movimento das fundações, fez com que o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas, encerrasse a quarta-feira com valorização de 0,48%. Um resultado e tanto diante do rastro de prejuízos que se viu nos Estados Unidos e na Europa. Em Nova York, o índice Dow Jones desabou 4,62% e a Nasdaq, a bolsa eletrônica, encolheu 4,09%. Em Paris, as perdas chegaram a 5,45%. Em Milão, com a Itália também sob a mira da desconfiança, o tombo chegou a 6,65%. Em Madri, houve recuo de 5,49%. Nos mercados de Frankfurt e de Londres, computou-se baixa de 5,13% e de 3,05%, respectivamente.

“Durou apenas um dia a trégua nos mercados financeiros mundiais”, disse um operador de um banco estrangeiro. “No Brasil, só não houve o derretimento da bolsa por causa da ação dos fundos de pensão de estatais, que já respondem por quase 40% de todos os negócios da Bovespa. As fundações, por sinal, ensaiaram uma intervenção na última segunda-feira, quando a queda de preços das ações encostou nos 10%”, acrescentou. Para ele, no entanto, não será tarefa fácil manter a Bovespa descolada dos principais mercados do mundo, tamanho é o pessimismo em relação aos EUA e à Europa.

Títulos podres
Não bastasse o temor de recessão nas maiores economias do planeta, os investidores passaram a vislumbrar a possibilidade de quebra em cadeia de bancos europeus, todos com os cofres abarrotados de títulos públicos dos países mais endividados na região: Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Não à toa, as ações de instituições financeiras comandaram a derrocada dos mercados acionários. Os papéis do Société Générale, que estaria com problemas de liquidez, chegaram a cair 23% no meio do pregão, e fecharam com queda de 14,74%, a maior desde a crise de 2008. O banco negou problemas e pediu ao órgão regulador do mercado francês (AMF) uma investigação sobre a fonte dos boatos.

A sangria se estendeu às instituições de toda a Europa. As ações do italiano Intesa SanPaolo ruíram 13,72%. Os papéis do inglês Barclays recuaram 8,70% e os dos alemães Commerzbank e Deutsche Bank, 5,87% e 5,51%, respectivamente. “Em outro momento, a crença seria de que os governos poderiam socorrer as instituições em dificuldades, como em 2008. Mas, agora, com dívidas monstruosas, os países não têm como liberar recursos para evitar uma eventual quebradeira”, disse Creomar de Souza, professor de relações internacionais do
Ibmec-DF. “Na verdade, o problema é muito maior na Europa, pois ninguém acredita que os governos europeus consigam honrar seus compromissos. O fantasma do calote voltou a assombrar a todos”, acrescentou.

É essa a razão de Mário Paiva, analista da Corretora BGC Liquidez, acreditar que a crise será longa e dará muita dor de cabeça ao mundo. “Depois da Itália e da Espanha assombrarem os investidores com a possibilidade de irem para o buraco, agora foi a França que entrou na berlinda. Ontem, foram grandes os rumores de que aquele país poderia ter a nota de classificação de risco triplo A rebaixada, como aconteceu com os EUA”, ressaltou. As insinuações foram negadas tanto pela Standard & Poor’s (S&P), que tirou o selo AAA dos Estados Unidos, quanto pela Fitch Ratings.

Os bancos norte-americanos também perderam valor. As ações do Bank of America cravaram queda de 10,92%. As do Citigroup tombaram 10,47%. Como estão ligadas às instituições financeiras, as seguradoras foram ladeira abaixo. Os papéis da francesa AXA recuaram 10,64%. “Essas empresas operam, principalmente, com derivativos (contratos futuros). Têm uma engenharia financeira complexa que, às vezes, não dá certo”, disse Paiva.

Segundo a professora Liz Valls, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a pergunta que todos estão fazendo é se a população da Alemanha, a locomotiva da Zona do Euro, está disposta a arcar com a fatura de um novo socorro aos países do bloco. “Por mais que queiramos ser otimistas, não podemos negar que os problemas do endividamento estão se alastrando de forma inacreditável. Do jeito que está, já não estou torcendo mais. Já comecei a rezar”, emendou Mário Paiva, da BGC.

Ladeira abaixo
Desconfiança volta com tudo e enlouquece investidores

Bolsas Resultado
Milão -6,65%
Madri -5,49%
Paris -5,45%
Nova York -4,62%
Frankfurt -5,13%
Londres -3,05%
Lisboa -1,25%
Tóquio 1,05%
Xangai 0,91%
São Paulo 0,48%
Bancos e seguradoras Tombo
Société Generale -14,74%
Intesa Sanpaolo -13,72%
Credite Agricole 11,81%
Bank Of America -10,92%
AXA -10,64%
Citigroup -10,47%
Ubi Banca -10,17%
BNP Paribas -9,47%
Barclays -8,70%
Prudential -7,35%

Fontes: bolsas internacionais

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