sexta-feira, 30 de março de 2012

Obama em 2008.

Para fomentar nossas reflexões: posto um artigo feito por mim em 2008 sobre as expectativas que cercavam a primeira administração Obama. 
Vamos discutir os avanços e decepções?

Esperança e incerteza em Barack Obama
 

Creomar Lima Carvalho de Souza 

O processo eleitoral que transformou Barack Obama no 44º presidente dos Estados Unidos da América é único por uma série de características, tais como: a origem do presidente eleito; o engajamento eleitoral da população e o próprio resgate da imagem positiva do referido país no cenário internacional. Contudo, agora que a campanha acabou, faz-se necessária uma reflexão de quais os desafios que se colocam diante da nova presidência a partir do dia 20 de janeiro de 2009. 
Na busca de uma perfeita visualização de quais são as principais dificuldades do próximo governo, opta-se aqui pela divisão dos mesmos em duas esferas: sendo a primeira de âmbito interno e a segunda externa. Tal configuração explicativa permitirá uma melhor análise das questões tanto em termos específicos quanto gerais. Começando pelas questões de cunho internacional, pode-se afirmar que o grande desafio é a reconstrução da imagem internacional do país. Esse processo tem como característica principal a possibilidade dos Estados Unidos reassumirem a capacidade de inspirar seus aliados através de valores, discursos e ações.
Neste aspecto, especificamente, não há dúvidas quanto à capacidade retórica do novo presidente. Porém, há um distanciamento entre o discurso do candidato e o exercício efetivo da presidência. No enfrentamento dessa tarefa, será testada a capacidade do senhor Barack Obama em construir uma equipe que equilibre o idealismo da campanha eleitoral com o pragmatismo que o momento exige. 
Aliada a essa dificuldade de cunho institucional soma-se outro elemento: a crise financeira e a conseqüente desconfiança das pessoas no sistema econômico-financeiro local e nos políticos. A resposta a crise, orquestrada no cerne do novo governo, deverá obrigatoriamente ir além da equação grupos econômicos falidos e ajuda governamental via recursos dos contribuintes.
Seguindo este caminho, as respostas novas devem mudar as velhas relações entre o governo, os grupos econômicos falidos e o dinheiro dos contribuintes. Por exemplo, durante os últimos vinte anos a indústria automobilística norte-americana se agarra as benesses do governo sem em contrapartida modernizar suas estruturas produtivas. O resultado claro disso é uma retração dessas empresas que investiram em estratégias com resultados pífios, sempre a espera de facilidades creditícias de Washington. Esse panorama, com a chegada da crise, reforçou o sentimento entre as pessoas de que a administração republicana se preocupa mais com os capitalistas que financiam suas campanhas do que com os cidadãos comuns. 
Obviamente que tal perspectiva das ruas foi amplamente explorada na campanha democrata. E a vitória de Obama baseou-se na crença da mudança deste e de outros aspectos da ação governamental. Contudo, ao adentrar no exercício da presidência torna-se óbvio que a nova equipe de gestão não poderá simplesmente deixar as empresas e bancos em dificuldades quebrarem. Essa percepção - aliada as questões eleitorais - deve trazer para o presidente e os seus assessores, o desafio de criar soluções que se encaixem no espírito de mudança vendido durante a campanha. 
No tocante as imagens resultantes da campanha, pode-se afirmar com certa correção, que Barack Obama é o primeiro presidente americano referendado globalmente. Tal processo, que revestiu o mesmo de uma áurea mítica – quase mística para os mais desavisados – que teve seu ponto de partida com o discurso em Berlim e atingiu seu ápice com o resultado da eleição. Entretanto, fica uma questão: Até que ponto a popularidade de Obama irá transferir-se em boa vontade para com os EUA? 
Não existe resposta óbvia para essa questão. No entanto, deve-se ter em mente que os olhares positivos do restante do mundo não mudam o fato de que o Sr. Obama é presidente eleito dos EUA e que deve agir em função dos interesses deste país. Obviamente, que haverá uma ação mais multilateral do que as ações impetradas por Bush, Cheney e Rumsfeld. Contudo, o mundo não será transformado em uma utopia humanística. 
A possível indicação de Hillary Clinton para a Secretaria de Estado é uma clara indicação de que fundamentos marcantes da política externa dos EUA não serão abandonados brevemente. Mesmo que não haja espaço – orçamentário e político - para novas aventuras bélicas de grande escala. Pode-se afirmar que a diplomacia norte-americana não irá permitir que o Irã domine todo o ciclo atômico ou que Osama Bin Laden deixe de figurar no primeiro posto da lista dos criminosos mais procurados. 
Por fim, pode-se afirmar que os desafios do novo governo americanos não serão pequenos. A administração do legado negativo deixado por Bush e seus assessores é uma tarefa que exigirá muito mais do que as habilidades discursivas de Barack Obama. O somatório de sorte e virtude que até o presente momento tem aparentemente acompanhado a carreira do novo presidente dos EUA será devidamente testado a partir de 20 de janeiro de 2009, quando o 44º chefe de Estado norte-americano tomará posse.

Publicado Originalmente no site da Revista Autor em Dezembro de 2008.

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