sexta-feira, 11 de março de 2011

Visita de Obama ao Brasil - Agência Leia

PERSPECTIVA MUNDO:Visita de Obama ao Brasil terá poucos resultados práticos

Por Ivan Ryngelblum / Agência Leia

São Paulo, 11 de março de 2011 - A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil nos dias 19 e 20 de março representa o reconhecimento, por parte do governo americano, da importância política e econômica que o país alcançou ao longo dos últimos anos, principalmente durante o mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Mas, em termos práticos - políticos e econômicos - a visita de Obama trará poucas mudanças e decisões a respeito de temas delicados na relação bilateral dos países.

Segundo especialistas ouvidos pela Agência Leia, a vinda de Obama não ajudará a resolver questões pendentes entre os dois países, como a sobretaxa que o biodiesel, o suco de laranja e o algodão brasileiro pagam ao entrarem no mercado americano, além do apoio norte-americano para tornar o país um membro fixo, com direito a veto, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

"A vinda do Obama reflete a importante posição que o Brasil tomou no cenário internacional. O país se tornou protagonista e é cada vez mais ouvido pelos atores internacionais. Os Estados Unidos não podem ignorar isto", afirma o professor de relações internacionais da faculdade Ibmec de Brasília, Creomar Lima de Souza. "Os Estados Unidos veem o Brasil como uma poderosa nação emergente, com um sistema político forte e estável, e como uma potência econômica que vem crescendo", disse o professor de História da Universidade Vanderbilt, dos Estados Unidos e diretor executivo da Associação de Estudos Brasileiros, Marshall Eakin.

A expectativa é que a comitiva americana - que deve passar somente por Brasília e Rio de Janeiro - assine alguns acordos comerciais e de cooperação. "Serão tratados temas tradicionais das relações internacionais. Deve ser assinado um acordo de intenções relativo ao comércio bilateral. Ou seja, não formaliza nada, a não ser que existirão futuras reuniões para tratar do tema", projeta a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cristina
Pecequilo.

"Questões delicadas como a do algodão e a sobretaxa em relação ao etanol até podem ser levadas para as reuniões. Mas não necessariamente elas serão solucionadas, pois não depende apenas de Obama. O Congresso norte-americano possui bastante força nesses assuntos", afirma o professor Creomar Lima de Souza. Em relação ao etanol brasileiro, é ainda mais
improvável que haja uma resolução, uma vez que a base eleitoral de Obama encontra-se no estado de Illinois, grande produtor de etanol à base de milho. "O lobby do setor agrário é muito poderoso nos Estados Unidos, por isso é improvável que o presidente Obama esteja disposto a retirar os subsídios dos fazendeiros de milho em um futuro próximo, dada a sua difícil situação política no Congresso", completa o professor Eakin.

"Apesar das eleições presidenciais serem apenas em 2013, a corrida já começou. Então, qualquer acordo de abertura, que poderia impactar a economia americana será evitado", afirma a professora Cristina Pecequilo. "O Brasil não deve criar expectativas quanto a uma liberalização. O discurso que ele fizer sobre a abertura do mercado americano para produtos brasileiros não vai se concretizar. Ele quer abrir o mercado brasileiro para produtos americanos", completa.

Conselho de Segurança

Além dos pontos econômicos, deverá surgir nas reuniões entre os integrantes do governo da presidente Dilma Rousseff e de Obama a questão da reforma do Conselho de Segurança da ONU, que propõe a inclusão de novos membros permanentes, entre eles o Brasil. Atualmente, apenas cinco países, junto com os Estados Unidos, são membros fixos e possuem direito a veto: França, Reino Unido, Rússia e China. O Brasil é membro rotativo e atualmente ocupa sua presidência.

O tema é uma das prioridades da diplomacia brasileira, mas os americanos não deverão apoiar as pretensões do Brasil. "Embora Obama possa ser simpático às pretensões do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança, este é um tema difícil. Mudar a composição dos membros fixos cria um campo minado político, como o que fazer a respeito das aspirações de outros potenciais emergentes", explica Eakin.

"A diplomacia americana não possui uma posição fechada a respeito do assunto. Existem reticências em apoiar a entrada do Brasil. Se o Brasil entrar no Conselho, ele ganhará muito poder em uma região onde os americanos possuem bastante influencia. Os Estados Unidos toleram a entrada de India e Japão no Conselho apenas como política para conter a influencia de China e Rússia na Ásia", explica a professora Cristina. O governo Obama já manifestou apoio à entrada da India no Conselho, mas não do Brasil.

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