domingo, 23 de janeiro de 2011

Entrevista Concedida ao Site da Revista Veja

‘Obama precisa falar de direitos humanos, mas não pode bater muito, senão acaba perdendo o parceiro comercial’

Especialista em Política dos EUA classifica como muito positiva a viagem de Hu

Mariana Pereira de Almeida

"Economia elege presidente e 2012 é ano eleitoral. Se não tiver emprego, não tem reeleição e Obama quer uma reeleição"

O balanço da viagem do presidente chinês, Hu Jintao, aos Estados Unidos é extremamente positivo, de acordo com Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais e analista político do Ibmec-DF. “Esta viagem mostra o amadurecimento da diplomacia chinesa, que demonstra uma vontade de construir uma relação de igualdade. O país olha para os EUA com respeito, mas exige contrapartidas”, disse ele em entrevista ao site de VEJA.

O especialista em Política Externa dos EUA pela Universidade da Flórida avalia que o presidente americano foi sensato na maneira de abordar a questão dos direitos humanos na China. “Obama precisa falar de direitos humanos, mas não pode bater muito, senão perde o parceiro”, afirmou. “É interessante olhar a questão sob outros aspectos. Obama tem eleição no ano que vem e não vai se eleger se a economia continuar ruim. A China, que é um grande pólo de negócios, pediu aos EUA para negociar. Não se pode ignorar uma oferta como essa”.

Confira os principais trechos da entrevista.

Qual é o balanço da viagem do presidente chinês, Hu Jintao, aos Estados Unidos?
A viagem teve um efeito bastante positivo porque mostra as duas principais economias do mundo, EUA e China, como forças geopolíticas que se articularam. Evidencia um amadurecimento da política chinesa, um vontade de construir uma relação de igualdade. A China olha para os EUA com respeito e exige uma contrapartida. Mas Hu foi muito claro ao pedir que os americanos não interfiram em questões particulares do país, como o Tibete e Taiwan. A China quer sim colaborar em termos de comércio, mas espera ser tratada como um parceiro e não um ator menor.

Alguém ganha mais com esta relação?
Cada vez mais, esta relação caminha para uma parceria entre iguais. Os EUA precisam da China e vice-versa. Temos que lembrar que, apesar de todo este crescimento, ainda há muitas questões sensíveis na China: o combate ao desemprego, a pobreza e a necessidade de expansão do desenvolvimento econômico (riqueza produzida) para todo o país. Os chineses desejam uma relação que atenda às demandas. Querem acesso a experiência que os EUA possuem em diversos setores e vislumbram uma abertura para o maior mercado consumidor do mundo. A relação caminha para uma cooperação, não há outra solução. É muito mais proveitoso partir para uma cooperação entre dois dos atores mais importantes do mundo que se respeitam, do que uma pseudo guerra fria, como muitos defendem.

Quem defende esta rivalidade?
Basicamente, alguns setores dentro da classe política dos EUA. São alas mais conservadoras e belicistas. Mas parece-me mais proveitosa a construção de pontes do que a demolição de prédios. A questão é complexa. Em termos de relações internacionais, algo imponderável ainda pode acontecer, nunca se sabe. Mas eu acredito que, neste momento, os dois atores preferem construir uma relação mais próxima do que o afastamento.

O senhor acredita que Obama tenha sido pouco enfático na questão dos direitos humanos em prol das questões comerciais?
Um chefe de estado tem responsabilidades. Embora como líder dos EUA precise falar sobre direitos humanos e democracia, ele conhece os limites da pressão que pode exercer em relação à China. Ele fica entre o discurso que precisa fazer, mas não pode bater demais, pois não deseja fechar esta porta. Os chineses o escutaram, mas deixam claro - pela posição privilegiada que têm na economia - que não querem interferência neste assuntos polêmicos. Além do mais, é muito pequena a chance de a China mudar sua atitude sobre os direitos humanos e a democracia por pressão externa. Se isso ocorrer, provavelmente será fruto do crescimento de uma classe social que compartilha destes valores.

Mas, o fato de Obama ser o Nobel da Paz de 2009 não o coloca em uma situação mais delicada, especialmente no que se refere a Liu Xiaobo, laureado com o mesmo prêmio em 2010, mas que não pôde recebê-lo porque está preso por cobrar democracia do seu governo?
Sim, mas as pessoas se esquecem que antes de ser o vencedor do Nobel da Paz, ele é chefe de estado e fala por um país. Obama sabe que as posições dele ou do grupo que o apóia não podem ser levadas de maneira tão estrita por que há interesses que se sobrepõem a elas. Os investimentos chineses podem criar empregos nos EUA e o fato de a China comprar títulos do Tesouro americano também permite o aquecimento da economia. Isso é tão importante quanto os direitos humanos. Economia elege presidente e 2012 é ano eleitoral. Se não tiver emprego, não tem reeleição e Obama quer uma reeleição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário