domingo, 23 de janeiro de 2011

Visita de presidente chinês aos EUA ressalta necessidade de cooperação entre países

Parceria comercial superou pontos de atrito, como direitos humanos e Tibete

Mariana Pereira de Almeida
O prefeito de Chicago, Richard M. Daley, leva Hu Jintao a um tour por empresas de Illinois. Presidente chinês encerrou viagem aos EUA com visita a Chicago para assinar 60 acordos comerciais com executivos

O prefeito de Chicago, Richard M. Daley, leva Hu Jintao a um tour por empresas de Illinois. Presidente chinês encerrou viagem aos EUA com visita a Chicago para assinar 60 acordos comerciais com executivos (Frank Polich/ AFP)

“A China indicou que olha para os EUA com respeito e exige uma contrapartida, um tratamento como um parceiro e não um ator menor. Mas Hu foi muito claro ao pedir que os americanos não interfiram em questões particulares, como o Tibete e Taiwan”

Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais e analista político do Ibmec-DF

O presidente chinês Hu Jintao encerrou, nesta sexta-feira, sua viagem de quatro dias aos Estados Unidos, com uma visita a Chicago para assinar 60 acordos com executivos americanos. A última parada de Hu ilustra bem o objetivo de sua viagem: estreitar a parceria comercial e a cooperação entre os dois países. Sob este aspecto, portanto, o tour do chefe de estado foi um sucesso e explicitou que ambos os países têm interesse em aprofundar cada vez mais estas relações, independentemente dos atritos políticos entre duas potências que têm tantas diferenças ideológicas.

“A viagem teve um efeito muito positivo, mostrando que as duas maiores potências do mundo se articulam para construir uma relação de igualdade”, diz Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais e analista político do Ibmec-DF. “A China indicou que olha para os EUA com respeito e exige uma contrapartida, um tratamento como um parceiro e não um ator menor. Mas Hu foi muito claro ao pedir que os americanos não interfiram em questões particulares, como o Tibete e Taiwan”, afirma o especialista em Política Externa dos EUA pela Universidade da Flórida.

Durante a reunião com Hu, Obama fez o que tinha de fazer. Como chefe de estado de um país que defende valores democráticos, não poderia deixar de abordar a questão dos direitos humanos na China. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2009, deveria mencionar o assunto, especialmente por causa da situação do dissidente chinês Liu Xiaobo, laureado com o mesmo prêmio em 2010, mas que não pôde recebê-lo porque está preso por cobrar democracia do seu governo. "A história mostra que as sociedades são mais harmoniosas, as nações são mais bem sucedidas e o mundo é mais justo quando apoiamos os direitos e responsabilidades de todas as nações e de todos os povos", disse o presidente americano.

“Era imprescindível falar em direitos humanos. Mas as pessoas se esquecem que antes de ser o Nobel da Paz, Obama é um chefe de estado e fala por um país. Ele sabe até onde pode pressionar a China e sabe também que as posições dele ou do grupo que o apóia não podem ser levadas de maneira tão estrita, pois há interesses que se sobrepõem a elas”, pontua Souza.

Parceria comercial - Entre estes interesses, está uma relação comercial cada vez mais importante para ambos os países. Se os EUA dependem da China, pois o gigante asiático aplica US$ 900 bilhões em títulos do seu Tesouro, a China precisa exportar para o mercado americano. Por outro lado, apesar de todo o crescimento chinês, ainda há questões sensíveis no país, como o combate ao desemprego, a pobreza e a expansão do desenvolvimento econômico- riqueza produzida - para todo o país. Ou seja, as áreas rurais do território não experimentam o desenvolvimento das grandes cidades. De acordo com Souza, “trata-se de uma relação que caminha para uma cooperação cada vez maior. Afinal, um país precisa do outro, não há solução.”

Hegemonia - A recepção de Hu com jantar de gala em Washington - diferente da última visita do líder chinês aos EUA, durante o governo Bush, quando ele foi convidado apenas para um almoço na Casa Branca - mostra que os EUA já veem a China como um ator global importante, uma potência. Os sinais são de que é melhor para os dois países cooperar do que rivalizar. “É muito mais proveitosa a construção de pontes do que a demolição de prédios”, acrescenta Souza. Para convencer o colega americano, a mensagem de Hu foi direta: "Não nos envolvemos em nenhuma corrida armamentista ou ameaça militar em direção a nenhum país", declarou. "A China não buscará nunca uma hegemonia nem uma política expansionista".

Confira os principais temas, que provocaram atritos entre os dois países:

Taiwan - Os EUA anunciam em janeiro a venda de US$ 6,4 bilhões em armas para a ilha que a China considera como integrante de seu território. Pequim reagiu com a suspensão da cooperação militar.

Dalai Lama - Em fevereiro de 2010, Obama recebeu na Casa Branca o líder espiritual e político Dalai Lama, considerado um separatista pela China, irritando o país.

Nobel da Paz - Em novembro de 2010, a China condenou a entrega do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente Liu Xiaobo, ressaltando as diferenças ideológicas com os EUA.

Yuan - A desvalorização do yuan em relação ao dólar é um ponto de permanente atrito nas relações entre os dois países.

Coreia do Norte - A China, aliada da Coreia do Norte, é frequentemente pressionada a condenar as atitudes de Pyongyang, consideradas bélicas. Dois casos em 2010 trouxeram a questão à tona: o afundamento de um navio sul-coreano, matando 46 marinheiros - cuja culpa foi atribuída ao regime de Kim Jong-il por uma investigação internacional - e um ataque norte-coreano à ilha sul-coreana de Yeonpyeong, em novembro, matando quatro pessoas.

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