sábado, 15 de outubro de 2011

A democracia em uma nova faceta?

Creomar Lima Carvalho de Souza

Refletindo acerca da validade das manifestações organizadas por meio de redes sociais é possível vislumbrar dois pontos de vista distintos: o primeiro é de que tais ações não redundam em nenhum efeito prático. Ou seja, manifestar pelo simples ato de manifestar não redundaria em absolutamente nada.
E o segundo, de que as manifestações são fruto de uma ação democrática e que seus resultados são visualizados imediatamente. Acreditando, porém, que nenhum dos dois pontos é a verdade, aqui será feita uma abordagem diferenciada. A mesma será centrada não nos resultados, mas, sim no ato que estimula o protesto em si – a vontade de manifestar.
Basicamente, a tese defendida aqui é que a internet dia a dia passa a ocupar um espaço associativo que de maneira gradual vem substituindo as arenas tradicionais. Em outras palavras, acredita-se aqui que as redes sociais podem ser vetor de construção de uma ordem democrática pós-partidária. Esta, por sua vez, teria como principais características o desapego a atores associativos desgastados no tempo como partidos e sindicatos. E como foco principal de pressão os representantes políticos que por sua vez, não possuem ainda os atributos intelectuais necessários para entender o dinamismo deste processo.
No caso brasileiro é possível afirmar que a montagem de um ambiente democrático minimamente institucionalizado, significando aqui liberdade de imprensa, liberdade de expressão e direito de manifestação permite que as frustrações sociais sejam canalizadas de maneira mais visível. Contudo, diferentemente do ocorrido durante os anos 1980 e 1990 as arenas tradicionais, tais como, associações profissionais e partidárias perdem espaço para um novo modelo de organização baseado em demandas mais imediatas e apartadas de componentes corporativos.
Especificamente, pode-se afirmar que as manifestações construídas a partir de redes sociais são fruto de demandas de uma classe média que superou determinadas barreiras de sobrevivência e que, sobretudo, em ambientes urbanos mais desenvolvidos deseja alterar o ambiente político. A política e, por seu turno os políticos, são vistos por esse grupamento social como contaminados por vícios de conduta e sem capacidade de prover soluções novas para problemas cotidianos.
E é aqui que surge a diferença, enquanto que as ondas de protesto que marcaram a vida política brasileira durante a redemocratização possuíam um rosto, os movimentos atuais são desprovidos de personagens até o presente momento. Essa peculiaridade que facilita a mobilização de interesses diversos gera, porém, a dificuldade de dar vazão aos interesses defendidos. Em outras palavras, a ausência de um rosto torna o movimento pouco eficaz em termos de objetivos a serem alcançados em curto prazo.
Porém, essa falta de perspectiva de mudança imediata é o fator mais interessante do movimento em análise, pois, a frustração pelo não atendimento de alguma demanda pode fazer com que o movimento se aperfeiçoe. Tal aperfeiçoamento pode gerar no tempo o surgimento de novas lideranças capazes de dar substância as demandas levantadas pelo grupo e resultando em maior pressão sobre os representantes. Espera-se aqui que tal previsão se consolide com o tempo e que os impulsos de cidadania oriundos do mundo virtual não se percam nos modismos que caracterizam as redes sociais.

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