quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Correio Braziliense - Crise na Itália.

Antes mesmo de assumir, novo premiê da Itália desagrada o mercado

Sílvio Ribas

Publicação: 15/11/2011

Um dia após ser designado para formar o novo governo da Itália em razão da renúncia de Silvio Berlusconi, o economista e ex-comissário europeu Mario Monti começou ontem a montar sua equipe enquanto os mercados reagiam com ceticismo a seu nome. Em seu teste inaugural, o líder indicado viu as bolsas europeias fecharem em queda, abaladas em parte pela emissão dos títulos da elevada dívida pública italiana (1,9 trilhão de euros). No primeiro leilão após a escolha de Monti para liderar o combate à crise fiscal, o país pagou ontem juro recorde de 6,29% para vender bônus de cinco anos.

A oferta levantou 3 bilhões de euros, teto da meta, mas com o maior custo desde 1997. No leilão de outubro, os rendimentos foram de 5,32%, quase um ponto percentual a menos. As maiores baixas nas bolsas da Zona do Euro foram registradas em Madri (2,15%), Milão (1,99%) e Paris (1,28%), que também sentiram o impacto do aumento da expectativa de recessão no continente. O pregão de Nova York caiu 0,61%; e o de São Paulo, 0,49%, aos 58.258 pontos. O dólar subiu 1,38%, cotado a R$ 1,768.

Apesar dos esforços de Monti para a formação do novo governo, o mercado não encontrou ânimo para estancar as perdas. O futuro chefe de governo bem que tentou, mas não conseguiu acalmar nem mesmo os italianos, que, na sua visão, poderão sofrer mais privações para que o país consiga se afastar do abismo econômico que o rodeia. “Sangue? Não. Lágrimas? Menos ainda. Sacrifícios? Talvez”, disse.

Estagnação
Na semana passada, os juros para títulos de dez anos da Itália dispararam para além de 7%, nível insustentável, o mesmo que já levou Portugal e Irlanda a pedirem socorro. “O BC italiano errou. Com cenário adverso e transição política, o país acabou confirmando a taxa imposta pelo mercado turbulento. O ideal seria esperar alguns dias para lançar os títulos”, disse o economista Raphael Martello, da consultoria Tendências. “Até Monti ser referendado pelas duas casas do Parlamento, as bolsas vão operar com a incerteza sobre sua real capacidade em lidar com a crise”, completou.

Para restaurar a confiança do mercado, o parlamento italiano aprovou, no fim de semana, um pacote de reformas econômicas. Berlusconi renunciou e o presidente Giorgio Napolitano nomeou Monti, economista de renome internacional, como chefe do novo governo. O novo governo tentará tocar reformas já acertadas com líderes europeus. A meta é reduzir a dívida italiana e tirar a economia da estagnação. Mas o novo todo-poderoso italiano poderá enfrentar oposição da esquerda e da direita contra as medidas mais impopulares, sobretudo as que envolvem aposentadoria e mercado de trabalho.

Para Creomar de Souza, professor do Ibmec-DF, mesmo durante a acomodação política do gabinete de conciliação, o primeiro-ministro italiano terá de encarar duros testes na tarefa de salvar a terceira maior economia da Zona do Euro. “A grande dúvida é saber se a mudança de comando chegou em tempo, considerando que o quadro financeiro se agravou muito nos últimos dias”, ressaltou.

Além disso, o momento atual exige mais capital político que financeiro e a boa vontade isolada de países do continente é insuficiente. O economista lembrou que, em duas décadas, o governo Berlusconi dividiu a Itália e ampliou perigosamente o panorama da dívida pública até consagrá-lo como parte do problema. Ontem, em frente à embaixada italiana na capital da Ucrânia, Kiev, ativistas da organização de defesa dos direitos das mulheres Femen ainda comemoravam a saída de Berlusconi.

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