sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

BBC Brasil - Expansão Econômica da China na AL.

Avanço de exportação chinesa à AL aprofunda laços, mas desafia indústria

Paula Adamo Idoeta
Da BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em 8 de dezembro, 2011 - 13:41 (Brasília) 15:41 GMT


Para compensar a queda nas exportações a EUA e UE, China quer vender mais à América Latina
A meta da China de aumentar suas exportações para mercados emergentes como a América Latina é um processo já esperado diante da crise econômica no mundo desenvolvido e traz desafios e perigos para a indústria brasileira, apontam especialistas consultados pela BBC Brasil.
A queda nas exportações chinesas para mercados em crise como EUA e União Europeia fará com que Pequim direcione mais vendas à América Latina e à Ásia, informou o Ministério do Comércio do país na última quarta-feira.



"No ano que vem, acho que enfrentaremos diversos desafios em nossas exportações e importações", disse à imprensa o diretor de comércio exterior do ministério chinês, Wang Shouwen. "Não haverá grandes melhoras na Europa e nos EUA. (...) Mas alguns mercados emergentes e em desenvolvimento estão desfrutando de boas performances econômicas, então vamos dar importância às exportações a esses países."
Para Evaldo Alves, professor de comércio exterior da FGV em São Paulo, o possível avanço das exportações chinesas para o Brasil "apenas acentuaria uma tendência que já é notada há algum tempo".
"Vamos ter mais produtos chineses no mercado brasileiro, mas também vamos exportar mais, porque a China continua com grande dinamismo".
"O lado positivo é a redução do preço de bens industriais (vindos da China) no mercado brasileiro", afirmou à BBC Brasil Creomar de Souza, professor de relações internacionais do Ibmec no Distrito Federal. "O negativo é a grande dificuldade da indústria nacional em acompanhar o ritmo, já que os produtos chineses têm um preço muito mais baixo."
Competitvidade
A competição com os produtos chineses, no entanto, pode ter consequências além do mercado interno. Segundo Souza, os produtos chineses – justamente por causa de sua competitividade – podem tomar mercado da indústria brasileira em locais como México, Argentina e EUA.
A meta chinesa de ampliar mercado na AL é anunciada em momento de retração da indústria brasileira.
Dados de quarta-feira do IBGE apontam que a produção industrial caiu 0,6% em outubro no país em relação a setembro. No comparativo com outubro de 2010, a queda foi de 2,2%.
O comércio internacional em números
Dados do governo chinês apontam que as exportações do país à UE caíram 9% em outubro, em comparação com o mesmo mês em 2010; para os EUA, a queda foi de 5%.
Ainda assim, as vendas externas da China cresceram 15,9%, graças, em parte, à demanda latino-americana.

O Brasil exportou US$ 40,6 bi à China entre janeiro e novembro, 28% a mais que no mesmo período de 2010. Principais produtos: minério de ferro, soja em grão, petróleo bruto
O Brasil importou da China US$ 30,1 bi entre janeiro e novembro (crescimento de 23% em relação a 2010). Principais produtos: aparelhos eletroeletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, químicos e veículos
(*Fonte: Balança comercial brasileira - Ministério do Desenvolvimento)
Ao comentar a estagnação do PIB brasileiro no terceiro trimestre, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que "o quadro atual é de alerta para o setor industrial".
"Se a piora da conjuntura externa dificulta a já acirrada competição para o exportador, a pressão dos produtos importados, paralelamente, reduz a competitividade da indústria brasileira", diz nota da CNI.
Para Alves e Souza, essa pressão só pode ser aliviada com eficiência industrial e, no que diz respeito ao governo, com a redução de impostos ao setor produtivo brasileiro.
'Poder central e burocracia coesa'
Ao mesmo tempo em que vê perigo na desindustrialização brasileira, o economista e ex-presidente do BNDES Carlos Lessa diz que se preocupa mais com o quadro geral: o que chama de um "avanço colonizador" da China.
"É um país com um poder central e uma burocracia leal e coesa, com planos de longo prazo de domínio (global) semelhante ao da Inglaterra do século 19, mas com mais eficiência", opinou.
"A China quer o celeiro do Brasil (a produção de alimentos e outras commodities) para ela."

Brasil exporta principalmente commodities, enquanto importa produtos manufaturados
A China já é o maior parceiro comercial brasileiro e vendeu ao país US$ 30,1 bilhões – principalmente eletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, entre janeiro e novembro, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Já commodities como minério de ferro, soja e petróleo são os principais produtos de exportação brasileiros para o mercado chinês. Entre janeiro e novembro, essas vendas à China totalizaram US$ 40,6 bilhões, 43% a mais que no mesmo período do ano passado e dando ao Brasil um superavit no comércio bilateral.
Esse superavit deriva principalmente do alto preço das commodities nos últimos anos, que beneficiou o Brasil.
Fazendo uma simplificação da balança comercial brasileira, o país exporta basicamente matérias-primas à China, enquanto importa manufaturados.
Ir além disso é outro desafio da indústria brasileira, apontam os analistas, citando empresas como a Embraer e sua dificuldade em operar no mercado chinês.
"É um mercado onde as leis de patentes não são claras e sem regras de livre mercado", disse Souza, do Ibmec.
Abertura
Em contrapartida, do lado chinês, o pedido é por mais abertura no mercado brasileiro, seja pelo fim de barreiras para a compra de terras ou para a venda de veículos importados (sobretaxados com impostos sobre produtos industrializados).

Crise nos países desenvolvidos força relações mais profundas entre emergentes, diz analista
"Os produtos chineses não são a causa da desindustrialização brasileira. O que causa isso é o 'custo Brasil' (em referência à carga tributária elevada e custos burocráticos)", defendeu Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.
"O país deveria usar a receita das commodities para combater isso e dar mais competitividade a sua indústria."
Para Evaldo Alves, todos os desafios desse comércio bilateral terão de ser encarados e negociados cada vez mais, "já que essa relação comercial entre Brasil e países emergentes só tende a aumentar, uma vez que a crise (nos países ricos) ainda vai demorar para ser resolvida".

Um comentário:

  1. Essas desculpas para aumentar impostos e no final das contas prejudicar sempre os cidadãos me irritam muitíssimo.

    A ineficiência da indústria brasileira não deve ser custeada por nós, a exemplo dos automóveis: haviam duas opções, a 1ª era de baixar os impostos para os empresários nacionais e em resposta eles investiriam mais em tecnologia para se tornarem mais eficientes, e a 2ª aumentar os impostos da China, mais eficiente, prejudicando assim toda a população brasileira em favor de uma minoria ineficiente e privilegiada. Logo, a 2ª opção foi escolhida embasada num discurso nacionalista que só nos faz retroceder.

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