terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Folha de São Paulo - Primeiro dia de votação de referendo deixa pelo menos 9 mortos no Egito

Por Diogo Bercito

Os egípcios foram nesta terça-feira às urnas no primeiro dia de votação para seu referendo constitucional.
O pleito, com forte significado político, será encerrado hoje, com a expectativa de culminar com um "sim", o que daria mais legitimidade ao regime militar vigente.
O referendo foi realizado sob o temor de violência no país, com a proteção de 200 mil policiais. Antes da abertura das urnas, houve uma explosão próxima ao Cairo, sem relatos de feridos.
Forças de Segurança fazem revista fora de um colégio eleitoral em Alexandria, no norte do Egito
Durante o dia, ao menos nove pessoas foram mortas em confrontos envolvendo islamitas e as forças de segurança do governo.
O voto à nova Constituição do país servirá de termômetro à aceitação popular em relação ao golpe militar que depôs o presidente Mohammed Mursi, em julho do ano passado, e instituiu o governo interino de Adly Mansur, apoiado pelo Exército.
Desde a deposição de Mursi, ligado à Irmandade Muçulmana, o país tem vivido meses convulsivos de violência e crise social.
A liderança islamita foi perseguida e detida, e seus simpatizantes, mortos em massacres como o da mesquita Rabia al-Adawiya, ocorrido em agosto. A Irmandade Muçulmana anunciou o boicote ao referendo.
Essa é a primeira ida da população egípcia às urnas desde a deposição de Mursi –retirado da Presidência após manifestações populares contra seu mandato, considerado demasiado conservador e também ineficaz.
Entre as exigências dos manifestantes estava a suspensão da Constituição rascunhada em 2012, sob influência islamita, e a elaboração de uma nova Carta. É esse passo que será testado, durante esta semana.
Expatriados já votaram no referendo, entre 8 e 12 de janeiro, com 103 mil votos ao redor do mundo, de acordo com o governo interino.

TEMPORÁRIO

Com o referendo, o Egito deve dar continuidade à transição democrática, anunciando suas eleições parlamentares e presidenciais. Mas será preciso, antes disso, agradar aos diversos setores sociais nesse país.
Parte deles não está satisfeita com a nova Constituição, que exige anuência do Exército para a nomeação do ministro da Defesa, por dois mandatos presidenciais, além de permitir que haja julgamentos de civis em tribunais militares.
Críticos do governo de transição afirmam que o novo texto tem como objetivo fortalecer o chefe das Forças Armadas, general Abdel-Fatah al-Sisi, visto como líder por trás do golpe de Estado, e instituir um regime semelhante ao do ex-ditador Hosni Mubarak, deposto em 2011 no início da chamada Primavera Árabe.
É esperado que Sisi vá anunciar nos próximos dias sua candidatura à Presidência do Egito.
Apesar da expectativa de que a nova Constituição seja aprovada por voto, analistas apontam que será fundamental haver uma grande participação popular nas urnas, para garantir legitimidade ao processo democrático.

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