quinta-feira, 24 de junho de 2010

As eleições Brasileiras.

O processo eleitoral em curso no Brasil permite algumas reflexões interessantes. A primeira delas diz respeito a dificuldade de diferenciar os discursos entre os três principais candidatos. Isto quer dizer, se Serra e Dilma não representam o antagonismo desejado por determinados setores da sociedade em termos analíticos. Pode-se somar a esse quadro o fato de que a candidata Marina Silva pode ser considerada um fato novo mais por sua biografia do que propriamente pelas proposições postas até o presente momento.
Em uma análise pouco mais pormenorizada de cada um desses candidatos, podemos afirmar em alguma medida que: a - Dilma Roussef ainda não possui indentidade própria e muito provavelmente é um desejo do comando de campanha petista que o eleitorado conheça menos de Dilma e a vincule sempre mais ao presidente Lula; b - José Serra tem a grande dificuldade de tornar um discurso técnico e desenvolvimentista em algo intelígivel a grande parte da população e c - Marina Silva tenta vender-se como algo novo saído da indignação popular com a política tradicional.
Analisando o último ator em primeira instância, pode-se afirmar que existem posições conflitantes claras entre o discurso pessoal de Marina Silva(com forte vinculação religiosa) como demonstrado em suas posições de twitter quando do falecimento de Saramago. E as expectativas de uma classe média laica e tolerante que decidiu comprar a candidatura como um meio de engajamento e protesto ao status quo.
Aproveitando a terminologia latina anteriormente citada, nota-se aparentemente que as ruas (termo sempre perigoso e volúvel) percebe José Serra como o candidato de uma situação que não se quer voltar. A vinculação do mesmo com o governo Fernando Henrique Cardoso é algo natural - pela sua atuação como ministro em tal administração - porém, em seu âmbito negativo sempre foi estimulado pelo atual governo.
Tal estratégia, centrada na necessidade vista pelo presidente de reforçar o âmbito plebiscitário da eleição, aparentemente negativa pode tornar-se positiva caso o candidato possa mostrar que esteve presente nas ações positivas do governo FHC e que esas ações se prolongaram no governo Lula. Entretando, vale ressaltar aqui a dificuldade já demonstrada por Serra e seu grupo em transformarem a mensagem do mesmo em algo palátavel às massas.
No concernente a Dilma Roussef, abre-se uma grande interrogação, pois, o seu maior trunfo - o fato de que ela representa a continuidade do momento virtuoso em que o país se encontra - pode tornar-se uma grande armadilha. Explica-se, a medida que os debates sejam necessariamente aprofundados entre os proponentes serão mais claras as semelhanças da mesma com o presidente Lula. Porém, serão também tornadas claras as diferenças entre ambos. E nesse aspecto especificamente, é fato que Dilma carece de uma das principais características do presidente Lula - Carisma.
O atual presidente possivelmente entrará para a história como um dos mais populares mandatários que este país possuiu até o presente momento. E essa popularidade é um mix da situação econômica virtuosa, mas, também da capacidade do presidente de fazer os cidadãos sentirem-se parte de algo maior. Essa aura carismática e paternal, para a infelicidade de Dilma não pode ser transferida automaticamente e isso gera uma pergunta: Conhecer mais de Dilma resultará em ganho ou perda de votos?
Pode-se, portanto, afirmar que o processo eleitoral ainda longe de seu momento mais crítico abre espaço para múltiplos cenários e possibilidades que devem ser acompanhados com muita atenção.

2 comentários:

  1. Sem dúvida nenhuma o início dos debates entre os candidatos à Presidência da República será um ponto crucial na candidatura da “Companheira”, no entanto, apesar da homogeneidade das propostas entre os candidatos, e o risco da desvinculação da sua imagem à do atual Presidente, o perfil mais agressivo da Dilma, aliado à dianteira de quem está na situação, pode ser o diferencial desta para com o candidato José Serra, sabidamente partidário dos anos do Governo FHC.

    Não obstante à memória relativamente recente dos fins da Era FHC, não muito abonadora, há de ser lembrado que o chão que o Governo Lula pisou, e que permitiu o “Companheiro” fazer tudo o que fez, foi construído por aqueles anos passados, dentre alguns de seus louros estão: a reforma da Administração Pública, a implementação do Real, bem como o início da expansão da política externa brasileira, que nos últimos dias adquiriu uma visibilidade a nível mundial (ver http://www.opendemocracy.net/leslie-bethell/brazil-regional-power-global-power ).

    Nessa disputa de quem fez o que no passado, ou o que vai fazer no futuro, os dois candidatos mais fortes para a próxima eleição possuem prós e contras, mas na hora de colocar o voto na urna, ou digitá-lo, a meu ver, sai na frente quem conseguir refrescar melhor a cabeça do eleitorado, e nesse ponto, novamente, a Dilma tem a dianteira.

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  2. Mestre Creomar, seu texto é leve e direto. Explica o cenário brasileiro atual e seus possiveis desdobramentos, de uma maneira que desejo ver feita também pelos jornalistas que cobrem política. Parabéns.

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