quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nota sobre a herança de Chávez


Por Thiago Gehre[1]

Os problemas venezuelanos são típicos de um país latino-americano que tem sido mal administrado há muitos anos. Nos governos anteriores ao de Hugo Chávez se vivia em piores condições sociais. A diferença é que Chávez decidiu utilizar parcela da renda do petróleo para políticas sociais e também para beneficiar outros países da região, especialmente do Caribe e América Central.
 Vale lembrar que Carlos André Perez (CAP) foi impedido de governar por acusações de corrupção, outra mazela da cultura política global. Corrupção é pandêmica e espalhou-se por todo o mundo, só que é mais acentuada em países cujas instituições são mais frágeis. Como típico governante latino é precisa fazer escolhas que agradem tanto o seu grupo de apoio político quanto a população, e que te garantam no poder o máximo de tempo possível.
Esse foi o ponto crucial da gestão de Hugo Chávez: juntar dois projetos, um pessoal que o deixou por 13 anos no poder e o deixaria por mais seis, caso não viesse a falecer; e um projeto de país, de transformação da realidade social e fortalecimento do estado.
É preciso recordar que durante a década de vigência do neoliberalismo irrestrito e nocivo de Margaret Tachter e Ronald Reagan, e que contaminou a administração pública na América Latina, houve um claro enfraquecimento do estado.
Logo, a junção dos projetos pessoal e de pais sustentou Chávez por mais de uma década, sendo algo que não se via há muito tempo na região e com pouquíssimos exemplos dentre as lideranças mundiais. Assim, os problemas deixados como herança para Nicolás Maduro serão conjunturais e relativamente de fácil trato, no curto e médio prazos. Basta que se tenham condições de governabilidade baseadas nas leis e nas instituições.


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[1] Thiago Gehre é Doutor em Relações Internacionais e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o IREL-UnB.

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