sexta-feira, 12 de abril de 2013

O risco da especulação analítica nas RI - Creomar Lima Carvalho de Souza

O Risco da especulação analítica nas RI 

Por Creomar Lima Carvalho De Souza

A política internacional tem suas peculiaridades. Nós que enfrentamos a militância dos estudos em Relações Internacionais somos diariamente bombardeados por uma série de impulsos e informações de todas as fontes. Porém, uma questão sempre se coloca: O que é fundamentado em critério e o que é simplesmente objeto de especulação?
Ultimamente tenho me deparado com um número enorme de leituras acerca da crise na Península Coreana e duas situações me surpreendem: a primeira é o descrédito com o qual sempre se tratou o regime norte-coreano e a segunda é a chuva de especulações acerca de quando acontecerá o referido ataque. 
Debruçando-me sobre os dois elementos anteriormente expostos sou obrigado a fazer uma relação entre os mesmos com o seguinte resultado: não se sabe absolutamente nada sobre o regime norte-coreano. E não se sabe nada sobre o regime, pois, durante anos foi uma opção de Estados e analistas tratarem o mesmo como uma espécie ator circense da política internacional. 
O resultado desta perspectiva faz com que hoje esse vazio informacional gere um sem número de especulações que se vendam como resultados de um padrão. Em outras palavras, se busca um padrão sem possuir informações suficientes para estabelecer o mesmo. 
Toda pesquisa em termos de ciências sociais aplicadas - e as relações internacionais estão inseridas neste campo - necessitam da construção de premissas e do recolhimento de dados para estabelecer cenários minimamente confiáveis.
Nestes termos, tendo em vista o quadro apresentado até o presente momento - o de ignorância acerca das força políticas que compõe o Governo Norte Coreano e suas relações de poder -
observo uma corrida desesperada para entender um ator que sempre foi negligenciado. E aqui surgue outra pergunta: como prever as ações de um ator se eu não conheço seus padrões históricos de ação ou a correlação de interesses que compõe o governo? 
A resposta a esse questionamento pode ser colocada em dois termos: o primeiro é a necessidade de passar a entender o ator e a partir daí gerar algumas respostas orientadores. Já a segunda alternativa, a mais perigosa, é buscar construir a partir de um dado mínimo uma especulação que passará a partir daí a ser reproduzida como verdade para um grande número de atores.
Mais do que entender o que se passa na península coreana esse texto é um alerta a proliferação indiscriminada de especulações. Pois, a especulação em política internacional é comprovadamente mais perigosa que muitos elementos bélicos tradicionais.  

2 comentários:

  1. Oi Creomar! Falei sobre isso há pouco tempo com um colega. Os assuntos internacionais quando são tratados pela grande mídia (Globo, Estadão, FSP e, até mesmo, Carta Capital) sempre têm os mesmos especialistas, seja para qual for o assunto. Se o tema da vez é Coreia do Norte, o especialista em Honduras, Haiti, Guantánamo e Primavera Árabe é rapidamente convocado. E já deixam o aviso: segunda o comentário é sobre a Venezuela. E lá vem o pseudo-especialista-enviesado falar sobre a eleição de Maduro. Nada contra a formação dessas pessoas, mas, qual o arcabouço teórico que elas têm para desempenhar essa função?! Cadê os tantos internacionalistas que são formados todos os anos e que, teoricamente, têm preparo para desenvolver essas análises? O espaço é muito limitado e poucos tentam sair do ordinário e crescer nesse ramo. Área em que os colegas das RI nos Estados Unidos já estão anos à frente. Lá a academia se debruça sobre métodos de análise e compreensão de um determinado assunto e o especialista se torna especialista não por sempre aparecer, mas por ser, de fato, referência no assunto. Mesmo quando o assunto morre! Daqui vinte anos os cursos aqui vão reproduzir os métodos quantitativos que hoje eles tão pesquisando lá. E os mesmos analistas de sempre vão utilizar esses métodos para explicar o mundo. Pois os temas mudam, mas nossa acomodação é praticamente imutável.

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  2. Bruno, acredito que tal questão é ainda mais profunda. Pois, uma questão que me preocupa e muito é a condução dessas posições no que diz respeito à tomada de decisão. Em que medida os especialistas sobre determinado tema ou região são realmente ouvidos?

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