terça-feira, 16 de abril de 2013

Resenha do livro "Por Que os Líderes Mentem?", de John J. Mearsheimer, por Mara Regina dos Santos Ribeiro


MEARSHEIMER, John J. Por que os líderes mentem: toda a verdade sobre as mentiras na política internacional. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

John J. Mearsheimer é professor de ciência política e codiretor do Programa em Política de Segurança Internacional na Universidade de Chicago. Segue a perspectiva realista das Relações Internacionais em todas as suas obras. Teve inúmeros artigos publicados em diversas revistas acadêmicas e em veículos de grande público, como New York Times, Chicago Tribune e London Review of Books. É autor de A tragédia política das grandes potências, vencedor do Joseph Lepgold Book Prize e coautor de The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy.

            Mearsheimer analisa em sua obra o engano como ferramenta essencial na política internacional. E, não mais surpreendente do que desvendar as mais variadas e comuns formas de engano político, ele nos apresenta uma informação ainda mais surpreendente: os Estados não mentem tanto entre si como mentem para o próprio povo. Primeiro, distingue-se as diferentes modalidades de engano, que são três: a mentira, que é quando se inventa informações; a torção, que é quando se distorce uma informação, dando-se ênfase na que lhe convier e a omissão, que é quando não se conta uma verdade completa, selecionando-se as informações a serem repassadas. Já na política internacional, se encontrou pelo menos sete modalidades de blefe internacional: a mentira interestados, difusão do medo, acobertamentos estratégicos, mitificação nacionalista, mentiras liberais, imperialismo social e acobertamentos deploráveis. Dentre os sete, Mearsheimer explica apenas os cinco primeiros, os quais ele considera de maior relevância.
            A mentira interestados ocorre entre as nações e geralmente é utilizado apenas como último recurso em casos específicos.  A consequência de um Estado mentir variadas vezes é que isso pode por em xeque sua sobrevivência internacional e mais: quando ele falar a verdade, não será ouvido e poderá até mesmo ser marginalizados pelos demais membros nas relações internacionais e ter sua história e conduta manchada pelo deslize ao ser pego. A difusão do medo ocorre para o povo quando, por muitas vezes, os representantes políticos acham que seus civis não estão tão sensibilizados a perceberem uma ameaça que está se espalhando ou um perigo iminente.
Tais representantes aumentam o tamanho do perigo da ameaça, tornando-a assustadoramente ameaçadora para conseguirem o apoio político do povo sobre determinadas ações, principalmente aquelas que envolvem o uso da força. Uma consequência da difusão do medo é o descontrole sobre a torção feita aos próprios cidadãos, que pode romper as fronteiras e causar instabilidade e desconfiança internacionais. O acobertamento estratégico acontece para o povo, quando há uma incompetência dos entes políticos internos e que tal assunto possa por em xeque a calmaria interna. Assim sendo, o acobertamento pode também ter reflexos externos para mostrar que internamente tudo ocorre bem e que não há incompetência e ineficiência para impedir atos de ingerência.
A consequência do acobertamento é que os profissionais incompetentes por vezes não são responsabilizados por sua ineficiência e podem até mesmo a continuar o exercício da profissão. O mito nacionalista muitas vezes é influenciado pelo ambiente externo e acontece quando um determinado Estado tenta modificar algumas passagens em sua “história de vida”. Estados mais antigos tem mais facilidade de fazê-lo devido à sua antiguidade enquanto Estados mais recentes tem dificuldade, por ter suas informações reconhecidas de tão novo que é. Ele aparece para engrandecer o Estado em determinado segmento e ocorre geralmente para o povo e para o meio externo; é mais uma torção da realidade do que uma mentira em si. A consequência disso é o autoengano, onde os próprios condutores de tal podem acabar confundindo o real pelo ilusório criado por eles mesmos. E por fim, as mentiras liberais, que mascaram do povo o que se está fazendo de errado ou cruel, mas não somente do povo de um determinado e único estado, mas da sociedade civil internacional.
            As mentiras, para o autor, que envolvem o engano dos nacionais – difusão do medo e acobertamento estratégico – são tidas como as mais perigosas, por envolver uma reprovação civil. Porém, Mearsheimer chega à conclusão de que as mentiras estatais são perdoáveis quando elas alcançam o objetivo pelas quais foram formuladas. Sendo que seu uso é mais comum em tempos de guerra com o objetivo de proteger os cidadãos e enganar o inimigo.
           
Por Mara Regina dos Santos Ribeiro
Discente de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília

2 comentários:

  1. Parabéns pela resenha Mara Regina! Aprimore o esforço e mantenha o gosto pelas coisas internacionais e sua sutileza.

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  2. Parabéns!

    sugiro a leitura da resenha de minha autoria publicada na revista mural internacional;
    http://www.muralinternacional.uerj.br/revista.php?id=8&edi=1

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