quinta-feira, 7 de abril de 2011

Infomoney - Elevação do juro na Europa aumentará crise fiscal, apontam estudiosos

Por: Natália Wagner Rodrigues

InfoMoney

SÃO PAULO – O BCE (Banco Central Europeu) elevou a taxa básica de juro, confirmando a expectativa do mercado, na tentativa de conter a inflação que vem castigando a economia do velho continente. Embora a medida busque ser coerente com um ponto de vista econômico teórico mias ortodoxo, há uma série de contrapartidas há considerar.

De acordo com Creomar Lima Carvalho de Souza, professor de Relações Internacionais do IBMEC/DF, a Europa perdeu a confiabilidade dos investidores, já que desde 2008 vem encontrando sérias dificuldades para superar a crise. A situação se agravou ainda mais com a crise fiscal que acometeu a região. Sendo assim, para o professor, a elevação dos juro pode acentuar ainda mais esse cenário preocupante.

Elevação era necessária
O BCE encerrou um ciclo de 23 meses sem alta dos juros. Para o professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Evaldo Alves, a inflação bateu à porta da Europa – em março a alta dos preços superou o limite de 2% estipulado pelo BCE registrando 2,6% de inflação- e o aumento de preços ocasionado por um choque de commodities (alimentares e energéticas) não deixou outra alternativa. Essa foi a primeira elevação em quase dois anos.

Defendendo a mesma visão, o professor da economia da Trevisan, Alcides Leite, destaca que o BCE tentou postergar ao máximo a subida dos juros, até o ponto em que isso não era mais viável. “Eles esticaram ao máximo, agora não há mais saída porque a situação estava ficando preocupante”, destaca.

O próprio presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, já havia afirmado anteriormente que um aumento era possível, diante do choque de petróleo, mas garantiu que esse não será o início de um ciclo. Porém, essa solução para uma inflação de custos pode também trazer importantes efeitos negativos, a conhecida "faca de dois gumes".

Recuperação ameaçada
Ainda segundo Leite, a decisão do BCE pode conter a recuperação econômica na região. Alves explica que, pelo fato de alguns governos já terem um nível de endividamento acima do limite aceitável, a subida dos juros vai colocar mais pressão à situação fiscal europeia. “Na teoria é bonito, mas na prática a economia [da União Europeia] vai ficar ainda mais exposta à crise fiscal”, avalia Alves, que ressalta o aumento do custo da dívida do governo, decorrente da subida dos juros.

Segundo Creomar, esse decisão apenas “tapa o Sol com a peneira”, uma vez que o problema de alguns países europeus não é só uma questão de crédito. “O BCE terá que unir combate à inflação com crescimento econômico, o que é muito difícil”, afirma.

O problema vai além
O professor da Ibmec ressalta que por trás da crise fiscal e do alto endividamento de alguns países, há uma questão estrutural muito forte. As políticas públicas adotadas pelos países europeus não são mais sustentáveis.

Os Estados não podem mais sustentar o alto padrão de vida que deram aos seus cidadãos. A população europeia está envelhecida e a questão do endividamento deve pesar ainda mais porque não há competitividade econômica e não há grandes inovações que possam reanimar a economia, segundo Creomar. O professor da FGV explica que, como a população trabalha pouco e está acostumada com um alto padrão de vida, será difícil mudar essa mentalidade e conscientizar acerca da necessidade de aumentar a competitividade regional.

Alves ainda acrescenta que para a única saída para a Europa conseguir enfrentar esse aumento de juros, sem afundar mais na estagnação econômica, é o aumento da produtividade. Porém, o professor ressalta: “Não estamos nem ouvindo falar disso por lá”.

O fim da zona do euro?
Para André Perfeito, economista da Gradual, o fim da Zona do Euro é “impensável”. Ele explica que, mesmo que a situação de alguns países como Portugal, Irlanda e Grécia piorar, a Alemanha pode socorrê-los.

O professor Creomar também acredita que esse não deve ser o fim da zona do euro, mesmo porque o que é desvantagens para uns em um momento pode se converter em vantagens no futuro. Ele explica que Portugal, Grécia e Irlanda foram beneficiados pela expansão da Zona do Euro no passado, mas agora passam por uma crise, já que não, por estarem presos à moeda, não podem promover uma depreciação cambial para amenizar os efeitos da crise fiscal.

Creomar ainda ressalta que cada país terá que fazer sua parte para recuperar a Europa. “Todos [os países europeus] terão que se modernizar, ampliar seus parques industriais e achar o melhor nicho de mercado para reverter a situação, não é justo jogar tudo nas costas da Alemanha”, conclui. Além disso, cabe destacar que o euro funciona, além de elemento econômico, como um elemento de união cultural no continente, portanto um colapso teria efeitos ainda mais adversos.

Visão menos otimista tem o mega investidor, Warren Buffett. Ao avaliar um possível colapso da moeda comum, Buffett dá o seu veredito: "Não acho impensável"

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